O chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, acusou o governo do Brasil de tentar “comprar o voto do Uruguai” para impedir que a Venezuela assuma a presidência rotativa do Mercosul. De acordo com reportagem publicada nesta terça-feira (16) pelo jornal El País, de Montevidéu, Novoa informou que o ministro das Relações Exteriores, José Serra, ofereceu ao Uruguai a participação em futuros acordos comerciais que seriam negociados pelo governo golpista de Michel Temer com outros países.
“Não gostamos muito que o chanceler Serra tenha vindo ao Uruguai nos dizer – o fez publicamente, por isso digo – que vinham com a pretensão de suspender a transferência e que, além disso, se fosse suspendida, nos levaria em suas negociações com outros países, como querendo comprar o voto do Uruguai”, declarou Novoa na Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara dos Deputados do Uruguai, na última quarta-feira (10), de acordo com a versão das notas taquigráficas à qual teve acesso o El País.
Acompanhado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Serra chegou ao Uruguai no dia 5 de julho para reunir-se com o presidente Tabaré Vázquez e o chanceler Novoa. Na coletiva de imprensa, Serra revelou que o Brasil faria “uma grande ofensiva” comercial na África subsaariana e no Irã e queria levar o Uruguai – e não todo o Mercosul – como “sócio”. Ao mesmo tempo, Serra pediu ao governo uruguaio que suspendesse a transferência da presidência do Mercosul à Venezuela.
Tal atitude “irritou muito” o presidente Vázquez e o chanceler Novoa. “O presidente disse clara e rotundamente: o Uruguai vai cumprir com a normativa e vai convocar a mudança da presidência” do Mercosul, enfatizou Novoa.
A todo momento, o Rodolfo Nin Novoa deixou claro que o Uruguai entende que a Venezuela “é um legítimo ocupante da presidência pró tempore e, portanto, quando convocar uma reunião o governo uruguaio participará”. A mensagem aos demais sócios do bloco foi clara: “O Uruguai vai estar presente. Se os outros não vão, será responsabilidade deles”.
O chanceler uruguaio também afirmou que os “sócios do Mercosul”, em alusão a Brasil e Paraguai, utilizam argumentos “eminentemente políticos” e têm o objetivo de “fazer bullying” à presidência da Venezuela. “Digo isso com todas as letras. Pulam o jurídico, que é esse livro que estou mostrando, que contém o corpo normativo, e, aduzindo razões que não estão aqui, querem eludir, erodir, fazer bullying à presidência da Venezuela. Essa é a pura verdade”, sublinhou Novoa na comissão.
O governo uruguaio também tomou a decisão de não participar das reuniões sobre esse tema que estão realizando Argentina, Brasil e Paraguai. Para Novoa, o “grave” foi o fato de que o coordenador do Brasil nesse tema, o embaixador Paulo Estivallet de Mesquita, tenha determinado que nenhum representante brasileiro participaria de reuniões convocadas pela Venezuela.
Rodolfo Nin Novoa concordou com o deputado que convocou a reunião da comissão, Opa Pasquet (Partido Colorado), para quem é preciso “salvar o Mercosul”, e garantiu que o Uruguai não permaneceria “de nenhuma maneira” na presidência. “Respeitando as regras, após seis meses iríamos deixa-la”, pontuou.
Confira a reportagem completa [em espanhol] do jornal El País:
http://www.elpais.com.uy/informacion/gobierno-dice-que-brasil-molesto.html
PT na Câmara com El País (Uruguai)