O maior crime ambiental do mundo perpetrado pela Braskem em Maceió é um dos exemplos mais chocantes de negligência corporativa, um desrespeito flagrante à vida e ao ambiente. Não é apenas um desastre localizado, mas uma catástrofe que reverbera por toda a região, impactando milhares de vidas e minando a saúde socioeconômica de comunidades inteiras. O desdém demonstrado pela Braskem em relação à população atingida é absurdo, tanto quanto as consequências desse desastre, que não se limitam a casas perdidas ou a danos materiais; são vidas desfeitas, sonhos desmoronados e a estrutura social dilacerada. Laços de família, amizade e religião, fundamentais para o tecido dessas comunidades, foram severamente abalados.
Mas não há dúvida de que a Braskem, além de irresponsável, foi ultrajante – para não dizer afrontosa – ao cobrar as escrituras dos imóveis indenizados. Uma afronta ao bom senso e à ética.
Essa atitude, aparentemente inconcebível para alguns no momento, é uma estratégia predatória em longo prazo. Ao se apossar das áreas indenizadas, a empresa abre caminho para se tornar a maior proprietária de terras em Maceió, possivelmente vislumbrando loteamentos de alto padrão no futuro. Essa tática não apenas carece de sensibilidade, mas é uma afronta ética, perpetuando o sofrimento das vítimas ao invés de oferecer um genuíno processo de reparação.
A postura da Braskem em relação às escrituras dos imóveis indenizados é não só revoltante, mas um tapa na cara da justiça e da ética. É uma ação que vai muito além do simples descaso; é um movimento predatório, uma estratégia calculada para transformar a tragédia em oportunidade de lucro futuro. É revoltante testemunhar uma empresa responsável por causar tamanho dano tentar lucrar ainda mais com a desgraça alheia. Não bastasse a destruição ambiental e social, agora vislumbram o enriquecimento à custa da perda e do sofrimento das vítimas.
Se houve falhas processuais no passado, no quesito da proteção dos direitos das comunidades afetadas, agora, mais do que nunca, é hora da reparação devida. A população atingida diretamente pela operação criminosa da Braskem – lamentavelmente sob as vistas turvas de quem deveria ter agido com correção no caso – não pode ficar apenas a amargar as consequências de atitudes nefastas. A impunidade dos responsáveis por essa tragédia representa não apenas uma falha no sistema de justiça, mas também um descaso brutal diante do sofrimento das famílias afetadas. Enquanto estas enfrentam a batalha por indenizações justas, buscam desesperadamente um lampejo de esperança para reconstruir as vidas que foram dilaceradas.
É tempo de agir e de agir com firmeza. Exigimos que esse acordo ultrajante seja revisto, o quanto antes. Principalmente na arrumação feita para que a Prefeitura de Maceió comemorasse, aos quatro cantos, a conquista R$ 1,7 bilhão dos cofres da Braskem. Dinheiro esse que está servindo para cadeiras e balanços instagramáveis à beira mar de Maceió, enquanto a população vítima desse crime sente de forma cruel a dor mais que doída da alma, do descaso e da prevaricação dos gestores públicos.
Que as autoridades ajam com a urgência necessária e que a Braskem seja responsabilizada de forma adequada, não apenas financeiramente, mas também moralmente, por suas ações. Não podemos permitir que a ganância corporativa triunfe sobre o sofrimento humano.
Paulão (PT-AL) é deputado federal
Publicado originalmente na Revista Fórum