Wajngarten tenta proteger Bolsonaro, se contradiz, e quase sai preso de CPI

O ex-secretário especial de comunicação do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, adotou uma linha tênue e correu o risco de ser preso ao depor à CPI da Covid, nesta quarta-feira (12), após ter diversas respostas suas questionadas pelos senadores em questões como as ações da Secretaria de Comunicação (Secom) em meio à pandemia e uma recente entrevista dada à revista Veja.

Outros pontos controversos que geraram mal-estar durante o depoimento de Wajngarten foram a presença do ex-secretário nas tratativas para contratação da vacina da Pfizer e o papel da Secom no encorajamento dos brasileiros à adoção de medidas contrárias ao isolamento social, ferindo inclusive a prerrogativa de impessoalidade nas publicações da Secretaria.

O Brasil não pode parar

No fim de março do ano passado, o governo lançou campanha nas redes sociais com o mote “O Brasil não pode parar”. A imagem veiculada à época trazia a marca da Secom. O texto afirmava que a maioria dos mortos pela doença eram idosos. Na época, Bolsonaro fazia campanha pelo chamado isolamento vertical, no qual apenas os idosos e pessoas com comorbidades ficariam em isolamento.

“Essa campanha tem autoria. Ninguém faz uma campanha dessa sem que o presidente tivesse conhecimento”, destacou o senador Humberto Costa (PT-PE).

Ao ouvir o senador Humberto ler o mote de uma campanha, lançada pela Secom, que defendia o isolamento social apenas para idosos, datada de março de 2020, Wajngarten afirmou que estava afastado da Secretaria naquele período por ter sido contaminado pela Covid-19 e não seria o responsável pela peça.

“Ou seu secretário-executivo trabalhava contra o senhor, ou existia uma Secom clandestina. Talvez fosse essa rede clandestina também que aconselhasse o presidente Bolsonaro. Essa assessoria deve ter vários braços”, rebateu o senador.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) mostrou que Wajngarten participou, no mesmo período, de conversas nas redes sociais com os filhos do presidente para falar de seu trabalho à frente da Secom, mesmo em isolamento por causa da doença, o que refuta a tese de que não tinha conhecimento da campanha “O Brasil não pode parar”.

“É impossível que o chefe da Secom não se ocupe das campanhas de governo. Especialmente a ‘Brasil não pode parar’ que teve, inclusive, reflexos judiciais. O senhor disse que a Secom sempre fez campanhas de prevenção da Covid-19. O senhor não fez nenhuma campanha de prevenção à Covid-19. Isso é estímulo para que as pessoas se largassem à própria sorte tomando medicamento que não tinha evidência científica para adquirir imunidade naturalmente, transformando o Brasil numa câmara de vírus”, criticou.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da Minoria, ainda teceu críticas à ausência de peças de conscientização da população, de uma maneira geral, com cuidados básicos de higiene que poderiam ajudar o Brasil a reduzir significativamente o número de infectados e, consequentemente, de óbitos causados pela Covid-19.

Foto: Alessandro Dantas

Apesar do baixo número de campanhas informativas, as existentes, de acordo com o senador, as peças também são contraditórias, já que acabam confundindo os cidadãos com dados que acabaram expondo ainda mais os brasileiros ao novo coronavírus.

“É uma constatação geral, sem grandes pesquisas, de que as campanhas de publicidade institucional e conscientização das pessoas, durante a pandemia, foram mais fracas, mais escassas do que em outros governos, em outros países. Além de pífias, me parecem contraditórias”, disse.

Contato com a Pfizer

O ex-secretário de comunicação disse aos senadores existir uma carta da Pfizer enviada ao governo Bolsonaro em 12 de setembro do ano passado com o objetivo de negociar a compra de vacinas da empresa.

Segundo ele, em novembro, mandou um e-mail à farmacêutica e posteriormente a isso, em 17 de novembro, se encontrou com o CEO da Pfizer Carlos Murillo, em seu gabinete.

Para os senadores, Wajngarten afirmou que não chegou a negociar valores de vacinas com os representantes da Pfizer. Para a Veja, ele diz, reiteradas vezes, que negociou com a Pfizer com a anuência do presidente da República. Fato negado, hoje, aos senadores.

Foto: Alessandro Dantas

O senador Humberto Costa, ex-ministro da Saúde, disse não conseguir entender os motivos que levaram o secretário de Comunicação de um governo tomar a dianteira de um governo como o brasileiro na tratativa para aquisição de imunizantes.

“Fui ministro da Saúde. Se tem um ministério nessa Esplanada que tem competência e experiência para negociar contrato internacional de medicamentos e vacinas é o Ministério da Saúde. Eu não consigo entender como o senhor foi entrar nesse negócio. Talvez, com a melhor das intenções. Mas levanta uma dúvida muito grande”, enfatizou.

Secom foi fio condutor da política de imunidade de rebanho

O senador Rogério Carvalho afirmou, após o depoimento de Fábio Wajngarten, que a CPI já dispõe de elementos suficientes para apontar os crimes sanitários cometidos pelo governo Bolsonaro durante a pandemia. O que resta provar agora é quantas vidas seriam salvas com outra abordagem.

“O crime sanitário do governo não precisamos mais de elementos. Agora precisamos saber, o crime contra a vida. Quantas mortes evitáveis? Quantas mortes poderíamos ter evitado se não fossem coisas desse tipo [propagandas da Secom]? Mentiras como as que foram contadas no dia de hoje. O senhor disse que nunca negociou nada com a Pfizer. O senhor participou de negociação com a Pfizer. O senhor disse que seus encontros com representantes da Pfizer haviam sido registrados. Não há informação nos sites do governo. O senhor disse que estava afastado do governo em março de 2020. Mentiu novamente. O senhor estava numa live com Eduardo Bolsonaro, elencou o senador”.

“Ele [Fábio Wajngarten], infelizmente, foi um dos condutores da tese da imunidade de rebanho. A comunicação do governo só fez aumentar a exposição das pessoas ao vírus”, lamentou Humberto Costa.

PT no Senado

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