Para o economista Arminio Fraga, uma redução na segunda maior taxa de juros do mundo, a brasileira, seria um “fiasco”, pois levaria à “desconfiança” do mercado e ao consequente aumento da inflação. Como Campos Neto, ele induz o medo às taxas de juros mais baixas e civilizadas e prevê aumento da inflação, caso a política monetária seja afrouxada.
Como dissemos, é um jogo de cartas marcadas entre o “mercado financeiro” (os rentistas) e os economistas ortodoxos, que têm aversão ao crescimento e ao emprego, vistos como fatores que aumentam a inflação.
Na realidade, tanto Campos Neto quanto Armínio Fraga fazem parte de um mundo ideológico anacrônico, viúvas de uma ortodoxia que a maioria dos países desenvolvidos abandonou há tempos.
Nem o FMI é mais tão ortodoxo, como era. Em seu seu World Economic Outlook, de 2020, o FMI recomendou, ante a crise, a suspensão temporária das regras fiscais, taxas de juro reduzidas e impostos progressivos sobre os mais ricos (sobre faixas de renda mais altas, grandes fortunas, ganhos de capital, e patrimônio), bem como mudanças na tributação que garantam que as empresas paguem impostos proporcionais à lucratividade.
O mundo inteiro, hoje, está mais protecionista e “intervencionista”.
Como bem assinalou Willy C. Shih, em artigo publicado na liberal Harvard Business Review, intitulado “A nova era da política industrial está aqui”, : “governos de todo o mundo estão intervindo cada vez mais no setor privado por meio de políticas industriais projetadas para ajudar os setores domésticos a alcançar metas que os mercados sozinhos provavelmente não alcançarão.”
Segundo o FMI, são mais de 2,5 mil medidas de política industrial já implementadas globalmente. Portanto, o empenho nessas políticas é geral.
Tais políticas não se limitam a oferecer subsídios e empréstimos significativos, mas também estabelecem tarifas protetivas e regras de conteúdo doméstico, como as previstas no Crédito Fiscal Federal de Produção Industrial Avançada da Lei de Redução da Inflação nos EUA.
Aquele velho Consenso de Washington, ortodoxo e neoliberal, no qual Campos Neto e Armínio Fraga ainda acreditam, não existe mais. O que existe agora é um novo Consenso de Washington, que aposta em política industrial, protecionismo e grandes investimentos estatais para a competitividade e a superação da crise. Também aposta em taxas de juros baixas e em redução das dívidas pela via do crescimento e do aumento das receitas.
O Brasil de Lula tenta acompanhar esse novo mundo, apesar das obsoletas apostas em contrário de Campos Neto e Armínio Fraga. Estamos no rumo certo.
Como disse o economista Paulo Galas, “Os indicadores econômicos brasileiros estão melhores do que nos últimos dez anos. Temos o desemprego na mínima, inflação controlada e um crescimento robusto”.
Ademais, temos reservas de US$ 355 bilhões e estamos fazendo mais US$ 100 bilhões de superávit, um dos cinco maiores do mundo.
Isso é muito importante. Segundo o economista Michael Hudson, as grandes crises hiperinflacionárias foram causadas por carência de moedas fortes, não por gastos excessivos. Foi assim na Alemanha da década de 20. Foi assim no Brasil dos anos 80 e 90. Foi e é assim na Argentina de ontem e hoje.
O Brasil, graças ao PT, é hoje credor internacional. Não há chance de haver um descontrole inflacionário significativo. O PT sepultou a causa última da hiperinflação.
Assim, o grande fiasco é se apostar no desemprego, na paralisia econômica, nas taxas de juro estratosféricas e na mediocridade das ambições.
O grande fiasco é se apostar contra o Brasil e seu povo.
Lindbergh Farias é deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro
Artigo publicado no Brasil 247