A oitiva do ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo, na CPI da Covid, que esteve no comando da pasta durante a crise do oxigênio, no começo do ano, foi marcada pela confirmação do descaso do governo federal com o combate à covid-19. Campêllo confirmou, no depoimento de hoje (15), a omissão do governo Bolsonaro na assistência ao estado, além de apontar para a obsessão em tentar promover o uso de cloroquina; medicamento comprovadamente ineficaz contra o coronavírus.
Assim como os demais depoimentos da CPI da Covid, este teve grande repercussão nas redes sociais. Chegou, mais uma vez, a entrar nos assuntos mais comentados do Twitter, com grande peso das críticas ao governo Bolsonaro. “Gravíssimo! Campelo afirmou agora na CPI que mandou ofício solicitando presença ostensiva do Ministério da Saúde no Amazonas em 31 de dezembro. O ex-secretário revelou também que ligou para Pazuello e passou a mandar ofícios diariamente com pedidos de ajuda”, apontou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
CPI DA PANDEMIA – Marcellus Campelo (ex-secretário de Saúde do Amazonas) https://t.co/eXP283CMNZ
— PCdoB 🇧🇷 (@PCdoB_Oficial) June 15, 2021
O parlamentar petista, Helder Salomão (ES), também se mostrou indignado com a falta de respostas do governo relatadas pelo depoente. “Ex-secretário de saúde do Amazonas diz na CPI que ligou para Pazuello e enviou e-mails para o ex-ministro pedindo socorro para o estado”, apontou.
Alertas
A RBA, meses antes do colapso do sistema de saúde em Manaus, noticiou uma série de alertas sobre a iminência da falta de oxigênio hospitalar no estado. Alertas que foram enviados semanalmente por especialistas, incluindo pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Todos ignorados pelo governador do Amazonas, o aliado de Bolsonaro Wilsom Lima (PSC), e pelo governo federal.
A deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann (PR), lembrou que tanto o Ministério da Saúde como o governo do Amazonas foram alertados. “Documento enviado ao Ministério da Saúde apontava colapso iminente em Manaus um mês antes do ocorrido. O que houve foi negligência deliberada. CPI da Covid mostra como o governo Bolsonaro agiu pra deixar o povo morrer, a tal imunidade de rebanho, como se o povo fosse gado.”
Entre os movimentos do bolsonarismo para impedir o combate à covid-19 em Manaus, está uma série de tuites e manifestações de parlamentares aliados do presidente, incluindo um de seus filhos, o deputado estadual Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Com o anúncio de medidas de lockdown na capital amazonense, a dias do fim do ano passado, a base do presidente se mobilizou para impedir as medidas restritivas e conseguiu. O governador voltou atrás em seu decreto de isolamento, em janeiro de 2021, com consequências trágicas.
O biólogo e divulgador científico Atila Iamarino lembrou do descaso e disse ser “desesperador” acompanhar a CPI da Covid. “Que agonia de ver a CPI discutindo a falta de oxigênio em Manaus como se fosse uma força da natureza isolada. Manter tudo aberto com as pessoas e o vírus circulando foi o que gerou os casos, o que gerou as internações, o que gerou a demanda. Essa outra ponta também é fundamental.”
Traidores
O governador do Amazonas foi eleito na onda do bolsonarismo. Afeto do presidente, aceitou a tese da imunidade de rebanho contra a covid. Também foi naquele estado que a base do presidente apostou na distribuição em massa de cloroquina. A estratégia levou o Amazonas à maior taxa de mortalidade por covid-19 do país. Se fosse uma nação, teria os piores índices do mundo. Após a realidade se impor, o Planalto abandonou Lima.
A traição de Bolsonaro, ao tentar se desvincular do fracasso que estimulou, foi destacada pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). “A tática dos bolsonaristas é jogar aos leões o aliado de ontem. Marcos Rogério (senador membro da CPI da ‘tropa de choque’ do presidente) está acusando o governo do Amazonas de crimes contra a humanidade, exatamente o que a CPI já provou por A + B que o governo Bolsonaro cometeu. O desespero é grande, a falta de caráter é ainda maior.”
Crime contra o povo
Por fim, o senador membro da CPI da Covid Rogério Carvalho (PT-SE) sentenciou: “Essa CPI tem que indiciar ou, pelo menos encaminhar para indiciar, o principal responsável e promotor dessa pandemia, que não é o Osmar Terra. O mentor tem um grande chefe. E o grande chefe dessa situação que a gente está vivendo com quase quinhentos mil mortos chama-se Jair Messias Bolsonaro. E ele deve ser indiciado por crime contra a humanidade, por crime contra o povo”.
Rede Brasil Atual