Durante o depoimento do ex-presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, à CPI do BNDES, que investiga supostas irregularidades nos contratos do banco, o segundo vice-presidente do colegiado, deputado Carlos Zarattini (PT-SP) criticou o aprofundamento seletivo das investigações da Operação Lava Jato. Para ele, o Ministério Público deveria conectar as apurações da Lava Jato à Operação Castelo de Areia, realizada pela Polícia Federal, em 2009, e que se encontra engavetada no Supremo Tribunal Federal (STF).
A Operação Castelo de Areia foi realizada através de parceria entre a Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo e apurou o superfaturamento de obras públicas e pagamentos de propina a agentes públicos sob o comando da construtora Camargo Corrêa.
“O que existe é uma apuração parcial por parte da Lava Jato. É uma investigação parcial e focada no âmbito nacional. Uma investigação conectada com a Operação Castelo de Areia levaria a contratos firmados entre a empresa Camargo Corrêa e governos estaduais e municipais”, alertou Zarattini.
O parlamentar observou, ainda, que se as investigações da Lava Jato fossem ampliadas, os investigadores poderiam chegar, por exemplo, aos processos que envolvem corrupção na Empresa de Saneamento e Abastecimento (Sabesp) ou na Prefeitura de Jundiaí, no período administrado pelo PSDB.
Para o deputado, se o objetivo da Operação Lava Jato é combater a corrupção e seguir a trilha do dinheiro desviado das obras públicas superfaturadas, um dos caminhos seria o Ministério Público se debruçar sobre o relatório da PF acerca da Castelo de Areia que aponta, entre outros, que a Camargo Corrêa teria pago mais de R$ 200 mil em propina para a construção das Linhas 4 e 5 da Linha Amarela do Metrô de São Paulo.
“Infelizmente a investigação da Lava Jato não expandiu as investigações e não chegou a fundo na Operação Castelo de Areia que revela a relação próxima entre a empreiteira e o governo do Estado de São Paulo”, reiterou Zarattini. O parlamentar se referiu à apreensão feita Polícia Federal, na sede da Camargo Corrêa, de uma planilha em que era descrito o nome do município, projeto, edital, tipo de obra, valor e parlamentar. No item que se refere às obras aparecem 12 delas, todas em São Paulo.
Oposição – O depoimento desta terça-feira do ex-presidente da Camargo Corrêa frustrou a tentativa da oposição de associar a Operação Lava Jato com a CPI do BNDES. Dalton Avancini, um dos ex-diretores da Camargo Corrêa, envolvidos em corrupção na Petrobras e investigado na Operação Lava-Jato, disse desconhecer qualquer esquema de propina envolvendo contratos de financiamento do BNDES com a empreiteira. “Nunca tive conhecimento de pedido de propina junto ao BNDES”, afirmou.
“Os critérios estabelecidos pelo BNDES para financiamentos eram extremamente rigorosos. Os processos eram longos, demorados, rigorosos, que fizeram com que a empresa dispusesse do próprio capital antes de receber os recursos dos projetos”, disse Avancini.
Benildes Rodrigues
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