Em artigo, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) fala da dor pela prisão de seu pai, José Dirceu, mas mostra esperança por dias melhores e mais justos. “Como bons marinheiros, passaremos por este momento difícil e reencontraremos o sol e novos horizontes. Sabemos que precisamos aceitar grandes provações para que a verdadeira revolução aconteça e beneficie a todos”, diz o texto, que foi publicado na Folha de S. Paulo.
Leia a íntegra:
O carinho e a atitude política do meu pai, José Dirceu, me tornaram um homem apaixonado pela minha família e pelas causas coletivas.
Infelizmente, entre imagens de encontros felizes e de movimentos sociais, teremos no álbum da memória da nossa família recordações do sofrimento que estamos vivendo. Passamos por uma tormenta de pressão midiática e todas as suas consequências, não só meu pai, mas também seus companheiros, a esquerda, o PT e todo um projeto político.
Meu pai está preso desde novembro sem a garantia de seu direito de trabalhar, previsto em sua condenação a regime semiaberto.
Tenho clareza de que, no final, prevalecerá a verdade, mas temo o caminho que estamos seguindo, com decisões tiranas com as quais os poderes legítimos estão perdendo a imparcialidade e a independência.
A última atitude autoritária e injustificada do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, foi a de revogar, sem que tenha sido provocado por recurso, a decisão do ministro Ricardo Lewandowski que determinava a análise imediata do pedido de meu pai para trabalhar fora do presídio da Papuda, em Brasília.
Além de incomum, a decisão soa como inaceitável perseguição e repercute de maneira negativa inclusive entre seus colegas no Supremo, já que invalidou a de um substituto de forma monocrática, sem submetê-la a plenário.
Arbitrariedades poderiam até ser comuns na ditadura militar, mas agora, em tempos de democracia, são inadmissíveis! Mas não perco o entusiasmo; ao contrário, sou motivado a continuar na luta pelo apoio de gente de bem. São amigos, dirigentes partidários e militantes do PT, representantes de movimentos sociais e cidadãos comuns que reconhecem a história de meu pai e não o abandonarão nunca.
Prova disso são as doações para o pagamento da multa quase milionária que lhe foi imposta. Muitos companheiros têm mostrado solidariedade. Milhares de brasileiros oferecem mais do que a sua contribuição financeira, mas um gesto de humanidade e consciência política.
Somos muito gratos e nos sentimos imensamente mais seguros por sabermos que estamos agindo numa corrente e que juntos vamos vencer todas essas injustiças.
Tenho orgulho do meu pai! Só um homem muito forte tem coragem de se manter em pé, com punho cerrado e de cabeça erguida em meio a um bombardeio que já dura oito anos, culminando agora com a sua prisão. Justo ele, que tanto lutou pela liberdade política social e econômica de todo um povo, vê seu direito de liberdade, novamente, sendo restringido de maneira cruel.
Como bons marinheiros, passaremos por este momento difícil e reencontraremos o sol e novos horizontes. Sabemos que precisamos aceitar grandes provações para que a verdadeira revolução aconteça e beneficie a todos.
Tenho certeza de que essa parte triste na história da nossa família será, mais uma vez, uma grande contribuição do meu pai para o Brasil. Mais uma lição de que o “Zé guerreiro, do povo brasileiro!” não vira a página sem resolver tudo o que precisa e não desiste de suas lutas jamais.
Publicado em 20/02/2014 na Folha de São Paulo.