“Esquecida” pela justiça e ignorada por setores da mídia brasileira, a Lista de Furnas – esquema de desvio de verbas da Companhia Energética de Minas Gerais para abastecer as eleições de 2002 do PSDB – volta ao centro de debate. Isto porque, nesta semana, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves por participação em suposto esquema fraudulento que ocorreu na Companhia. Segundo a lista do lobista Nilton Monteiro, autenticada pela Polícia Federal, Aécio Neves recebeu R$ 5,5 milhões.
Além do esquema de Furnas, Janot recorreu mais uma vez ao STF, nesta quarta-feira (4), solicitando autorização para abrir um novo inquérito para investigar o presidente do PSDB, senador Aécio Neves. Desta vez o senador é acusado de ter participação direta na tentativa de ocultação de dados da CPI dos Correios, em 2005, que apontava para um suposto esquema de compra de votos – conhecido como Mensalão do PSDB – em troca de apoio parlamentar na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no período em que o Estado era governado pelo tucano Eduardo Azeredo (1995-1999). Caberá ao STF autorizar ou não esses pedidos feitos pela procuradoria.
A deputada Margarida Salomão (PT-MG), conhecedora de longa data das denúncias que envolvem o candidato derrotado do PSDB nas eleições presidenciais de 2014, disse esperar que o STF acate o pedido do procurador e permita que o processo contra Aécio ande. “Ele (processo) certamente não está instalado tardiamente por falta de substância. As alegações com relação a Furnas são velhas, de mais de uma década”, afirmou Margarida.
“É uma coisa sabida em Minas Gerais que o senador Aécio Neves tinha acesso, teve condições – por conta das alianças políticas nacionais – teve oportunidade de fazer indicação da direção (da estatal). As evidências, inclusive, foram vazadas por órgãos de imprensa que são, em geral, simpáticos a ele, demonstrando que, efetivamente, houve propina, desvio de recursos e envio de recursos para contas no exterior”, apontou a deputada.
Para Margarida, o acolhimento tardio das denúncias contra Aécio Neves por parte da PGR, uma vez que se trata de um acervo de denúncias e pedidos de investigações antigas e que afetam figuras públicas de outros partidos, soa como um arranjo para justificar a inclusão do nome do ex-presidente Lula no mesmo processo investigatório.
“Então, de alguma forma, parece que é uma satisfação que está sendo dada por conta das alegações, por exemplo, que estão sendo feitas contra o presidente Lula. Então, eu acho que essa denúncia contra o Aécio ocorre nessa concertação”, disse a petista, fazendo alusão à “coincidência” dos pedidos de investigação de senador Aécio Neves e do ex-presidente Lula.
“Esta do Lula, sim, é mera ilação, mera inferências – não substanciadas. É uma coisa tão ridícula que é sumariada numa expressão ‘não é possível que ele não soubesse’. Ora, por favor, essa reaplicação da teoria do Domínio do Fato é uma violência contra o Estado de Direito e contra os direitos políticos e humanos do cidadão Luiz Inácio Lula da Silva”, defendeu Margarida.
A deputada disse que, como cidadã, ainda tem esperança na instituição STF. “Eu tenho o direito de esperar que o Supremo trate com seriedade denúncias tão graves, para que haja o restabelecimento de equilíbrio nessa grande operação de ‘mãos limpas’ na sociedade brasileira. Que isso alcance os outros partidos, e não fique dirigido de uma forma tão primária contra o PT”, disse esperançosa, a deputada.
Benildes Rodrigues
Foto: Alex Ferreira/Câmara