Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) unem-se a outros cientistas sociais para denunciar o fenômeno que já se vê largamente nos lares e ruas do país. A inação do desgoverno Bolsonaro para adotar políticas de proteção de famílias mais pobres desde o início da pandemia agravou a crise sanitária com uma crise socioeconômica, fazendo a pobreza infantil atingir níveis recordes em 2021.
Produzido pelo Data Social: Laboratório de desigualdades, pobreza e mercado de trabalho, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, o relatório ‘Pobreza Infantil no Brasil’ captou a variação da taxa de pobreza entre crianças de até seis anos. Fase considerada a “primeira idade”.
Os critérios utilizados pelos pesquisadores são os de Paridade do Poder de Compra (PPC), definidos pelo Banco Mundial. Em valores mensais de 2021, a linha de pobreza é de R$465 per capita e a linha de extrema pobreza, de R$160 per capita.
Os dados sobre a população em geral revelam que a taxa de pobreza subiu de 23,1% para 28,3% entre 2020 e 2021 – maior nível da série histórica, iniciada em 2012. O índice de pobreza extrema avançou de 5,3% para 8,2%, maior patamar em uma década. E as crianças foram ainda mais afetadas.
Se em 2019 a taxa de pobreza entre as crianças era de 41,5%, em 2021 ela chegou a 44,7%, outro recorde na década. A alta foi de 22,6% na passagem de 2020 para 2021. Em termos absolutos, o número aumentou 1,4 milhão – de 6,4 milhões para 7,8 milhões – batendo mais um recorde. O percentual de crianças em situação de pobreza extrema subiu de 11,7% para 12,7% no mesmo período, atingindo 2,2 milhões de crianças.
A diferença, afirmam os pesquisadores, se deve ao fato de as crianças estarem mais concentradas na base da pirâmide social. Andre Salata, professor da Escola de Humanidades da PUCRS, ressalta que 64,8% das crianças de até seis ano de idade vivem em domicílios que estão entre os 40% mais pobres do país, e somente 4,4% moram nos domicílios que compõem a faixa dos 10% mais ricos. Ou seja, as crianças estão sobrerepresentadas na base da pirâmide social.
Cortes no auxílio emergencial fizeram pobreza aumentar
“Em 2020, em função do auxílio emergencial, a pobreza e a extrema pobreza tiveram queda. Mas, em 2021, voltaram rapidamente e atingiram patamares piores do que os anteriores”, constata o professor Ely José de Mattos. “Os níveis de pobreza que observamos hoje no Brasil acendem um importante alerta.”
“A exposição à pobreza monetária e as demais privações a ela associadas, nessa faixa etária que é a mais importante para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e não cognitivas de uma pessoa, é algo grave, que traz prejuízos irreversíveis e que comprometem não só o potencial da pessoa e de seus descendentes, mas também o potencial de desenvolvimento econômico do país”, complementa a professora da Escola de Negócios da PUCRS Izete Pengo Bagolin.
Os pesquisadores consideram que falta ao Auxílio Brasil criado por Bolsonaro a focalização – critério que considera os diferentes perfis e necessidades das famílias atendidas. “Precisamos de um programa robusto e que tenha sustentabilidade”, avalia Salata.
Da Redação da Agência PT, com informações da PUCRS