Ao retomar os depoimentos de testemunhas nesta terça-feira (1º), ouvindo a médica infectologista Nise Yamaguchi, a CPI da Covid começa agora a apurar quem auxiliou Jair Bolsonaro a colocar em prática a criminosa gestão da pandemia do coronavírus, que já matou mais de 460 mil brasileiros. Conforme apontam documentos que a Casa Civil da Presidência da República teve de entregar à Comissão Parlamentar de Inquérito, Nise seria uma das integrantes desse grupo.
As evidências são de que Bolsonaro – após decidir que ignoraria as recomendações científicas para priorizar a economia e condenar, assim, centenas de milhares de brasileiros à morte – passou a se cercar de pessoas que o apoiariam. Dessa forma, passou a não ouvir nem mesmo o Ministério da Saúde, preferindo tomar as decisões com não especialistas ou médicos que tinham o discurso que lhe interessava.
Nise, que chegou a ser afastada do Hospital Albert Einstein após afirmar que a cloroquina era capaz de evitar a Covid-19, foi uma das que serviu aos interesses do atual presidente. Outro médico que se prestou a esse papel foi o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que diversas vezes minimizou a gravidade da pandemia, atacou medidas de isolamento social e defendeu abertamente a imunidade de rebanho sem vacina.
Além disso, Bolsonaro usou figuras como o ex-assessor especial do governo Arthur Weintraub para aproximar do governo outras pessoas que apoiariam seu projeto genocida. A Weintraub, que Bolsonaro chamava de “porra louca”
(veja vídeo abaixo), coube a tarefa de buscar argumentos em favor da cloroquina e identificar os médicos defensores da droga.
Em outras palavras, o atual presidente preferiu trabalhar com um conjunto de pessoas articuladas por um “porra louca” do que levar em conta o que diziam centenas de estudos publicados nas principais revistas científicas, a OMS e seus dois primeiros ministros da Saúde. Por que ele agiria assim? Pelo mesmo motivo que chamou a Covid-19 de “gripezinha”, promoveu aglomerações, recusou vacinas e foi à Justiça para coibir as medidas de isolamento: implementar a imunidade de rebanho sem vacina.
Exclusivo 🚨 Vídeos levantam suspeita de que Arthur Weintraub, ex-assessor presidencial, teria – sob orientação de Jair Bolsonaro – coordenado o “ministério paralelo” da saúde em 2020. À época, Arthur defendeu a mudança na bula da Cloroquina citada na #CPIdaCovid
🎥: @sampancher pic.twitter.com/V50q5wVLp0
— Metrópoles (de 🏠) (@Metropoles) May 22, 2021
Corresponsáveis
Segundo os senadores do Partido dos Trabalhadores que integram a CPI, Humberto Costa (PT-PE) e Rogério Carvalho (PT-SE), a comissão começa a buscar os cúmplices de Bolsonaro no genocídio, após coletar fortes evidências dos crimes de Bolsonaro.
“Já foi confirmada a omissão do governo Bolsonaro na condução da pandemia”, disse Humberto Costa em entrevista à TV Senado, destacando os episódios de recusa de vacinas como os mais escandalosos. “Amanhã vai ser o dia para começar a desvendar qual a importância, qual o papel e qual a corresponsabilidade dessas pessoas (que integram o ministério paralelo)”, complementou Rogério Carvalho (PT-SE) em entrevista ao Jornal Brasil Atual.
Os documentos mostram que houve pelo menos 24 reuniões das quais membros do ministério paralelo participaram. Ao que tudo indica, eles ajudaram Bolsonaro na tentativa de implementar a imunidade de rebanho. Uma das ações do grupo, já revelada na CPI da Covid, foi a proposta de mudar a bula da hiroxicloroquina, acrescentando a indicação contra a Covid-19.
Uma minuta chegou a ser preparada e chegou às mãos de Bolsonaro, segundo contaram à CPI o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres. Nise Yamaguchi é suspeita de ter preparado a minuta, mas ela nega e atribui a autoria do documento ao tenente da Marinha Luciano Dias Azevedo. Nesta terça-feira, ela certamente será perguntada sobre o episódio.
Além de Nise, Terra e Weintraub, integrariam o ministério paralelo filhos de Jair Bolsonaro, com papel de destaque para o vereador Carlos Bolsonaro; o assessor especial da Presidência Tercio Arnaud, integrante do gabinete do ódio; o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, que mentiu e quase foi preso ao depor na CPI; o assessor internacional da Presidência Filipe Martins; e o empresário Carlos Wizard.
Nesta semana, a CPI da Covid terá ainda outra audiência, na quarta-feira (2), quando deverão ser ouvidos o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor de Infectologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Clóvis Arns da Cunha; a presidenta da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Zeliete Zambom; e o biólogo e pesquisador Átila Iamarino.
Veja como foi a semana passada na CPI da Covid
Da Agência PT de Notícias