Esquema na Petrobras era rotina desde 2002, diz ex-vice-presidente da Camargo Corrêa

CPI PETROBRAS 26 05 15

FOTO: GUSTAVO BEZERRA/PT NA CÂMARA

O ex-vice-presidente da Construtora Camargo Corrêa, Eduardo Hermelino Leite afirmou nesta terça-feira (26) durante depoimento na CPI da Petrobras ter conhecimento de esquema de pagamento de propina na estatal desde 2002 – período em que o PSDB estava no comando do País. Ao reconhecer que contribuiu com o esquema de corrupção em contratos firmados com a petrolífera, Eduardo Leite disse que herdou de quem o antecedeu em postos chaves na empreiteira a tarefa de conduzir um esquema que já era praxe de muitos anos, inclusive com a missão de manter todos os procedimentos.

“A partir de setembro de 2009, quando assumi as funções de diretor Comercial de Óleo e Gás na Camargo Corrêa, recebi de meus antecessores na empresa uma situação pré-existente, que consistia em combinações de contratos que foram celebrados através de consultorias a partir de 2002. Herdei uma prática e tive que administrá-la, mantendo os mesmos procedimentos anteriormente adotados”, detalhou Eduardo Leite, que atualmente se encontra em prisão domiciliar, após fechar acordo de delação premiada com a Justiça.

O relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), avaliou que a declaração do depoente reforça o que já havia sido dito por Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras, de que o esquema de pagamento de propina e corrupção é anterior a 2002. “Eduardo Leite disse que deu continuidade a contratos que já estavam assinados. Fica evidente que há um capítulo que não foi aberto, que não foi investigado e que não foi pesquisado”, afirmou o petista. O depoente esclareceu que o pagamento de propina entrava na contabilidade da empresa como consultorias contratadas.

Ao ser perguntando pelo relator por que, ao tomar conhecimento do esquema, não fez um alerta sobre os riscos ou não deu um basta à situação, o depoente afirmou acreditar que qualquer outra pessoa nomeada vice-presidente teria feito o mesmo no seu lugar. “Na verdade, isso era uma metodologia já existente no mercado, na empresa, e eu, no encargo da função, dei continuidade. Posso me arrepender, sim, de não ter deixado a atividade, mas também era muito difícil, eu havia acabado de ser alçado a vice-presidente de uma grande corporação”, respondeu.

Luiz Sérgio insistiu no questionamento acerca da dimensão do esquema dentro da Camargo Corrêa. Eduardo Leite disse que, ao assumir em setembro de 2009, o cargo de diretor Comercial de Óleo e Gás da empresa (função que ocupou até maio de 2011, quando se tornou vice-presidente) lhe foi repassado o que estava ocorrendo no relacionamento com a Petrobras. “Tínhamos contratos em execução e contratos a assinar, que haviam sido obtidos através de arranjos de mercado e de combinação que existiam para pagamento de propinas. E tudo isso já era pré-existente e conduzido por diretores anteriores, que me passaram e eu tive a função de dar continuidade”, reforçou.

Para o deputado Valmir Prascidelli (PT-SP), sub-relator auxiliar da CPI, o depoente deixou explícito que o tipo de combinação entre empresas contratantes e contratadas não começou a partir de 2003. “Isso vinha de muitos anos. Fica evidente que essas pessoas que querem atribuir ao PT esse tipo de responsabilidade precisam refletir sobre as práticas dos governos anteriores, já que muitos deles estão envolvidos em ações dessa natureza”, afirmou Prascidelli.

O deputado Jorge Solla (PT-BA), ao lembrar que o depoente da semana passada (o empresário Dalton Avancini) estava proibido pela Justiça de falar de outros tipos de esquemas de corrupção fora da Petrobras, questionou se Eduardo Leite também estava limitado por determinação do juiz Sérgio Moro a tratar de temas específicos. “Minha delação só tem como escopo a Petrobras”, respondeu.

Solla mais uma vez repudiou a existência de depoimentos que, por determinação da Justiça, pautam-se na seletividade dos fatos. “Em quase todos os depoimentos dos delatores e de outros envolvidos, a gente observa uma memória seletiva e uma decisão da Justiça de obstruir a apuração. Delação premiada foi instituto criado para induzir o réu a falar, não para dizer que o réu pode falar ‘A’, mas está proibido de falar sobre ‘B’”, protestou.

PT na Câmara

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