O deputado Bohn Gass (PT-RS) denunciou em plenário a alteração do perfil do educador Paulo Freire, na Wikipedia, com inclusão de parágrafos ofensivos ao patrono da educação brasileira. E tudo feito por meio de um computador do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), órgão ligado à Fazenda. “Ou seja, uma rede sob responsabilidade do Estado brasileiro. É uma vergonha mundial e isso obriga o presidente golpista Michel Temer a dar explicações urgentes: Quem fez as alterações? Que providências foram tomadas?”, cobrou.
Bohn Gass aproveitou para informar que já tomou as providências para apurar “esse crime contra esse grande educador de renome mundial”. O deputado protocolou duas representações, uma no Ministério Público Federal e outra na Polícia Federal, com o objetivo de abrir um processo investigatório para identificação e responsabilização do autor da agressão.
Na avaliação do deputado do PT gaúcho, as alterações foram feitas por um servidor aliado ao golpe que está em curso no Brasil. “Existem coincidências demais entre o pensamento dos golpistas e as modificações feitas no perfil do maior educador do País, de um dos brasileiros mais respeitados do mundo” afirmou.
Bonh Gass fez questão de lembrar que nas passeatas verde-amarelas, “que agora sabemos que foram pagas pelo PMDB, de Temer e de Cunha, e pelo PSDB, de Aécio e de Serra”, havia cartazes dizendo: Chega de doutrinação marxista, fora Paulo Freire. “Olhem o absurdo desses cartazes presentes às manifestações dos coxinhas!”, enfatizou.
O deputado observou que, agora, são esses mesmos termos que aparecem no perfil alterado de Paulo Freire. “Não, não é coincidência. Os parágrafos inseridos são cópias de um texto publicado no site do Instituto Liberal, ou seja, há pistas fartas para se chegar aos responsáveis por essa agressão”, reforçou.
Para Bohn Gass, ou o presidente provisório Michel Temer toma atitude imediata ou autoriza que se acuse que seu governo, “além de ilegítimo, está aparelhando ideologicamente o Estado”.
O parlamentar citou ainda que esse aparelhamento ideológico aparece travestido num projeto de lei apresentado lá no Rio Grande do Sul, sua terra, por um deputado que também apoia o “golpista Temer”. O projeto chama-se Escola sem Partido e tenta impedir que os professores manifestem qualquer posição política.
“Vejam como não é mera coincidência. É o próprio Paulo Freire quem ataca a falsa neutralidade”, afirmou Bohn Gass, citando que em sua obra Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire diz: “Em nome do respeito que devo aos alunos não tenho por que me omitir, por que ocultar minha opção política, assumindo uma neutralidade que não existe. (…) O meu papel, ao contrário, é o de quem testemunha o direto de comparar, de escolher, de romper, de decidir e estimular a assunção deste direito por parte dos educandos”.
Alteração – Foram acrescidas informações que atribuem a Paulo Freire a origem da “doutrinação marxista” nas escolas e universidades. “Aí está uma das origens da nossa já conhecida doutrinação marxista nas escolas e universidades que, em vez de formar cidadãos e profissionais para o crescimento do país, forma soldados dispostos a defender com unhas e dentes o marxismo no meio acadêmico”, versava um dos parágrafos inseridos no principal livro do educador, “Pedagogia do Oprimido”.
No verbete editado, ainda consta que Freire participou da última grande reforma da legislação educacional que resultou em um ensino “atrasado, doutrinário e fraco”.
Vânia Rodrigues
Foto: Salu Parente