Em pronunciamento na tribuna da Câmara, nesta sexta-feira (12), o deputado Paulo Ferreira (PT-RS) analisou o momento político nacional e os significados das manifestações recentes ocorridas no Brasil. O parlamentar apontou como “urgente” a necessidade de governantes, parlamentares e agentes do poder público se dedicarem a uma profunda reflexão sobre os anseios da população, o descontentamento com a representação dos partidos e os questionamentos direcionados aos governos, à grande mídia, às corporações hegemônicas e ao sistema financeiro.
Paulo Ferreira observou que a era da “comunicação online” universalizou o acesso a informações que até muito recentemente estavam indisponíveis ao conjunto da sociedade. “Conteúdos das mais diversos assuntos e interesses estão à disposição de um número cada vez mais amplo de pessoas”, disse.
Na análise do deputado, “esse ágil fenômeno sociológico de comunicação e mobilização digital que se apropria da disseminação do uso da internet para em seguida ganhar as praças e ruas trouxe o reconhecimento público aos ciberativistas”. De acordo com Paulo Ferreira, essa nova categoria de manifestantes se expressa livremente pelas redes sociais sem, necessariamente, contar com a mediação da mídia tradicional.
Otimista, o deputado acredita que “esse novo ativismo, que meritoriamente soube se apropriar das potencialidades tecnológicas da internet, também se consolida numa tendência global e sem fronteiras de expressão da cidadania”, afirmou.
Paulo Ferreira destacou que o brado das ruas revelou o desejo de maior de uma democracia mais participativa, um descontentamento geral com a gestão dos serviços públicos, com a baixa produtividade dos parlamentos, a morosidade da justiça, o afastamento dos partidos políticos da vida comum das pessoas, o distanciamento da agenda legislativa dos temas de maior relevância e a insatisfação com o monopólio da mídia e da informação.
“A democracia deve continuar sendo o berço para qualquer avanço civilizatório”, afirmou o deputado ao repudiar correntes de pensamentos que defendem o fim dos partidos políticos e o fechamento do Congresso. “Diferentemente dos regimes totalitaristas, a democracia não alimenta a ambição da unanimidade”, argumentou.
Na opinião do deputado, entretanto, compreender os novos mecanismos de comunicação e seus estímulos para a mobilização da sociedade civil não pode e não deve ser interpretado como estágio inaugural de superação de uma suposta letargia do povo brasileiro na defesa de seus direitos e interesses.
“A frase replicada em diversas manifestações de rua e nas redes sociais, “O gigante acordou”, não faz jus à história de lutas de nossa sociedade”, frisou Paulo Ferreira, fazendo referência ao bordão inspirado na propaganda de uma marca de uísque. “Muito antes dos atuais acontecimentos, demonstrações de vitalidade, de autonomia organizacional em relação aos partidos políticos e de capacidade de mobilização poderiam facilmente ser identificadas como é o Grito dos Excluídos, a Marcha das Margaridas e as Paradas Gays”, disse.
Paulo Ferreira lembrou também que embora as manifestações no Brasil tenham semelhanças com as ocorridas em diversas partes do mundo, “as realidades nacionais são distintas e peculiares, as motivações da juventude nos Países Árabes, da Europa e do Brasil não são evidentemente as mesmas”, ressaltou.
O deputado constatou que no mundo árabe a luta hoje é pelo reconhecimento humano à individualidade de crenças, de gênero, de identidade e de convicções. Forças se unem pelo arejamento democrático, pelo fim da censura e do cerceamento de Estado.
Em países europeus as mobilizações possuem motivações econômicas. O desemprego nos 17 países que integram a zona do Euro alcançou nível recorde: 12,1% da população da União Europeia encontram-se fora do mercado de trabalho. Há incertezas quanto ao futuro e crise de esperança entre os jovens. Países tradicionais como Itália, Grécia e Espanha registram índices de desemprego ainda mais críticos: 12,2%, 26,8% e 26,9%; respectivamente.
Por esse motivo as reflexões sobre as manifestações merecem ser mais profundas, acredita Ferreira. “Na última década, dezenove milhões de empregos formais foram criados, houve melhoria na renda, 40 milhões de pessoas ascenderam à classe média, ampliaram-se as condições de acesso à universidade para as classes trabalhadoras, estamos nos aproximando da extinção da extrema pobreza no nosso País, então qual a motivação?” questionou o deputado, apontando como resposta o descontentamento dos brasileiros no contexto da vida urbana, onde atualmente residem 85% da população. “O decréscimo na qualidade de vida das pessoas é facilmente perceptível pela ineficiência dos serviços públicos essenciais”, opinou.
O deputado concluiu afirmando que a manifestação cibernética será cada vez mais frequente em nossa sociedade, mas não será capaz de substituir o sistema político representativo “que a energia e a força mobilizadora das recentes manifestações nos inspirem na qualificação cívica dos Poderes da República para o fortalecimento contemporâneo da democracia e para o bem maior do País”, finalizou.
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Jonas Tolocka
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara