Após revelações bombásticas feitas pelo deputado Luis Miranda e seu irmão, o servidor Luis Ricardo, à CPI da Covid, na sexta-feira (25), a comissão prossegue nesta semana colhendo novos depoimentos para descobrir crimes e apontar responsabilidades na morte de mais de meio milhão de brasileiros neste último ano de pandemia. Nos próximos dias, serão ouvidos o deputado estadual Fausto Vieira dos Santos Junior, relator de uma CPI na Assembleia Legislativa do Amazonas, o empresário Carlos Wizard e Francisco Emerson Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, empresa envolvida no escândalo de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin.
Os irmãos Miranda apontaram uma série de irregularidades no Ministério da Saúde no contrato de compra e no recibo apresentado pela Precisa – que representa a fabricante Bharat Biotech – à pasta, em março. Além disso, Luis Ricardo relatou uma pressão incomum para dar seguimento ao negócio com uma vacina sequer aprovada pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, ainda assim, mais cara do que a média das outras vacinas. O valor negociado foi de U$ 15 a unidade. O contrato previa a compra de 20 milhões de doses por R$ 1,6 bilhão.
Miranda revelou que o líder do governo na Câmara Ricardo Barros estaria por trás do esquema e que o próprio Bolsonaro sabia do fato, conforme o presidente teria relatado em reunião com ele. No encontro, Bolsonaro foi alertado sobre os crimes, de acordo com o depoimento de Miranda, mas nada fez. No final de semana, o deputado declarou à Folha que o esquema na Saúde pode ser “muito maior”.
“Se existir algo realmente ilegal, não é só nessa vacina [Covaxin], é na pasta toda. O presidente Bolsonaro demonstra claramente que não tem controle sobre essa pasta”, afirmou. De acordo com o deputado, o diretor de logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, “o homem que dá as cartas”, foi colocado no cargo por indicação de Ricardo Barros. Tanto Dias quanto Barros devem ser chamados à CPI. A comissão deve votar os requerimentos de convocação dos dois nesta terça-feira (29).
Miranda disse ainda ao jornal que, se a CPI decidir fazer uma reunião fechada, seu irmão, Luis Ricardo, teria outras informações importantes a passar aos senadores. “Meu irmão não quer fazer denúncia, porque, pela forma como o Palácio agiu, qualquer informação que ele der, que porventura não se prove lá na frente, vão tentar colocar uma denunciação caluniosa”, justificou Miranda.
No fim de semana, o senador Ranfolfe Rodrigues afirmou que vai apresentar nesta segunda notícia-crime contra Bolsonaro por prevaricação. “Estamos diante do seguinte fato: um servidor público concursado e seu irmão, deputado federal, levam ao presidente da República a notícia de que tem um crime de corrupção em curso. O presidente da República informa que tem conhecimento do autor e que se trata do seu líder na Câmara dos Deputados. Mesmo comunicado, o presidente da República não toma nenhuma providência, não instaura inquérito, não pede investigação, nada”, disse Ranfolfe, em vídeo divulgado nas redes sociais.
Novos depoimentos
Nesta terça, a comissão ouvirá o deputado estadual Fausto Vieira dos Santos Junior, que é relator de uma CPI instalada no Amazonas para investigar crimes e omissões de autoridades durante a pandemia, especialmente em janeiro, quando a rede hospitalar entrou em colapso e dezenas de pessoas morreram por falta de oxigênio.
Na quarta (30), o empresário fujão Carlos Wizard finalmente prestará depoimento à CPI. Wizard é um apontado como um dos integrantes do chamado gabinete paralelo e ferrenho defensor do tratamento precoce da Covid-19 com medicamentos ineficazes contra a doença. Os senadores querem desvendar quem está por trás dos negócios milionários fechados com a venda de cloroquina no país.
Precisa
Outro depoimento quente será o do dono da Precisa, Francisco Maximiano. A empresa está no centro do esquema de corrupção de Bolsonaro. Segundo apurou reportagem do Estadão, os contratos da Precisa com o governo federal cresceram mais de 6.000% na administração Bolsonaro. Antes do contrato astronômico de R$ 1,6 bilhão, a empresa fechava negócios mais modestos: um deles custou à Saúde R$ 27,4 milhões, pagos na compra de preservativos femininos.
Ainda de acordo com o jornal, no atual governo, o empresário Maximiano também passou a ter acesso a ministérios, ao BNDES e à embaixada do Brasil na Índia.
Redação da Agência PT, com informações de Folha e Estadão