As mentiras e ilações estampadas nas páginas da revista Veja, do último dia 15 de março, foram desmascaradas na CPI do BNDES pelo proprietário da empresa Exergia Brasil, Taiguara Rodrigues dos Santos. O depoente, ouvido como testemunha, negou a existência de contratos para construção de casas pré-moldadas em Angola, no valor de U$ 1 milhão, conforme noticiado pelo semanário.
“Quando fechei o contrato de U$ 1 milhão não teve nada a ver com construção de casas pré-moldada mas, sim, com uma fazenda hidropônica para desenvolver projetos que já estavam prontos”, assegurou Taiguara Santos.
O segundo vice-presidente da CPI, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), perguntou ao depoente se eram verdadeiras as ilações da revista Veja sobre a interferência dele (Taiguara) no contrato de financiamento firmado entre a Odebrecht e o BNDES. “Não conheço ninguém no BNDES. Nunca fui ao BNDES e não tenho Cartão BNDES”, afirmou o depoente.
Zarattini questionou, ainda, se o empresário acreditava que a revista induziu o leitor a acreditar que essa interferência ocorreu em razão de contrato da Exergia Brasil com a empreiteira para a construção da usina hidrelétrica de Cambambe, na Angola, no mesmo período em que a Odebrecht conseguiu empréstimos junto ao BNDES.
“A minha empresa assinou um contrato com a Odebrecht para a construção da hidrelétrica de Cambambe. A gente estava em vários outros canteiros de obras. Não tem como você chegar num canteiro e perguntar de onde saiu o financiamento. Não compete à nossa empresa querer saber de onde vem o recurso”, afirmou Taiguara.
Rotulado pela revista Veja como o “sobrinho do Lula”, o vínculo de parentesco amplamente divulgado pelo semanário foi desmentido pelo Ministério Público Federal (MPF) que disse: “Nos bancos de dados alcançados por esta assessoria (MPF) não foi possível localizar vínculo além do relatado em reportagens de imprensa”.
Durante o depoimento, o deputado Carlos Zarattini fez questão de observar que as intervenções feitas por setores da oposição revelam que a convocação de Taiguara Rodrigues dos Santos feita pela CPI teve como base apenas as ilações da reportagem da revista Veja.
“Nesta CPI o único objetivo é a luta politica. Não há uma preocupação real em investigar corrupção no BNDES. Até porque, não surgiu uma única denúncia de que qualquer financiamento do BNDES foi fruto de favorecimento, propina ou corrupção”, disse Carlos Zarattini.
“A oposição, não tendo o que investigar naquilo que é o foco desta CPI, usa esse espaço para fazer luta politica tentando atacar o ex-presidente Lula. O que estamos vendo aqui na comissão é um espetáculo triste. É ver que nada aqui avançou. Infelizmente, a oposição não está obtendo sucesso porque se baseia em artigos mentirosos, caluniosos que as revistas semanais produzem”, lamentou o deputado.
O petista criticou, ainda, a postura do Ministério Público que, segundo ele, instaurou procedimentos contra o depoente em 18 de maio de 2015 e até o momento não o convocou a depor. “O Ministério Público se embasou única e exclusivamente na Revista Veja. Abriu um procedimento que não tem nenhuma efetividade”, constatou Zarattini.
O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que acompanhou todo o debate, partilha da mesma opinião. “Enquanto esta CPI basear sua pauta nas matérias jornalísticas das revistas semanais, ela estará fadada a não investigar nada, a não provar nada”, avaliou.
Indignado com os caminhos trilhados pela comissão, o petista classificou a oitiva desta quinta-feira como “vergonha”. “É mais um episódio triste que estamos vivendo. É uma vergonha esta audiência”, afirmou Reginaldo Lopes.
“Precisamos fazer uma investigação de fato. Estamos analisando requerimentos sem fato determinado. Isso entristece a todos, inclusive a sociedade brasileira que espera que a CPI produza algo objetivo e concreto”, sugeriu.
Já na avaliação do deputado Paulão (PT-AL), o depoimento de Taiguara dos Santos “não acrescentou, não teve nexo causal. Não trouxe um conteúdo substancial para que a CPI faça um relatório robusto”.
Benildes Rodrigues
Foto: Lúcio Bernardo Jr