Artigo do Líder do PT na Câmara, deputado federal Reginaldo Lopes, no jornal O Tempo se posiciona contra a mineração no maior patrimônio paisagístico da região
O principal cartão-postal de Belo Horizonte, a serra do Curral, corre o risco de virar um gigantesco buraco. Uma absurda decisão do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) autorizou a mineração naquela área. A aprovação aconteceu após 18 horas de reunião virtual, e foi concretizada por volta das três da manhã, quando a sala já estava sem a presença de representantes da sociedade civil, que se manifestaram contra a liberação do projeto de destruição ambiental.
Trata-se de uma medida para atender aos interesses do capital e da lógica predatória das mineradoras que transformam regiões de nosso Estado em paisagem lunar, e, no caso específico, de uma insanidade e desrespeito aos mineiros, em especial a população de Belo Horizonte.
A serra do Curral compõe o maior patrimônio paisagístico e cultural da região da capital mineira. Faz parte da história da cidade e tem importante papel ambiental. Guarda vegetação nativa excepcional, tem várias e importantes nascentes de água que abastecem Belo Horizonte e é espaço para vida de dezenas de espécies de animais silvestres. O avanço da mineração pela serra seria danoso também pela poeira ocasionada pela atividade, abalando a saúde dos belo-horizontinos e dos moradores dos municípios vizinhos.
A decisão do Copam gerou um importante movimento de reação. Já houve mobilizações e, paralelamente, medidas judiciais, em conjunto com o Ministério Público, para evitar a concretização da tragédia.
Neste momento, é importante toda forma de pressão sobre o governo estadual e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), de modo a consolidar o tombamento que protegerá a serra do Curral da ganância desenfreada do projeto da Tamisa, que prevê a instalação do Complexo Minerário Serra do Taquaril em uma área equivalente a 1.200 campos de futebol, na região da fazenda Ana Cruz, próxima ao pico Belo Horizonte.
O projeto representa interesses de setores da sociedade que agem como se o lucro de acionistas fosse a prioridade número 1 da civilização humana. Total irresponsabilidade e falta de compromisso e respeito com as pessoas e o meio ambiente.
A decisão estapafúrdia pode ser barrada se for garantido o tombamento de todo o conjunto da serra do Curral, em nível estadual, pois já é tombada em níveis federal e municipal. Com isso, será garantida a preservação da icônica serra, que tem enorme valor afetivo para o povo mineiro. Nem na ditadura militar conseguiu-se destruir a serra, pois houve reação dos mineiros.
É louvável a iniciativa de artistas e intelectuais brasileiros que estão se manifestando contra a destruição da serra. A mobilização de toda a sociedade é vital para barrar o projeto minerário, que ocorre num momento em que a sociedade brasileira se depara com os governos federal e estadual que estimulam a destruição ambiental em todos os biomas. A serra do Curral é do povo mineiro e deve permanecer intocada, para o bem e os interesses coletivos.
Publicado originalmente no Jornal “O Tempo”