Em entrevista ao SBT, Lula admite ser candidato em 2018, “se for para evitar desconstrução do projeto”

lula sbtQuem conhece o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia exatamente como ele se comportaria na entrevista concedida ao jornalista Kennedy Alencar, do SBT, exibida na noite de quinta-feira (5). Tranquilo, bem-humorado, fazendo uso da capacidade de falar com as pessoas e impagável em suas metáforas, em momento nenhum se rendeu aos ataques que lhe são feitos ou à saraivada desferida pelo entrevistador. Frente às câmeras, lá estava o velho Lula de sempre.

Os jornais de sexta-feira (6) tratam o assunto com interesse já previsto. Pinçaram o que bem quiseram em suas edições. Deram destaque à declaração contundente “não tenho medo de ser preso” deslocada do contexto. O que ele disse foi: “eu não temo ser preso porque eu duvido que tenha alguém neste país, do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário, pequeno ou grande, que diga que um dia teve uma conversa comigo ilícita. Duvido”.

Quando perguntado se poderia ser candidato em 2018 para embarreirar qualquer possibilidade de retorno da oposição ao Planalto, respondeu que seria, sim, candidato, se tudo o que fez em seu governo estiver em risco e para defender o projeto que fez com que os pobres fossem vistos.

O que significa que, para Lula, a condição para a candidatura seria a eventual ameaça ao projeto de desenvolvimento e inclusão social defendido pelo PT. “Se for apenas para evitar a oposição não precisa nem ser candidato. O importante é defender um projeto político que nós defendemos”, explicou.

“Para defender esse projeto, eu posso ser candidato outra vez. Se houver necessidade de defender um projeto que incluiu milhões e milhões de pessoas, eu estou disposto a ser candidato”, disse o ex-presidente.

Questionado sobre a atual crise econômica que vive o Brasil, defendeu que a presidenta Dilma Rousseff retome o crescimento econômico através de aumentos de impostos ou uma forte política de crédito. “Ninguém tinha dimensão que a crise ia tomar a dimensão que tomou. A presidenta Dilma foi vítima do sucesso do seu mandato. Depois da campanha, percebemos que estava saindo mais dinheiro que entrando”, avalia Lula.

Ao apontar erros da presidente Dilma Rousseff no primeiro mandato, Lula considera que “houve um equívoco, por exemplo, quando não se aumentou, em 2012, o preço da gasolina”. Segundo ele, “nós acumulamos uma inflação que só foi acontecer no segundo mandato da Dilma”.

Lula acha que Dilma não deveria ter feito “tanta desoneração” (redução de impostos para empresas). “Foi um equívoco desonerar. Eu não vejo uma propaganda na televisão agradecendo ao governo pela desoneração. Eu vejo propaganda contra a CPMF.”

Ao ser indagado sobre a solução para a crise econômica, Lula diz: “Ou fazemos um aumento de impostos, como a Dilma está propondo agora a CPMF, ou você faz uma forte política de crédito”. Ele faria “uma política de crédito”. “Eu acho que a presidenta Dilma tem que saber que a roda-gigante da economia tem que voltar a girar”, defende.

Perguntado sobre o volume de casos de corrupção no Brasil que vem sendo revelado, lembrou que tudo isso só está vindo a público porque hoje, ao contrário do que acontecia antes, tudo é investigado, doa a quem doer. “Há um pessimismo maluco, sem nenhuma necessidade”, concluiu.

Lula rebateu críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “O FHC, toda vez que ele tiver que falar de corrupção, ele tem que lembrar da reeleição. (…) Ele tem que lembrar que o único mensalão criado, reconhecido inclusive por deputados do DEM, que disseram que receberam, foi ele. Ele tem que lembrar que nenhum processo dele era investigado. Cadê a pasta cor de rosa, que não foi investigada? O Ministério Público dele se chamava engavetador”, diz Lula.

Ele comparou dados dos primeiros anos do segundo mandato de Dilma e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) como inflação, câmbio e reservas. Ainda sobre Fernando Henrique, Lula disse que ele sofre com o seu sucesso. “O FHC, toda vez que ele tiver que falar de corrupção, ele tem que lembrar da emenda da reeleição. Ele tem que lembrar que o único mensalão criado foi dele. Ele tem que lembrar que nenhum processo dele é investigado. Eu acho que ele tem um problema comigo, que é de soberba”, disparou Lula.

“FHC sofre com o meu sucesso. Nós estamos vivendo um momento de uma acidez política muito grande. As pessoas perderam a tolerância”, continuou o ex-presidente.

O ex-presidente criticou o pessimismo. “Dilma tem três anos (de mandato). Tenho certeza de que ela sabe o que tem de fazer: desenvolvimento. “Ela tem que dar ao povo a certeza de que as pessoas vão ter perspectivas de trabalho. Esse povo não pode continuar esse clima de incerteza, esse pessimismo maluco sem necessidade”.

Giselle Chassot (PT no Senado)
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

 

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