Símbolo de uma das mais avançadas legislações mundiais, com foco na proteção à mulher vítima de violência doméstica e familiar – Lei 11.340/06 -, a farmacêutica bioquímica Maria da Penha foi incluída, na semana passada, no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, após receber ameaças e ataques virtuais de grupos da extrema direita.
Por meio da disseminação de fake news sobre Maria da Penha, que reforçam uma visão fantasiosa de que teria sofrido um assalto, e não sido vítima de tentativas de feminicídio pelo ex-marido, Marco Antonio Heredia Viveros, a extrema direita revitimiza uma mulher que foi vítima de dupla tentativa de feminicídio. A notícia chocante correu o Brasil.
“É inaceitável que Maria da Penha esteja passando por esse processo de revitimização ainda hoje no Brasil, 18 anos após ter emprestado seu nome a uma das leis mais importantes do mundo para a prevenção e o enfrentamento à violência doméstica e familiar contra mulheres”, afirmou.
No X, a presidenta do PT e deputada federal (PT-PR), Gleisi Hoffmann, expressou solidariedade à Maria da Penha.
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Minha solidariedade a companheira Maria da Penha, novamente vítima de ataques da extrema-direita. Ela, que ficou paraplégica após sofrer violência doméstica e que empresta seu nome para uma das leis mais importantes do Brasil, agora está sendo ameaçada pela escória da sociedade,…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) June 7, 2024
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Para a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, esse caso de difamação é resultado de uma sociedade machista e misógina, que delega às mulheres a tarefa de seguir comprovando as violências que sofreram nas mãos de seus atuais ou ex-companheiros, mesmo após eles terem sido julgados e condenados.
Também no X, Cida Gonçalves destacou a importância de Maria da Penha na luta contra o feminicídio: “Maria da Penha é símbolo de resistência e avanço na luta pelos direitos das mulheres. E isso inclui preservar sua história e memória. Outro passo fundamental nessa direção é que a residência de Maria da Penha vai virar um memorial, com apoio do governo do estado.”
Hj Maria da Penha foi incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. É inaceitável que ela esteja sendo revitimizada 18 anos após ter dado o nome a uma das leis + importantes do mundo p/ prevenir e enfrentar a violência doméstica e familiar contra mulheres +
— Cida Gonçalves (@CidaMulheres) June 7, 2024
Construção de memorial
Segundo o Ministério das Mulheres, o governo do Ceará declarou, no último dia 3, como patrimônio histórico do Estado, a casa onde residiu Maria da Penha. No Diário Oficial, o governo reconhece a importância e relevância do imóvel, localizado em Fortaleza, para a criação do Memorial Maria da Penha, para atuar na preservação e valorização da memória e da luta histórica dela, “que transformou sua dor em propósito de vida até os dias de hoje”, diz o documento.
O pedido de reconhecimento foi feito por Cida Gonçalves ao governador Elmano de Freitas e à vice-governadora e secretária das Mulheres do Estado do Ceará, Jade Romero, sendo a criação do memorial uma reivindicação histórica de Maria da Penha e dos movimentos de mulheres e feministas, além de recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
O objetivo é atribuir um novo significado à casa, diante da importância da memória coletiva e individual, “na formação de uma sociedade mais justa e igualitária para as mulheres”, explica o decreto. Símbolo de resistência e avanço na luta pelos direitos das mulheres, Maria da Penha foi vítima de duas tentativas de feminicídio, além de outras agressões que vão além da violência física.
O caso resultou na aprovação da Lei que leva seu nome, em 2006, após o Brasil ser condenado, em 2002, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, por negligência e omissão em relação a este e outros casos de violência doméstica.
Extrema direita fortalece a misoginia
É sabido que, com a ascensão da extrema direita no Brasil, mulheres e meninas se tornaram cada vez mais vítimas da violência de gênero. Infelizmente, guiados por um modelo de pensamento que busca tornar a mulher submissa ao patriarcado, uma parcela dos homens segue defendendo a violência como método para impor o medo e um pretenso respeito às mulheres; a misoginia tornou-se idioma comum na extrema direita.
Exemplo desse cenário desolador é que, em novembro do ano passado, relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que os homicídios femininos continuam subindo: os feminicídios tiveram crescimento de 2,6% em 2023 quando comparado com o mesmo período do ano anterior, e os estupros e estupros de vulnerável apresentaram crescimento de 14,9%.
Por mais que existam políticas públicas com foco no enfrentamento à violência familiar e doméstica, e há uma notória mudança de postura deste governo em relação ao anterior, é urgente a adoção de uma mudança e transformação cultural da sociedade sobre o respeito à vida de mulheres e crianças.
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Da Redação Elas por Elas, com informações do Ministério das Mulheres e da Agência Brasil