Reginaldo Lopes: Apesar do presidente, temos vacina

A imunização da primeira brasileira contra a Covid-19 encheu de esperança todos e todas que querem que o pesadelo da pandemia passe logo. E esperança é algo que nos tem faltado diante de tanto descaso e irresponsabilidade do governo federal. As tristes cenas em Manaus, com pessoas morrendo sufocadas por falta de oxigênio em hospitais, chocaram o Brasil e o mundo e geraram uma onda de solidariedade que uniu de artistas e celebridades ao governo venezuelano.

Enquanto governantes do mundo inteiro trataram de tomar medidas para garantir a vida de suas populações, o povo brasileiro foi entregue à própria sorte. Quando se iniciou um esforço mundial para a produção de vacinas, Jair Bolsonaro investia suas forças em desacreditar a imunização, dando voz ao negacionismo.

Foi criado um consórcio global num esforço de produção de imunizantes em larga escala para abastecer os países, batizada de Covax. O Brasil rejeitou participar no primeiro momento e só depois de muita pressão acabou aderindo. Quando a empresa Pfizer ofereceu a venda de um lote de 70 milhões de doses que seriam entregues em dezembro de 2020, o governo rejeitou.

A força do Estado tem sido demonstrada nos últimos tempos. Se hoje temos vacina no Brasil, devemos o feito ao esforço de funcionários públicos, do Butantan, da Fiocruz e de outros institutos de pesquisa, que dedicaram suas vidas ao desafio. E eles só puderam chegar ao resultado graças à produção de países que investem pesado na ciência, como o caso da China e da Rússia.

Desde o início da incidência da Covid-19 no país, já estava claro que Bolsonaro promoveria um genocídio. Por isso, apresentei uma notícia-crime contra ele no STF, no fim de março do ano passado, acusando-o de infringir três artigos do Código Penal ao agir contra as medidas sanitárias. Naquele momento, o Brasil contabilizava 202 mortos pela Covid-19. O presidente genocida não foi parado, e o número de mortos aumentou para mais de 210 mil.

Não é apenas no descaso no enfrentamento à Covid-19 que o governo brasileiro cria dificuldades. Enquanto faltava oxigênio em Manaus, o preço do gás de cozinha em todo o país aumentou e pode chegar a R$ 150 em 2021. Com a taxa de inflação acima de 4% e da meta definida pelo Banco Central, a alta dos preços e do custo de vida da população deverá se intensificar neste ano, flertando com uma verdadeira convulsão social. Isso ainda com o agravante da não renovação do benefício do auxílio emergencial.

Isso acontece pela posição brasileira de servir de laboratório para as aventuras ultraliberais de Paulo Guedes, sob a sombra de um falso nacionalismo de Bolsonaro. Essa política econômica está levando o país para uma convulsão social.

Sem a coragem de cobrar imposto de renda dos super-ricos, tributar as grandes fortunas, rever os incentivos fiscais, desonerar o consumo, a folha de pagamento e quem ganha até cinco salários mínimos, não há caminho possível para a sustentabilidade fiscal no Brasil.

Não é apenas no enfrentamento à pandemia que Bolsonaro destrói o país. Faz isso também na economia. E fica cada dia mais evidente que precisamos ficar livre dele para salvar vidas.

Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo (19/01/2021)

Reginaldo Lopes é deputado federal (PT-MG)

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