Ex-prefeito de São Paulo acusa o presidente de cometer crimes em série contra a Constituição e diz que o governo sabota o combate à pandemia. Brasil vai ultrapassar marca de 1 milhão de contaminados nos próximos dias.
Ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, o economista e advogado Fernando Haddad diz que o impeachment do presidente Jair Bolsonaro é a saída para a superação da crise política, econômica e sanitária que o país enfrenta. Ele acusa o líder da extrema direita, seu adversário político nas eleições de 2018, como responsável direto pelo descontrole do Covid-19 no país, que deve superar 1 milhão de contaminados até quinta-feira e já matou no país 44.657 brasileiros. Haddad diz que Bolsonaro sabota o País.
“Eu considero Bolsonaro responsável pelo patamar de mortes em que estamos. Em agosto, segundo estudos, o Brasil pode inclusive superar o número dos Estados Unidos”, alerta. “Podemos ter 100 mil mortes se ele continuar sabotando as ações dos governos estaduais contra a pandemia. Os profissionais de imprensa estão com medo de trabalhar por causa das incitações feitas contra eles. Enquanto isso, batemos recorde de mortes”, disse.
As declarações de Haddad foram dadas em entrevista nesta terça-feira, 16 de junho, ao ‘Correio Braziliense’. Ele reconhece, assim como Dilma, as dificuldades da oposição para articular um pedido de impeachment, diante do esforço de partidos políticos e setores empresariais de manter Bolsonaro no poder. Neste final de semana, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, se posicionou contrário à iniciativa. O PT e outros partidos de oposição – PSOL, PCdoB, PSTU, PCO, PCB e UD – entraram com um pedido de impeachment na Câmara dos Deputados, num esforço com outros setores da sociedade civil, incluindo 400 organizações sociais.
“Acredito que a postura do PDT e PSDB neste momento não fortalecem o Bolsonaro, mas enfraquecem o Judiciário e Legislativo”, lamentou. “A população desaprova o governo. O presidente envergonha o Brasil no exterior e a imprensa mundial retrata-o ou com desprezo ou ironia. Isso é lamentável para um país como o nosso”, criticou Haddad.
Crimes contra a Constituição
O ex-prefeito disse que o impeachment é a solução para os problemas criados pelo governo, por causa dos “crimes contra a Constituição” praticados por Bolsonaro, inclusive pela omissão e ação perniciosa e que atenta contra a saúde pública e a vida da população. Haddad diz que Bolsonaro sabotou os esforços de isolamento social promovidos por prefeitos e governadores, e que a flexibilização da quarentena não é adequada neste momento.
“O isolamento tem que ser bem feito e o governo federal foi o maior sabotador disso”, lembrou. “São Paulo estava agindo certo na época em que o [Luiz Henrique] Mandetta estava no Ministério da Saúde. Nas últimas duas semanas, no entanto, tem emitido sinais contraditórios”. Ele disse que as tentativas de rodízio e ações não deram certo em São Paulo, e fez reparos à atuação do governador João Dória e do prefeito Bruno Covas. “Sinto que aqui em São Paulo existe uma postura muito mais séria por parte do governador e prefeito, ambos do PSDB. Mas, às vezes, estão tomando medidas nem sempre coerentes”, comentou.
Haddad abordou a aproximação do Centrão do Palácio do Planalto. Para o economista, a situação atual não tem similaridade com outros momentos da vida política nacional. “O Centrão se amolda ao governo que está em curso. FHC teve apoio deles, Lula também. Mas nenhum dos dois abriu mão dos seus projetos de país para ter o apoio do Centrão”, ressaltou. “O que acontece de diferente agora é que Bolsonaro não tem um projeto. Quem vai assumir o protagonismo no governo pela primeira vez na história é o Centrão. É a primeira vez que isso acontece”, disse.
Veja a íntegra da entrevista:
Por PT Nacional, com Correio Braziliense