O deputado Luiz Alberto (PT-BA), presidente da Frente Parlamentar Mista pela Igualdade Racial e em Defesa dos Quilombolas, analisa em artigo o fenômeno chamado de “Rolezinhos”, que vem ocorrendo em São Paulo e repercutindo em todo o país. O texto foi publicado na edição de quarta-feira (29), no jornal A Tarde. Leia a íntegra:
“Após a triste notícia da morte do líder sul africano, Nelson Mandela, que lutou pelo fim do regime de apartheid na África do Sul, fomos surpreendidos no Brasil com a polêmica em torno dos “rolezinhos” – encontros marcados por jovens da periferia, na maioria negros, nos Shoppings de São Paulo. Um fenômeno que tomou proporções nacionais e têm provocado manifestações hostis e abusivas por parte da elite conservadora do país, evidenciando, a partir do cerceamento da circulação de jovens nesses espaços, práticas de segregação expressas.
Os chamados rolezinhos são uma manifestação peculiar de jovens negros das periferias que ocupam tal espaço público, com o desejo de se divertir, “badalar”, “curtir”, namorar, “dar um rolê”. É uma iniciativa político-cultural em que a simples presença física de pessoas negras, em um lugar no qual elas não são esperadas, é suficiente para deflagrar os mais absurdos sentimentos de pânico e violência por parte dos empresários e usuários do setor.
Nos últimos 10 anos, as políticas econômicas de incentivo ao varejo e a valorização do salário mínimo permitiram aos “rolezeiros”, integrantes da nova classe trabalhadora, acessar um espaço que antes lhes era proibido e, subjetivamente, representava segurança às elites.
Trata-se de um fenômeno em que setores que consomem nos shoopings sentem-se ameaçados pelas pessoas que, nas suas avaliações, não deveriam acessar ou consumir em lugares tidos como de maiores preços e maior prestígio social. São reações que envolvem discriminação racial e de classe e que explicitam o ressentimento daqueles que não suportam a construção de uma sociedade com dignidade.
O Governo Federal e a Prefeitura de São Paulo não agiram como costumeiramente agiam os governos de tradição autoritária. Ao invés de atender à demanda por repressão – dos jornais conservadores, donos de shopping e até do Judiciário, que restringiu o acesso desses jovens através de liminar – convocaram seus assessores diretos nas áreas de juventude, cultura e igualdade racial e afirmaram o fenômeno dos rolezinhos como manifestações culturais da juventude da periferia e condenaram a criminalização do movimento e as posturas racistas.
“As manifestações são pacíficas. Os problemas são derivados da reação de pessoas brancas que frequentam esses lugares e se assustam com a presença dos jovens. Uma parcela da sociedade não quer a presença deles em determinados lugares”, disse com acerto a intelectual negra e ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, despertando o furor de articulistas como os jornalistas Reinaldo Azevedo e Claudio Humberto. Este último, chegou a chamá-la de “anta”, num desespero típico de quem não suporta conviver na democracia. Atentam contra a honra da ministra porque não se conformam com a presença das mulheres e dos negros nos espaços de poder.
Neste episódio o desafio é enfrentar o racismo e seguir por meio da garantia de direitos e oportunidades para juventude através de iniciativas exitosas como o Plano de Prevenção à Violência contra Juventude Negra, o Juventude Viva. Os rolezinhos denunciam a face perversa de um tipo de exclusão que persiste no país e que precisa ser enfrentada. É necessário continuar lutando para que tenhamos uma juventude negra viva e orgulhosa.
Luiz Alberto
Deputado Federal (PT/BA)