Política independente – Nilson Mourão

mourao_entrevistaDesde 2003, com Lula, o Brasil passou a ter uma política altiva e independente, deixando as posturas subalternas perante países como os EUA. Uma conduta equilibrada, pautada pela defesa dos interesses nacionais, levou o país a outro patamar.
Rompemos com a política “tira-sapatos”, adquirimos respeitabilidade. O país passou a ser convidado a reuniões do G-8 e do G-20 financeiro, e está na origem do G-20 da OMC. Tornou-se, de fato, um player internacional. Sem abrir mão de parcerias tradicionais, intensificou as relações econômicas e comerciais com os países do Sul, entre eles o Irã.

Neste cenário, são descabidas as críticas da oposição brasileira à aproximação com o Irã, na mesma toada do governo dos EUA. Problemas entre EUA/Irã devem ser resolvidos pelas duas partes, embora o Brasil possa ser canal de diálogo. Rechaçamos a política do big stick dos EUA contra o Irã, a partir de suposições sobre um programa nuclear de fins militares, com base nas mesmas fontes que fizeram os falsos relatórios que levaram à invasão do Iraque em 2003. O Brasil não irá se curvar automaticamente à posição anti-Irã e, mesmo com possível consenso mundial em torno da aplicação de punições, entendemos que esta decisão pode ser completamente contraproducente.

O programa nuclear civil iraniano foi submetido, nos últimos anos, às inspeções regulares da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), conforme preconiza o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), ratificado pelo Irã. Entretanto, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU questionam o Irã a partir dos compromissos do TNP, mas são os primeiros a desrespeitá-lo. Membros de um condomínio fechado e exclusivo criado há 65 anos, querem ainda definir os rumos do mundo. Não só não desmantelaram seus arsenais nucleares como ainda fabricam mais artefatos que podem levar o mundo à hecatombe.

O Brasil adota a posição correta. Aposta na negociação diplomática e nos mecanismos de decisão multilaterais. Temos também um programa nuclear para fins pacíficos e tecnologia de ultracentrífugas. O recente fortalecimento do protagonismo internacional do Brasil e sua atitude insofismável em prol do desarmamento (assegurado constitucionalmente e em vários tratados internacionais), o qualifica para intervir positivamente no assunto. O Brasil é contra a bomba nuclear e o próprio presidente Lula já disse que não concordará com o governo iraniano, caso este decida ampliar seu programa nuclear para um enriquecimento de urânio acima de 20%. Esse recado deve ser reiterado na visita de Lula a Teerã, em maio, quando vai tratar de nossos interesses.

As relações Brasil/Irã estão abaixo das potencialidades. Há afinidades em termos de agenda global e perspectivas de incremento da cooperação em diferentes áreas. Nos anos de 2006 e 2007, o Irã foi o principal mercado de exportação do Brasil no Oriente Médio e, para este ano, espera-se uma recuperação. O Irã é o 6 º mercado consumidor de exportações decorrentes do agronegócio brasileiro.

Lula, portanto, está certo em recepcionar no Brasil as lideranças do Irã e visitá-las em maio, apesar de todas as pressões. Afinal, o governo dos Estados Unidos não nos consulta, nem admite pressões externas, quando realiza sua agenda internacional. A soberania é válida para todos.

NILSON MOURÃO é deputado federal (PT-AC)

 

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