Pequena cidade do Piauí já conquistou quase 300 medalhas em 18 anos de participação na Olimpíada de Matemática, graças a uma bem-sucedida gestão da educação pela prefeitura, que criou as condições necessárias para os estudantes desenvolverem seus talentos
Cocal dos Alves, pequeno município no interior do Piauí, de pouco mais de 6 mil habitantes, é o grande destaque nacional pelo desempenho dos seus alunos na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas e Privadas (OBMEP), realizada anualmente. A edição deste ano teve a participação de mais de 18 milhões de jovens, desde o 6º ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio, matriculados em 55.300 escolas públicas e privadas de quase todos os 5.645 municípios brasileiros.
Cocal dos Alves fica a 300 km de Teresina e hoje é conhecida como “capital da matemática” pelo fato de seus estudantes já terem conquistado quase 300 medalhas em 18 anos de participação na olimpíada.
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O prestígio da pequena cidade piauiense se deve, em grande parte, ao modo petista de governar. Uma bem-sucedida gestão da educação por parte da prefeitura abriu o espaço necessário para os estudantes explorarem seus talentos e aprenderem cada vez mais.
Não por simples coincidência, entre 2016 a 2018, na gestão do prefeito petista Osmar de Sousa Vieira, os estudantes de Cocal conquistaram 22 medalhas de ouro, com expressivo salto para 55 condecorações douradas, além de outras 101 medalhas de prata e 143 de bronze. Osmar foi reeleito em 2020, e seu sucessor é outro petista, Wodson Vieira, recentemente eleito com 70% dos votos,
Última edição da olimpíada
Em sua 19ª edição, a OBMEP foi realizada neste sábado (19), quando foram aplicadas provas da segunda fase em escolas de todo o Brasil para 900 mil estudantes inscritos. Na divulgação dos resultados serão entregues 8.450 medalhas, além de 50 mil menções honrosas a alunos de escolas públicas e privadas que participaram da competição.
Entre as 55.300 escolas que inscreveram alunos para a olimpíada, o Centro Estadual de Tempo Integral Augustinho Brandão, em Cocal dos Alves, destaca-se com nota 6,5, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Primeiro lugar, no Piauí, o resultado divulgado pelo Ministério da Educação coloca esta instituição como “vitrine” nacional em planejamento na elaboração das estratégias para o ensino.
O Centro Estadual de Tempo Integral Augustinho Brandão, que investe em aulas preparatórias e revisões para a OBMEP, é responsável por grande parte das conquistas dos alunos de Cocal dos Alves, em Piauí.
Apoio e incentivo municipal, mais o esforço dos professores e engajamento dos alunos constituem o tripé fundamental para o sucesso nas competições. Para o professor Antônio Amaral “o segredo está na dedicação dos alunos e na crença de que podem alcançar grandes resultados”.
Entre as muitas histórias de medalhistas, está a de Rickelmy de Brito Pereira, de 23 anos, um estudante que conquistou uma bolsa e se formou em Matemática. Depoism ele voltou para a mesma escola em que estudou, mas desta vez, como professor (veja mais abaixo as histórias).
Escolas campeãs
Quase todas as medalhas em Cocal dos Alvos foram conquistadas por alunos do Centro Estadual de Tempo Integral Augustinho Brandão (Ceti Augustinho Brandão), mas outras duas escolas municipais também já tiveram campeões: a Unidade Escolar Teotônio Ferreira Brandão e a Escola Municipal Rosemira Siqueira Cardoso.
Os estudantes da escola Augustinho Brandão começaram a participar da Obmep já na primeira edição, em 2005. Antônio Amaral na época era o único professor de matemática da cidade, e relembra que só ficou sabendo da prova porque trabalhava na prefeitura.
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A iniciativa já começou dando certo, mas naquele primeiro momento, nem todos os estudantes embarcaram no desafio. “Poucos foram os alunos que aderiram no começo, mas esses poucos conseguiram conquistar duas medalhas de prata e uma de bronze”, relembrou o professor Amaral.
O resultado foi inspirador. Na edição de 2006 veio a primeira medalha de ouro, conquistada por Sandoel Vieira, um estudante que havia recebido uma menção honrosa em 2005. A partir daí, os estudantes da cidade conquistaram medalhas de ouro em todas as edições da Obmep, com exceção de 2008.
Preparação
O trabalho de preparação para a Obmep se tornou uma política da escola Augustinho Brandão, desde 2010. O professor passou a dedicar uma aula por semana para a preparação, e nos anos seguintes, a fazer revisões aos sábados, de forma voluntária.
Para ele, o esforço dos próprios estudantes também tem sido chave para os bons resultados. “É um esforço deles, até porque eles costumam ser bons em todas as disciplinas, mas fico muito feliz em contribuir de alguma forma nas conquistas da Obmep”, conta o professor Raimundo.
Segundo o diretor da escola, Darkson Vieira, o esforço dos professores e os exemplos dos colegas veteranos foi o que sedimentou nos alunos a certeza na matemática como um caminho para a universidade e para a realização de sonhos.
“O grau de maturidade dos alunos é tão grande em relação a isso que eles sabem que a preparação em si para a Obmep vai potencializar os estudos, que vão conseguir uma nota 900 no Enem, que vão passar no curso que eles quiserem”, comentou o diretor.
O colégio Augustinho Brandão recebe alunos do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, enquanto a escolas municipais Rosemira Siqueira Cardoso oferta a Educação Infantil, de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, e a Teotônio Ferreira Brandão conta com os anos finais (6º ao 9º) do Ensino Fundamental.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Cocal dos Alves era de 6.386 pessoas no Censo de 2022. A cidade, que fica a 281 km da capital Teresina, era um povoado de Cocal, cidade vizinha, até ser emancipada em 1995.
Mas, a partir de 2003, quando os alunos das primeiras turmas do Ceti Augustinho Brandão começaram a conquistar vagas em vestibulares, eles passaram a enxergar futuro no município.
Assim, sair de Cocal dos Alves em busca de emprego não foi necessário para Rickelmy de Brito Pereira, de 23 anos. Ele foi três vezes campeão da Obmep, nos anos de 2016, 2017 e 2018. Com as medalhas, ele conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), pertinho de casa. Ao concluir a graduação de licenciatura em matemática, ele retornou ao Ceti Augustinho Brandão, mas dessa vez como professor da disciplina.
