“Precisa desenhar?”, perguntou o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), apontando a escandalosa promiscuidade. “Não é advocacia, nem atuarei em casos de potencial conflito de interesses”, tentou justificar Moro em sua conta do twitter. A afirmação é desmentida no comunicado oficial da própria empresa¨.
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro é um dos novos diretores da consultoria norte-americana Alvarez & Marsal, segundo anunciou a empresa no domingo (29). A empresa atua como administradora judicial da Odebrecht, empreiteira investigada pela Lava Jato. “Não é advocacia, nem atuarei em casos de potencial conflito de interesses”, tentou justificar Moro, em sua conta oficial do twitter. “Precisa desenhar?”, perguntou o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), apontando a escandalosa promiscuidade.
A explicação de Moro, no entanto, foi desmentida no comunicado oficial da própria empresa da qual ele passa a ser sócio. “Consultoria global de gestão de empresas, a Alvarez & Marsal (A&M) anuncia a chegada de Sérgio Fernando Moro como sócio-diretor, com sede em São Paulo, para atuar na área de Disputas e Investigações”, diz a nota.
A consultoria afirma ainda que “a contratação de Moro está alinhada com o compromisso estratégico da A&M em desenvolver soluções para as complexas questões de disputas e investigações, oferecendo aos clientes da consultoria e seus próprios consultores a expertise de um ex-funcionário do governo brasileiro”. Nada mais promíscuo no mercado do que contratar um agente público, ex-juiz federal, para mostrar o caminho das pedras no enfrentamento de empresas com a Justiça brasileira.
A estratégia do ex-juiz federal, que ganhou fama posando de capa preta implacável contra a corrupção, foi criticada por poucos jornalistas da grande mídia brasileira. “Moro, o ex-juiz da Lava Jato, cujo trabalho provocou os sortilégios que provocou nas empresas, na economia e na política é agora sócio-diretor da empresa encarregada de cuidar da recuperação judicial da empreiteira que a força-tarefa ajudou a quebrar”, advertiu o jornalista Reinaldo Azevedo, em sua coluna publicada no UOL, nesta segunda-feira (30).
Moro tem ótimos serviços prestados aos Estados Unidos. Além de quebrar as empresas de infraestrutura nacional, ainda tirou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da corrida presidencial em 2018, beneficiando diretamente Jair Bolsonaro, o líder da extrema-direita nacional em sua ascensão à Presidência da República. Condenou e julgou Lula manipulando o sistema judiciário, combinando o jogo com procuradores da República. Por fim, prendeu o ex-presidente e entrou para a política oficialmente. Em troca, o ex-juiz virou ministro da Justiça e fez vista grossa para as operações suspeitas de corrupção do filho Flávio Bolsonaro. Acabou deixando o governo, depois de um desentendimento com o presidente.
Traição nacional a serviço de interesses externos
A operação Lava Jato é responsável pela falência de um dos setores fundamentais da economia brasileira por várias décadas. Historicamente, as empresasbrasileiras de infraestrutura responderam por metade da formação bruta de capital fixo do país – indicador que mede a capacidade produtiva nacional. Entre 2014 e 2017, com a ação da Lava Jato, o setor foi destroçado, registrando um saldo negativo entre contratações e demissões de 991.734 vagas formais (com preponderância na região Sudeste).
As empreiteiras brasileiras ocupavam 2,5% do mercado mundial do setor, e a Odebrecht estava presente em dezenas de países, em praticamente todos os continentes, e vinha vencendo concorrências internacionais, inclusive nos Estados Unidos. Em 2014, a empresa tinha um faturamento bruto de R$ 107 bilhões, com 168 mil funcionários e operações em 27 países. Três anos depois, em consequência do ataque aberto pelos procuradores Deltan Dallagnol e outros integrantes da força-tarefa da Lava Jato, seu faturamento caiu a R$ 82 bilhões, com 58 mil funcionários e atividades apenas em 14 países.
A contratação de Sergio Moro fecha o ciclo de uma prática comum de atuação dos interesses econômicos e geopolíticos dos Estado Unidos no mundo. Exemplo disso ocorreu no Iraque, quando após a Segunda Guerra do Golfo, as empresas norte-americanas passaram a operar as grandes obras do país. Em 1º de agosto de 2019, um acordo entre o governo Jair Bolsonaro e o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, abriu o mercado nacional para as empresas estrangeiras.
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