Bolsonaro despreza a vida e comete crime ao postar foto com gíria miliciana “CPF cancelado”, afirmam petistas

Parlamentares do PT na Câmara dos Deputados reagiram com indignação, durante o fim de semana, a uma foto publicada no perfil oficial do Palácio do Planalto na qual o presidente de ultradireita Jair Bolsonaro sorri ao segurar uma placa com a expressão “CPF cancelado”, ao lado do apresentador sensacionalista de TV Sikera Jr, após entrevista na TV A Crítica. A gíria é usada por críticos aos direitos humanos em apoio ao extermínio de pessoas tidas como criminosas. Segundo os parlamentares, no atual estágio da pandemia que já matou quase 400 mil brasileiros, a atitude de Bolsonaro é um desrespeito a vida e um incentivo a ação de grupos de extermínio e de milicianos.

O líder da Bancada do PT, deputado Elvino Bohn Gass (RS), lembrou pelo Twitter que Bolsonaro sempre teve um “discurso nazista” e que já emitiu expressões como “Grupos de extermínios são bem-vindos”, “Quilombola não serve nem pra procriar” e “Sou a favor da tortura”.

Bohn Gass ressaltou ainda que um ex-assessor direito de Bolsonaro fez gesto de “supremacista branco” em plena audiência com o presidente do Congresso Nacional. “Tudo isso é ou está ligado ao governo de Bolsonaro que, hoje (24/04), falou em ‘CPF cancelado’, expressão de milícias assassinas. S.O.S!”, afirmou.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, deputado Carlos Veras (PT-PE), ressaltou que o gesto de Bolsonaro é uma manifestação clara de desprezo a vida. “Toda vida importa. E o presidente da República deveria ser o primeiro a defender a Constituição Federal que diz que o direito à vida é inviolável. Debochar da morte quando mais de 390 mil famílias choram o luto de seus entes queridos é um desprezo sem tamanho com o povo brasileiro, com a humanidade”, criticou.

Outros parlamentares petistas também exigiram punição para a atitude criminosa de Bolsonaro. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) destacou em seu perfil no Twitter que “Bolsonaro deve responder na justiça e ir para cadeia pelo que ele chama de maneira fria e jocosa de “CPFs cancelados”. “São vidas humanas perdidas por falta de cuidados por parte de um governo delinquente”, acusou o petista.

Já o deputado Rogério Correia (PT-MG), disse ser “muito grave a provocação do genocida (Bolsonaro) e que uma possível CPI das Milícias deveria apurar o fato. “CPF Cancelado. É essa a linguagem do ‘homem da casa de vidro’. Cresce na Câmara dos Deputados a proposta de solicitar a CPI das Milicias. Bolsonaro tem ligações estreitas e governa com eles”, observou.

E o deputado José Airton Cirilo (PT-CE) afirmou que “CPF cancelado” significa que a pessoa morreu. “E comemorar a morte é linguagem de gente insensível a dor do próximo, de miliciano. E isso é grave, desrespeitoso com o povo brasileiro. Uma falta de consideração com as quase 400 mil vítimas da Covid-19”, enfatizou.

“O cara da casa de vidro”

Reportagem do site The Intercept Brasil do último sábado (24) revelou diálogos de grampos telefônicos captados pela Subsecretária de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio, em que comparsas de Adriano da Nóbrega – chefe do grupo miliciano Escritório do Crime, com atuação no Rio de Janeiro – revelam que teriam entrado em contato com o presidente Jair Bolsonaro. O fato teria ocorrido logo após a morte do chefe do grupo criminoso em um confronto com a polícia militar no interior da Bahia.

Segundo a reportagem, os cúmplices de Adriano da Nóbrega afirmaram que entraram em contato com “Jair”, “HNI (Presidente)” e o “cara da casa de vidro”. De acordo com o The Intercept, fontes do Ministério Público do Rio de Janeiro – ouvidos no anonimato – afirmaram que as circunstâncias permitem concluir que as referências cifradas correspondem ao presidente Jair Bolsonaro. O “cara da casa de vidro”, segundo a reportagem, seria uma referência aos palácios do Planalto, sede do Executivo federal, e da Alvorada, residência oficial do presidente, ambos com fachada inteiramente de vidro.

Gesto desesperado

Segundo o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a manifestação de desrespeito a vida e de apoio a práticas contrárias aos direitos humanos “é uma atitude de um presidente acuado, que sofre um processo de corrosão de sua base de apoio na sociedade e que apela para um discurso de confronto para tentar manter o que resta de sua base mobilizada”.

“Só que esse presidente está cada vez mais isolado, está temeroso com as consequências da CPI (da Pandemia) e tem consciência de que o impeachment se torna cada vez mais uma realidade. Por isso ele fica cada vez mais nervoso, e cada vez fala mais bobagens revelando seu verdadeiro caráter”, analisou o parlamentar.

 

Héber Carvalho

 

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