O deputado Givaldo Vieira (PT-ES), em discurso no plenário da Câmara na madrugada deste sábado (16), fez um alerta direto aos deputados e deputadas que insistem em defender o golpe, questionando-os como gostariam de aparecer na foto da História. “Dependendo do voto, cada deputado escolherá um lado para a foto da História. Os que votarem ‘sim’ farão pose ao lado de Cunha. Eu voto ‘não’, fico com a foto da democracia. O meu país não se rifa num bolão de notas sujas de cem reais. Não vai ter golpe, vai ter luta”.
Ao fazer referência à capa do The New York Times, o parlamentar também perguntou se os deputados queriam envergonhar o Brasil diante do mundo, citando a matéria do jornal com o título “Dilma, honesta, pode ser afastada por criminosos”. “É isso que vocês querem? Tirar o governo de uma pessoa que o mundo inteiro sabe que é do bem para entregar à dupla Temer e ao seu vice-réu, Cunha? Vão passar o governo a um sem-voto?”.
Givaldo lembrou que, na pesquisa DataFolha, Temer teve 2% de preferência para a Presidência, o que reforça sua completa ilegitimidade para ocupar tal lugar. “Temer já traiu Dilma e vai trair vocês que receberam promessas da parte dele. É um traidor. Organizou um acordão com a elite empresarial do País, representada pela Fiesp. O que querem nesse acordão é retirar direitos dos trabalhadores”, alertou Givaldo.
O deputado detalhou ainda pontos significados do programa já divulgado por Temer e que representa um retrocesso em conquistas fundamentais da sociedade brasileira. “Ele fala: ‘vamos ter muitos sacrifícios pela frente’; chama o Bolsa Família de programa de transição, indicando o seu fim; fala do fim do reajuste automático do salário mínimo; fala de corte nos direitos dos aposentados. Temer fez o acordão para aprovar o fim da CLT, vai ser a livre negociação entre patrão e empregado”, elencou.
Givaldo Vieira chamou a atenção também para o fato de Temer não citar em seu pretenso plano qualquer iniciativa de combate à corrupção, deixando transparecer que a outra parte do acordão firmado representa uma proteção para seus aliados corruptos.
Vingança – O deputado Assis Carvalho (PT-PI) lembrou em discurso também na madrugada que o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff nasceu de uma atitude de vingança do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), insatisfeito com a decisão do PT de votar pela admissibilidade do seu processo de cassação no Conselho de Ética. “O PT não aceito fazer essa pactuação, e poucas horas depois Cunha – rancoroso e vingativo – decidiu instalar o processo de impeachment porque não concordamos com essa falcatrua”.
Lembrou ainda o conchavo entre Cunha e Jovair Arantes (PTB-GO), autor do relatório do impeachment. “O relatório foi mais um negociata na calada da noite, porque lhe prometeram [a Jovair] ser o substituto na Presidência da Casa. Então, um processo que nasce nessas condições não tem credibilidade”, detalhou.
Assis Carvalho fez um chamamento ao povo brasileiro, reafirmando a importância das manifestações de rua para evitar o golpe. “Não acredito que nesta Casa tenhamos 342 deputados que sejam capazes de sujar suas mãos. Hoje, foi apresentado mais R$ 52 milhões depositados nas constas de Eduardo Cunha. Não podemos permitir que esse tipo de pessoa seja elevada à condição de vice-presidente desta Nação. Significa punir uma mulher honesta para colocar corruptos no comando desse País, sob o pacto de acabar a Lava-Jato. O povo brasileiro não vai permitir”, afirmou.
Perseguição – O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) fez um retrospecto de toda a perseguição sofrida pela presidenta Dilma Rousseff desde o momento em que ela se reelegeu. “No seu governo, os que defendem o impeachment já pediam a cassação da presidenta Dilma com 15 dias de gestão do seu segundo mandato por crime de responsabilidade. Portanto, mesmo que os companheiros desta Casa não concordem, é uma tentativa de golpe. E mais uma vez a História será implacável com aqueles que propõem o golpe”. O parlamentar perguntou onde estavam os que perseguiram Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. “Todos estão na lata do lixo da História”, ressaltou.
Disse que o povo brasileiro precisa perceber os atrasos já anunciados para o pós-golpe. “O retrocesso tem um nome: ‘Ponte para o futuro’, que na verdade é um viaduto para o atraso”, destacou. Segundo o deputado, a “Ponte para o futuro”, plano anunciado por Temer ainda no ano passado como um projeto de País, propõe romper o Plano Nacional da Educação (PNE), que quer atingir a marca de 12 milhões de jovens nas universidades públicas.
“Os governos Lula e Dilma colocaram nas universidades mais de 6 milhões de jovens. Temer colocou na ‘Ponte para o atraso’ que vai cobrar mensalidade nas universidades. A ‘Ponte para o futuro’, do Michel Temer, propõe cobrar no Sistema Único de Saúde (SUS). A maioria dos deputados se diz municipalista, [mas Temer] propõe desvincular receitas, isso vai desarticular o SUS, o Fundeb, a educação da creche até a universidade”, alertou Reginaldo Lopes.
O deputado criticou ainda os deputados defensores do golpe que sempre apelam para o “cinismo patriótico”, dizendo-se defensores da bandeira brasileira, “que é a bandeira de todos os brasileiros”. “Eu tenho medo é de quem não tem bandeira, tenho medo do discurso apolítico, tenho medo daqueles que tentam o poder sem voto”, disse. “A maioria desse Parlamento, conduzido por um réu, acusado por corrupção, é contra a Constituição de 88, quer rasgá-la, quer o retrocesso, quer o capitalismo mais selvagem, quer romper com os avanços do governo Lula e Dilma”.
PT na Câmara
Foto: Fábio Rodrigues/Agência Brasil