O presidente do DEM – antigo PFL -, senador Agripino Maia (RN), é alvo de investigações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O senador, que foi um dos articuladores do golpe e que ocupou a tribuna várias vezes para discursar sobre corrupção, teria realizado operações suspeitas no valor de R$ 15,9 milhões entre dezembro de 2011 e novembro de 2014. Segundo matéria veiculada nesta segunda-feira (13) no Jornal O Globo, a Polícia Federal vê indícios de que o senador do DEM utilizou parentes, assessores e empresas com as quais tem ligação para lavar dinheiro.
As informações integram o inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Agripino Maia para investigar se ele recebeu propina da OAS, construtora investigada na Lava Jato, em troca da liberação de recursos do BNDES para a empreiteira na obra da Arena das Dunas, em Natal, para a Copa de 2014.
Segundo parecer da Polícia Federal inserido no inquérito, a movimentação financeira suspeita do senador do DEM e ex-coordenador de campanha de Aécio Neves, derrotado nas últimas eleições presidenciais, foi realizada “exatamente em épocas de campanhas eleitorais (2010 e 2014), fornecendo mais um indício de que os pedidos de doações eleitorais feitos pelo parlamentar à OAS foram prontamente atendidos, e podem ter-se constituído em forma dissimulada de repasse de propina”.
Uma das movimentações que intrigaram o Coaf foi o saque de R$ 170 mil de uma das contas de Agripino. Cerca de 40 dias depois, o dinheiro foi depositado de volta na mesma conta de forma fracionada. Outra movimentação suspeita foi o depósito em espécie de R$ 90 mil em uma de suas contas.
O deputado Jorge Solla (PT-BA), que participou da CPI da Petrobras, destacou o momento importante que o Brasil vive, no qual se avança na investigação e no combate à corrupção. “Tudo que estamos assistindo só esta sendo possível porque os governos Lula e Dilma investiram e deram autonomia para o Ministério Público e para a Polícia Federal, além de ter criado a Controladoria-Geral da União”. Solla destacou também o que, na sua avaliação, parece ser o fim da seletividade das apurações, “quando só havia investigações de denúncias contra o Partido dos Trabalhadores”.
O deputado baiano alertou, no entanto, que é preciso estar atento para que as apurações avancem e os responsáveis sejam punidos. “Não podemos voltar ao período do engavetador-geral da República ou das blindagens explícitas. Tanto nós parlamentares, como a população precisamos acompanhar e cobrar do Judiciário”, ressaltou.
Indícios – Para a Polícia Federal, os elementos da investigação até agora fornecem “indícios de que, de fato, as obras referentes à Arena das Dunas, entre 2011 e 2014, passaram por diversos entraves perante os órgãos de controle e o próprio banco público financiador do empreendimento, o que corrobora a suspeita de que o senador Agripino Maia efetivamente atuou com a finalidade de auxiliar a empreiteira destinatária do financiamento, na superação dessas dificuldades”. Entre os elementos que confirmam a tese estão diálogos registrados no celular de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.
Os investigadores também estão convencidos de que o doleiro Alberto Youssef e os operadores Rafael Angulo Lopez e Adarico Negromonte Filho foram a Natal em mais de uma oportunidade, entre 2011 e 2014, para abastecer o caixa dois da OAS.
Sérgio Machado – Também em trechos de gravações divulgados pela Folha de S. Paulo, Agripino Maia foi citado em conversas gravadas entre o ex-presidente da Transpetro e delator na Lava Jato, Sérgio Machado, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Na conversa, Machado questiona a Renan: “Quem é que nunca pediu dinheiro? José Agripino, Aécio, Arthur, Aloysio”.
Em outra conversa, ambos citam Agripino como pessoa certa para integrar a cúpula para barrar a Lava Jato. Machado diz que o senador é alguém que “pode ser parceiro”. “Não é possível que ele vá fazer maluquice”, disse o ex-presidente da Transpetro.
Na mesma conversa, Renan respondeu: “O Zé nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra que no próximo encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Eu acho”.
Sigilo – Além de Agripino Maia, tiveram os sigilos quebrados o filho dele, o deputado Felipe Maia (DEM-RN), e de mais 14 pessoas. Os dados já foram encaminhados ao STF e estão sob sigilo.
Outro inquérito – O senador Agripino Maia é alvo de outro inquérito já aberto no STF para investigar se ele recebeu vantagem indevida no valor de R$ 1,5 milhão em 2010. O valor teria sido pago por um empresário interessado em assegurar a execução de um contrato de inspeção veicular ambientar celebrado com o governo do Rio Grande do Norte.
Vânia Rodrigues, com Agências
Foto: Divulgação