Tânia Bacelar lembra que o crescimento econômico, antes da pandemia, já era baixo. Para a Oxfam Brasil, país precisa implementar a renda básica e ações emergenciais no campo tributário.
São Paulo – Ainda distante de pensar no pós-pandemia, “as únicas certezas” que o Brasil tem em meio à crise sanitária e econômica é que a situação das regiões mais pobres se agravou. E que o cenário para 2021 “é muito preocupante”, segundo análise da professora aposentada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), socióloga e economista, Tânia Bacelar, mestre e doutora em Economia pela Universidade de Paris I – Panthéon-Sorbonne.
Convidada deste domingo (18) do programa Revista Brasil TVT, a economista avaliou o quadro crescente de desigualdade. Diferentemente de outros países, como a China, a pandemia do novo coronavírus surpreendeu o Brasil num momento de dificuldades econômicas que já vinham ampliando os contrastes sociais. O que torna, portanto, sua recuperação ainda mais lenta.
“A gente já vinha de um período de dificuldades. As famílias já estavam endividadas, o desemprego crescendo, o mercado de trabalho estava em um processo de informalização galopante, principalmente depois da reforma trabalhista. Então a sociedade brasileira foi surpreendida pela pandemia numa situação de fragilidade”, ressalta.
Novo ano, velhas dificuldades
Na última sexta-feira (16), o IBGE divulgou que o país chegou à marca oficial de 14 milhões de desempregados após cinco meses da pandemia. O ministro da Economia Paulo Guedes, contudo, vem insistindo em uma retomada econômica “rápida”, “com uma curva em V”. Algo muito distante da realidade, principalmente porque o governo Bolsonaro “não tem proposta para enfrentar esse cenário de crise”, como destaca Tânia.
“A gente não estava conseguindo uma recuperação rápida sem pandemia. Nos anos anteriores, o Brasil vinha crescendo sua produção a um ritmo de 1% ao ano, o que é insuficiente para o crescimento da sua população. Então como vamos passar por uma dificuldade do tamanho que a gente está, esperando um ano de 2021 muito favorável?”, questiona. “Eu não espero.”
“Acho que continuará sendo difícil para as pequenas e médias empresas e grande parte da nossa sociedade. Mesmo para os trabalhadores que vão conseguir voltar ao mercado, vão voltar em condições mais precárias. Continuará sendo um ano de grande dificuldade num país onde o governo não tem uma proposta para enfrentar esse cenário. Até porque o nosso ministro trabalha com um cenário de recuperação rápida”, contesta Tânia.
Taxando os super-ricos
Ao Revista Brasil TVT, a diretora-executiva da Oxfam Brasil, Kátia Maia, alerta que toda essa crise mergulha o país de volta ao Mapa da Fome e na miséria extrema. O que torna “fundamental a presença do Estado para tentar minimizar essas desigualdades com políticas sociais”, destaca, citando como exemplo o auxílio emergencial.
“Agora temos o corte para R$ 300 e não se sabe o que vai acontecer em janeiro. Não dá para dizer a milhões de brasileiros que a partir de janeiro não tem mais por causa do ajuste fiscal. A questão da renda é uma questão de dignidade humana. Temos pessoas passando fome e isso vai aumentar”, adverte.
De acordo com ela, na falta do governo, o Congresso Nacional deve pautar a importância da renda básica, assim como ações emergenciais tributárias e um reforma no setor como prioridade. A respeito da crise econômica mundial, o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendou que seja modificada a estrutura regressiva do imposto. “Quando você vê o FMI falando que precisa taxar os super-ricos é porque a situação realmente está fora de controle, e coloca-se em risco a estabilidade do sistema”, explica Kátia.
Redação: Clara Assunção. Edição: Glauco Faria