Alta de 3,13% em relação a fevereiro se deve principalmente à influência das atividades de refino de combustíveis e produção de alimentos, aponta o IBGE.
Após dois recordes anuais consecutivos – em 2020 (19,40%) e 2021 (28,39%) – a inflação de “porta de fábrica” ameaça a indústria mais uma vez. O Índice de Preços ao Produtor (IPP) divulgado nesta quinta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acelerou para 3,13% em março, após subir 0,54% em fevereiro. O resultado acumulado em 12 meses é de 18,31%.
Nos primeiros três meses deste ano, os preços para a indústria, descontados impostos e fretes, subiram 4,93%, abaixo do verificado no primeiro trimestre de 2021 (13,92%). “Naquela ocasião, os preços aumentaram em função da retomada das atividades econômicas em uma cadeia produtiva com desarranjo, além do aumento do dólar e do barril de petróleo”, explica o gerente do IPP, Manuel Campos. “Em 2022, também estamos com a influência do barril de petróleo, porém, o dólar segurou, com uma desvalorização de 4,4% em relação ao real em março.”
Embora a oscilação tenha sido mais baixa, a conjuntura mundial faz com que a perspectiva seja de alta pressão sobre os custos da indústria nos próximos meses. No relatório Perspectiva do Mercado de Commodities, o Banco Mundial projeta que elementos externos continuarão pressionando a inflação brasileira por mais três anos.
A instituição avalia que o mundo enfrenta o maior choque de preços de commodities desde os anos 1970, agravado pelas restrições ao comércio de alimentos, combustíveis e fertilizantes devido ao conflito na Europa. Despojado das políticas públicas de segurança alimentar dos governos petistas, sujeito à dolarização dos preços dos combustíveis e dependente de insumos importados, após o desmonte das fábricas de fertilizantes da Petrobras, o Brasil ganha por um lado e perde muito por outro.
Enquanto exportadores de commodities lucram com a escalada global de preços, as fábricas brasileiras sofrem com custos cada vez mais altos dos insumos importados. Sintomaticamente, a falta ou o alto custo de matéria prima é o principal problema citado por 46,7% dos empresários entrevistados para o estudo ‘Desempenho Econômico da Indústria da Construção’, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Entre as 24 atividades das indústrias extrativas e da transformação pesquisadas pelo IBGE, 16 apresentaram alta em março. As maiores influências vieram de refino de petróleo e biocombustíveis (1,23 ponto percentual), alimentos (0,71 p.p.), indústrias extrativas (0,61 p.p.) e outros produtos químicos (0,57 p.p.). “Essas quatro atividades responderam por 3,12 p.p, praticamente todo o índice”, ressalta o gerente do IPP.
Petróleo, alimentos e fertilizantes puxam a carestia
O economista avalia que a aceleração do IPP em março se deu muito em função dos custos e do movimento internacional, a começar pelo preço do barril de petróleo. “Quando aumenta o preço do barril, aumenta o preço dos derivados. Os preços do setor de refino de petróleo e biocombustíveis aumentaram em 10,84% em março, com destaque para o óleo diesel e gasolina”, enumera o pesquisador.
“Além disso, também aumentam os preços nas indústrias extrativas, pois o óleo bruto de petróleo é uma commodity com preço cotado no mercado internacional”, prossegue Campos. Em março, os preços nas indústrias extrativas sofreram aumento de 10,69%, na terceira alta consecutiva.
No caso da indústria de alimentos, houve aumentos nos preços das carnes de aves, resíduos de soja e leite. “A variação do setor alimentar foi de 3,01% e este é o setor de maior peso na pesquisa, aproximadamente 23%”, aponta o economista.
O setor de outros produtos químicos teve alta de preços de 5,75%, maior salto desde outubro de 2021, quando alcançou 6,42%. “Os resultados observados estão ligados principalmente aos preços internacionais, com impacto nos custos de aquisição das matérias-primas, especialmente dos produtos ligados a adubos e herbicidas, que foram responsáveis por mais de 90% do aumento do setor”, destaca Campos.
Redação da Agência PT, com Agência IBGE