Um grupo de artistas e intelectuais, articulado pelo teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff, entregou nesta quinta-feira (17) à presidente Dilma Rousseff um manifesto em defesa da democracia e da legalidade, contra o impeachment e contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Após a entrega do manifesto, o grupo deu uma entrevista coletiva no Salão Verde da Câmara. Participaram do ato os músicos Chico César, Nelson Sargento e Tico Santa Cruz, o cineasta Luiz Carlos Barreto, o ato Murilo Grossi, o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, entre outros.
Assinam o documento nomes de diversos campos da atividade artística e intelectual, como Camila Pitanga (atriz), Chico Buarque (compositor e escritor), Fábio Konder Comparato (jurista), Fernando Morais (jornalista e escritor), Gregório Duvivier (ator), Hector Babenco (cineasta), Leonardo Boff (teólogo), Letícia Sabatella (atriz), Samuel Pinheiro Guimarães (embaixador), Tico Santa Cruz (músico), Tizuka Yamasaki (cineasta), Wagner Moura (ator) e Ziraldo (cartunista).
O objetivo é entregar o documento nos três poderes. O grupo já o levou ao Palácio do Planalto, onde se reuniu com Dilma e com integrantes da Frente Brasil Popular, que organizou os protestos contra o impeachment nesta quarta-feira 16, e posteriormente à Câmara dos Deputados, onde os intelectuais concederam coletiva.
“Viemos a público repudiar a tentativa de golpe imposta por Eduardo Cunha, por não haver elementos que fundamentem esta atitude, a não ser pelo desespero de quem não consegue explicar o seu comprovado envolvimento com esquemas espúrios de corrupção”, diz trecho do documento.
Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS) o manifesto tem grande significado porque vem de um segmento da população que sempre defendeu a democracia e lutou contra a ditadura. “A classe artística e a intelectualidade sofreram muito durante os 21 anos da ditadura militar. Por isso agora se manifestam em favor da democracia e contra a tentativa de golpe que setores da sociedade tentam implementar no Brasil por meio de um processo de impeachment sem fundamento legal”, afirmou a petista.
Leia a íntegra do manifesto:
MANIFESTO EM DEFESA DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
O Brasil vive um momento histórico em que a legalidade e as instituições democráticas são testadas, o que exige opinião e atitude firme de todos e todas que têm compromisso com a democracia.
Desde as eleições de 2014, vivemos um grande acirramento político que permeia as mais diversas relações humanas e sociais. Essa situação ganhou novos ingredientes a partir da eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados e, de forma especial, após este ser denunciado pelo Ministério Público Federal por seu envolvimento em atos de corrupção, possuindo contas bancárias no exterior e ocultando patrimônio pessoal.
Absolutamente acuado pelas denúncias, pelas fartas provas do seu envolvimento em atos ilícitos e enfrentando manifestações em todo Brasil contra a agenda conservadora e retrógrada do ponto de vista de direitos que lidera, Cunha, que já não tem mais nenhuma legitimidade para presidir a Câmara, decidiu enfrentar o Estado Democrático de Direito. A aceitação de um pedido de impedimento da Presidenta da República no momento em que avança o processo de cassação do deputado é uma atitude revanchista que atenta contra a legalidade e desvia o foco das atenções e das investigações.
Neste sentido, viemos a público repudiar a tentativa de golpe imposta por Eduardo Cunha, por não haver elementos que fundamentem esta atitude, a não ser pelo desespero de quem não consegue explicar o seu comprovado envolvimento com esquemas espúrios de corrupção. Não se trata neste momento de aprovar ou reprovar o governo ou a forma como a Presidenta da República, mas defender a legalidade e a legitimidade das instituições do nosso país.
Por outro lado, defendemos o cumprimento do Regimento da Câmara dos Deputados e da Constituição Federal, ambos instrumentos com fartos elementos que justificam a cassação do mandato de Eduardo Cunha. Caso contrário, toda a classe política e as instituições brasileiras estarão desmoralizadas, por manter no exercício do poder um tirano que utiliza seu cargo de forma irresponsável para manutenção dos seus interesses pessoais.
Apelamos às e aos parlamentares, ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal, autoridades cuidadoras da sanidade da política e da salvaguarda da ordem democrática num Estado de Direito, sem a qual mergulharíamos num caos com consequências políticas imprevisíveis. O Brasil clama pela atuação corajosa e decidida de Vossas Excelências.
Não aceitamos rompimento democrático! Não aceitamos o golpe! Não aceitamos Cunha na presidência da Câmara dos Deputados!
PT na Câmara com Brasil 247
Foto: Gustavo bezerra/PT na Câmara