O risco da generalização

 Brasília, 17 de julho de 2009

Em artigo, Dr. Rosinha trata do risco da generalização das críticas ao Congresso

Em artigo, o deputado Dr. Rosinha (PT-PR) analisa o funcionamento do Congresso Nacional e o risco da generalização das críticas por parte de setores da mídia e da população.

“Mesmo que não concordemos com o comportamento de deputados e senadores, não devemos generalizar dizendo que ‘nenhum presta’. Nos e-mails que recebo, não são poucos os que generalizam. Como em qualquer lugar de trabalho, ou em qualquer profissão, há sempre gente desonesta e gente de bem”, diz o texto. Leia a íntegra:

O risco da generalização

Por Dr. Rosinha

Continuo recebendo milhares de mensagens, via e-mail, por semana. Existem mensagens de todo tipo: críticas, interpelações, sugestões, cobranças, pedidos, xingamentos, etc.

Algumas delas inclusive já foram alvo de um artigo que escrevi. Ultimamente, dois tipos de mensagens predominam: as de ataques à instituição legislativa (o Congresso Nacional) e aos parlamentares (senadores e deputados federais). As mensagens estão parcialmente corretas. Ou parcialmente erradas.

O Congresso de fato não está funcionando bem. Mas trata-se de uma instituição necessária à democracia. Portanto, estão errados os que querem fechá-lo. Caso não esteja cumprindo a sua função, e não está, temos que reformular o funcionamento e cobrar mais compromisso de seus integrantes.

Mesmo que não concordemos com o comportamento de deputados e senadores, não devemos generalizar dizendo que “nenhum presta”. Nos e-mails que recebo, não são poucos os que generalizam. Como em qualquer lugar de trabalho, ou em qualquer profissão, há sempre gente desonesta e gente de bem.

Felizmente não é o caso de todas, mas algumas empresas de comunicação têm promovido ondas de denúncias e ataques sistemáticos contra o Congresso Nacional e contra o conjunto dos parlamentares. Nos últimos tempos, são tantos os ataques que, em conversas entre deputados e senadores, há aqueles que avaliam que o objetivo seria desmoralizar por completo a instituição, fazendo com que pessoas honestas não queiram mais exercer o mandato parlamentar.

De acordo com tal ponto de vista, a continuar nesse ritmo, teríamos no futuro apenas dois tipos de parlamentares: os que desejam um título de deputado ou senador, e aqueles que desejam a negociata. Aí, sim, o Congresso de fato não terá utilidade.

Nas últimas semanas, recebi três e-mails que me chamaram a atenção por questionar a onda de denuncismo generalizado que tomou conta de parte da imprensa. Reproduzo aqui um trecho de um deles. Como não pedi autorização ao autor, cito somente suas iniciais. Escreve o senhor E.S.:

“Venho acompanhando as notícias veiculadas pela mídia, tanto escrita como áudio-visual, e chego a uma conclusão: O Congresso Nacional está refém da mídia. Divulga-se uma noticia e o Congresso é pressionado; e em nome da população os novos representantes do povo, a saber, a mídia […] quer explicações.

Preocupados com a imagem, não sei se pessoal ou realmente do Congresso, os deputados e senadores ocupam tempo que, na verdade, deveria ser gasto com discussão de projetos para melhoria da qualidade de vida do brasileiro. Ficam dando respostas ao profissional da mídia[…]

Vejo uma falta de limites. Geralmente, no trajeto de casa para o trabalho, escuto alguns programas jornalísticos pelo rádio, e em um determinado dia um jornalista intitulava os parlamentares de “quadrilha de ladrões”. Outro dia uma comentarista de política falava a respeito da revogação da Lei de Imprensa, e dizia que não havia necessidade desta lei, porque eles eram cidadãos comuns, e, se por acaso viessem a fazer algum julgamento, poderiam como qualquer civil serem apanhados no Código Civil.

Quero dizer que há diferença de um cidadão comum que faz um julgamento e não tem acesso a veiculo de comunicação, para um cidadão(ã) que se utiliza dos meios de comunicação para apresentar a milhões de brasileiros uma SUPOSIÇÃO ou um JUÍZO acerca de outro.

Estamos em uma época em que a população comum diz: O que repórter disse é verdade, eu vi no programa tal! E assim por diante. Quem já passou por isso vai concordar comigo: Como é difícil conseguir direito de resposta […]”

Não concordo com tudo o que o missivista escreveu, mas posso afirmar que parte da população, à sua maneira, começou a enxergar a manipulação da informação feita por algumas -repito, algumas- empresas de comunicação e alguns jornalistas.

Por fim, esclareço: não defendo o senador José Sarney, nem o deputado do castelo. Ambos são indefensáveis.

*Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR)

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