O desastroso PIB de 2020 anunciado na quarta-feira (3), com queda no crescimento de 4,4%, a terceira maior em 120 anos, é mais um triste capítulo do desmonte da economia nacional inaugurado pela operação Lava Jato. Enquanto, entre 2010 e 2014, a economia brasileira cresceu, em média, 3,2% por ano, a partir da ação dos procuradores de Curitiba, liderados por Sergio Moro, o país regrediu, em média, 1% ao ano.
Numa série de artigos publicados na edição do jornal do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecom), de agosto de 2019, um grupo de pesquisadores discorreu sobre os impactos negativos da Lava Jato no desenvolvimento econômico e no nível de emprego no país.
As maiores construtoras brasileiras – Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, UTC e Constran – tiveram perdas de 85% das receitas entre 2015 e 2018, passando de um faturamento conjunto de R$ 71 bilhões para R$ 10,8 bilhões. Nesse período, a construção pesada fechou 1 milhão de postos de trabalho, o equivalente a 40% das vagas de emprego perdidas no período.
A Lava Jato impactou também os setores metalomecânico, naval, construção civil e engenharia pesada, cujas perdas totalizaram até R$ 142 bilhões. A somatória dessas perdas, mais a sabotagem das pautas-bombas aprovadas no Congresso, fez o PIB cair em 2015 e 2016.
Petróleo e gás
Autores de um dos artigos publicados pelo Corecom, o professor de economia da UFRJ Luiz Fernando de Paula e o doutorando da Uerj Rafael Moura acreditam que a desestruturação dos setores de construção civil e petróleo/gás contribuiu sobremaneira para o aprofundamento da crise econômica a partir de 2015 e levou à desarticulação de alguns dos poucos setores em que o capital doméstico era competitivo a nível internacional.
“O segmento de petróleo e gás foi a ponta de lança do processo de desestruturação econômica e desmonte da engenharia e infraestrutura do Brasil, acentuando inclusive uma tendência grave de desnacionalização das atividades produtivas do país”, afirmam. As vendas de ativos na Petrobras a partir de 2016, argumentam eles, são resultados diretos desse processo e afetam gravemente “um dos poucos setores em que o capital nacional era forte e competitivo a nível internacional”.
Marcio Pochmann, da Unicamp, também aponta que a Lava Jato foi decisiva para o aprofundamento da trajetória regressiva da economia brasileira na segunda metade da década de 2010. Segundo ele, a operação serviu aos propósitos externos e internos de praticar o contracionismo no gasto público não financeiro, responsável pela asfixia do crescimento econômico e pela retração da arrecadação fiscal.
A operação contribuiu ainda para a polarização e para colocar fim à perspectiva de projeto da nação, disse Pochmann. Isso levou à entrega ao capital externo de setores como o de petróleo e gás, eletricidade, construção e administração de rodovias, aeroportos e outros equipamentos de infraestrutura, destruindo suas capacidades de protagonismo na cadeia global de valor.
Queda nos investimentos
Levantamento do professor Eduardo Costa Pinto, do Instituto de Economia da UFRJ e do pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Zé Eduardo Dutra (Ineep), mostra que a Lava Jato, aliada à queda do preço internacional do petróleo em 2015, destruiu os pequenos e médios fornecedores da Petrobras e, consequentemente, atuou para o fechamento de milhares de postos de trabalho.
Os dados, reunidos a pedido da Federação Única dos Petroleiros (FUP), mostram que, em 2013, a Petrobras era responsável por 9% (R$ 99 bilhões) do total dos investimentos do país. Em 2015, com a Lava Jato em andamento, caiu para 7% (R$ 73 bilhões). Em 2016, nova queda, para R$ 53 bilhões, chegando a 2017, último ano considerado no levantamento, em 5% (R$ 46 bilhões). Em apenas quatro anos, os investimentos da Petrobras caíram quase 50%.
“Isso afetou fortemente os empregos do setor. Todo o sistema Petrobras, que incluiu suas refinarias e subsidiárias, de 2013 a 2017, diminuiu o número de trabalhadores de 86 mil para 63 mil. Os terceirizados caíram de 360 mil para 117 mil, e o da construção naval, que prestava serviços para a Petrobras, diminuiu de 63 mil para perto de 42 mil”, conta o autor da pesquisa. “A Lava Jato destruiu setores fundamentais na geração de emprego, renda e no desenvolvimento nacional”, conclui.
Redação da Agência PT