Como num jogo de cartas marcadas, o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (BA), avaliou que a renúncia previamente anunciada de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Presidência da Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira (7), tem por objetivo blindá-lo para salvar seu mandato. “A ideia é que Cunha continue servindo ao governo que ele elegeu. O governo de Michel Temer depende de Eduardo Cunha e de toda a sua base aqui na Câmara. Portanto, sua renúncia não é novidade. Com isso, se intensifica a tentativa do seu grupo de salvar seu mandato; bem como a tentativa de Temer de preservar a base de Cunha como base de sustentação desse governo”, analisou.
Muito embora o governo golpista necessite do apoio de Cunha, o líder petista mostrou que a situação do presidente afastado acabou trazendo transtornos ao Planalto. Florence lembrou que na noite de quarta-feira (6) Michel Temer sofreu o maior revés do seu governo no Plenário da Câmara, já que a base de Eduardo Cunha não garantiu a aprovação da urgência para um projeto de grande interesse do governo. Trata-se de um projeto de lei complementar (PLP 257/16) que define regras para a renegociação das dívidas dos estados e do Distrito Federal com a União por 20 anos.
O teor da proposta que está para ser votada é uma versão piorada do texto que foi negociado com o governo legitimamente eleito da presidenta Dilma Rousseff. Naquela ocasião, o PT havia incluído emendas para garantir os direitos dos servidores públicos estaduais, mas o governo ilegítimo de Temer preparou um relatório que exige que os estados adotem medidas que prejudicam esses servidores. Para o líder do PT, a derrota do requerimento de urgência foi emblemática. “Portanto, todos avaliam, inclusive nós, que essa instabilidade de Cunha – que tentava se manter na Presidência e ao mesmo tempo tentava salvar seu mandato – estava contribuindo para o trabalho da oposição no plenário”, analisou.
Com a renúncia de Cunha da Presidência, Afonso Florence confirmou que o Partido dos Trabalhadores defenderá o nome de algum candidato ou candidata para ocupar a vaga. Segundo o líder, a escolha levará em consideração um programa específico e a busca da unificação da minoria com outros setores da Câmara comprometidos com a autonomia da Casa em relação ao governo interino. A intenção é fazer frente aos ataques e à retirada de conquistas trabalhistas, sociais e previdenciárias.
“Então, de um lado, teremos as candidaturas que são do grupo do chamado ‘Centrão’ ou da antiga oposição, cujo compromisso é com a agenda de retiradas de direitos e de sustentação do golpe. Nós vamos do lado dos que defendem a autonomia da Câmara dos Deputados em relação ao Executivo e a preservação dos direitos sociais e trabalhistas do nosso povo, que estão sendo atacadas. Vamos apresentar uma candidatura do lado de cá”, detalhou.
Golpe – Sobre o processo de impeachment no Senado, Afonso Florence disse que a semana foi decisiva para a confirmação das posições contra o golpe e para que senadores e senadores, ainda com dúvidas sobre algum ponto, pudessem esclarecê-las. Além disso, mostrou que o presidente interino Michel Temer confirmou durante a semana o que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse em conversa gravada ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Segundo o líder, Temer, para surpresa do Brasil, retirou a urgência dos projetos de lei de combate à corrupção, enviados por Dilma Rousseff ao Congresso. A atitude é a comprovação do diálogo em que Jucá disse a Sérgio Machado que o objetivo de tirar Dilma do governo era barrar as investigações sobre corrupção.
“Portanto, na semana em que a presidenta apresentou uma defesa muito robusta no Senado, Michel Temer retirou a urgência dos projetos de combate à corrução, o governo sofreu um revés com uma derrota histórica no plenário da Câmara e Eduardo Cunha renunciou. Considero que há um processo de consolidação de uma expressiva votação no Senado contra o golpe, rejeitando o afastamento definitivo”, concluiu.
PT na Câmara
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Foto: Gustavo Bezerra/PTNACÂMARA