Em ato marcado pela emoção, nesta quarta-feira (17) na Câmara, mais de 400 pessoas, entre militantes e parlamentares, em sua maioria mulheres, repudiaram as ofensas de Jair Bolsonaro (PP-RJ) à deputada Maria do Rosário (PT-RS), feitas na semana passada, e firmaram compromisso de lutar “até o fim” pela cassação do parlamentar em 2015. Na semana passada, Bolsonaro disse, na tribuna da Câmara, que não estupraria Maria do Rosário porque ela não merece.
A manifestação encheu o auditório Nereu Ramos e foi organizada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e por várias entidades e secretarias de mulheres de partidos de esquerda. No momento em que Maria do Rosário chegou ao local do evento, todas as mulheres vestiram uma blusa com a frase “Fora Bolsonaro”, gesto que levou a ex-ministra dos Direitos Humanos às lágrimas.
Para Maria do Rosário, as mulheres conquistaram “leis contra a violência, como a Lei Maria da Penha”, mas agora é necessário conquistar “a cultura que dá fim à violência” que ocorre cotidianamente no País. “Nenhuma pessoa merece ser vítima de qualquer tipo de violência e muito menos da violência mais abominável que pode haver, o estupro, que destrói a alma, a dignidade e toda a condição humana de um ser. Ninguém tem autorização para promover esse crime hediondo. Nós lutamos por um Brasil sem violência e quem deve dar o primeiro exemplo nesse sentido é o Congresso Nacional”, afirmou a deputada gaúcha, que se disse confiante na decisão que o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara tomará sobre o caso.
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) também se mostrou otimista com a possibilidade de cassação de Bolsonaro. “Se a sociedade brasileira quiser, poderemos conseguir a cassação do mandato do deputado. Nós não podemos ter alguém que deveria representar os interesses do povo protagonizando uma situação como essa. Não é a primeira vez que ele age dessa forma e, como nunca recebeu uma punição, ele pensa que pode sempre cometer esse tipo de ofensa. Mas desta vez o caso é ainda mais grave”, argumentou Benedita, que se disse incomodada com o silêncio e a omissão dos partidos consevadores como PSDB, DEM e PPS, cujos parlamentares, salvo exceções pontuais, não se manifestaram sobre o caso.
Quem também acredita na perda de mandato de Bolsonaro é a deputada Margarida Salomão (PT-MG), especialmente por conta da pressão da sociedade. “Vejo na sociedade uma reação promissora. Mesmo alguns setores mais conservadores estão buscando demonstrar que não têm cumplicidade com essa selvageria e isso é uma coisa positiva. O fato de essa selvageria ter ocorrido na tribuna da Câmara, desrespeitando o exercício parlamentar, é um elemento agravante. Isso também está sintonizado com outros sinais importantes, como o crescimento da avaliação positiva do governo Dilma e a pesquisa que aponta o ex-presidente Lula como o melhor presidente da história do Brasil, que mostram que a sociedade brasileira está farta dessa direita desavergonhada e cafajeste”, destacou Margarida.
Também participaram do ato as deputadas Erika Kokay (PT-DF), Fátima Bezerra (PT-RN) e Iara Bernardi (PT-SP), bem como os deputados Amauri Teixeira (PT-BA) e Renato Simões (PT-SP). Além do Conselho de Ética da Câmara, Bolsonaro foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Maria do Rosário e o Ministério Público Federal (MPF) acatou a denúncia feita pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos.
Rogério Tomaz Jr.
Foto: Rogério Tomaz Jr./PT na Câmara