O Congresso Nacional impôs nessa quinta-feira (2), mais uma derrota ao presidente Jair Bolsonaro, ao prorrogar por mais 180 dias, os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a disseminação de notícias falsas nas redes sociais, conhecida como Fake News.
Apesar de o governo ter trabalhado até a última hora para que parlamentares retirassem as assinaturas do requerimento de prorrogação, não conseguiu. Os 34 senadores e 209 deputados mantiveram suas posições pela ampliação dos trabalhos do colegiado por mais seis meses.
“Apesar do esforço do governo, pedindo que alguns parlamentares retirassem assinaturas, a maioria da Câmara e do Senado entendeu que era vital a continuidade dessa CPMI – não só porque as notícias falsas que são propagadas diariamente fragilizam a democracia -, mas principalmente porque nesse período em que o combate ao coronavírus deve ser um esforço nacional, continua a haver propagação de notícias falsas”, denunciou o deputado Rui Falcão (PT-SP), membro titular da comissão.
O deputado lembrou que a gravidade da disseminação de mentiras levou as redes sociais a excluir postagem de Bolsonaro que mostrava o presidente descumprindo a recomendação de isolamento proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério de Saúde.
“O Twitter, o Facebook e o Instagram cancelaram postagens do próprio presidente da República que propagava notícias falsas que pretendia com isso, respaldar sua iniciativa de romper o isolamento social”, afirmou Falcão se referindo à remoção na última segunda-feira (30) das publicações do chefe do Executivo dessas redes sociais. A justificativa apresentada pelos aplicativos foi que as publicações traziam “desinformação” e poderiam “causar danos reais às pessoas”.
A deputada Natália Bonavides (PT-RN) disse que a prorrogação por seis meses é fundamental para que se avance nas investigações. Segundo a petista, essa iniciativa da comissão vai permitir que a população saiba que a fábrica de fake news não parou com as eleições e isso é grave para o momento que o País está vivendo.
“Para além desses temas como a eleição de 2018 – que tem relação com o debate da democracia – estamos vendo a presença das fake news em outros temas como o da saúde pública. Nesse momento, tem varias mentiras sendo espalhadas principalmente sobre coronavírus com dados falsos, já interferindo na preservação da saúde da população”, alertou Natália.
Na opinião da deputada Luizianne Lins (PT-CE), a prorrogação da CPMI era uma necessidade natural diante das evidências sentidas pelo País. “É notório que a gente começou a chegar, de fato, na materialidade do esquema criminoso. Só que agora, com a questão da pandemia, e com a vida de milhares de pessoas em risco, as notícias falsas estão sendo disseminadas para satisfazer a loucura desvairada do presidente. Ele está indo contra a ciência, contra os médicos, contra a comunidade de Saúde, contra a OMS”, reclamou.
A deputada também enfatizou a importância de as mídias sociais começarem a desautorizar o presidente e seus correligionários. Ela acrescentou o YouTube no rol dos que excluíram desinformação de suas plataformas. “Elas tiraram uma publicação do Olavo de Carvalho do YouTube, um vídeo dele dizendo que era uma ignorância, que não tinha morte pelo coronavírus, que era a maior manipulação da história. Então foi tirado esse vídeo dele como também o Twitter tirou uma postagem do Bolsonaro que era visivelmente mentirosa”, afirmou.
“Então, eu acho que foi um marco das próprias empresas que começaram a se posicionar sob pena de elas perderem completamente a credibilidade. Se continuasse seria a crise de credibilidade de todas essas redes sociais”, sentenciou Luizianne Lins.
Gabinete do ódio
Rui Falcão e Luizianne Lins acusaram Bolsonaro de manter o “gabinete do ódio” funcionando a todo vapor dentro do Palácio do Planalto. “Tem uma denúncia agora de que o Carlos Bolsonaro está instalado dentro do Palácio para comandar o chamado “gabinete do ódio”, propagando notícias também contra governadores, contra prefeitos também combatendo o esforço nacional de poupar vidas e a saúde da população”, alertou Rui Falcão.
A deputada Luizianne Lins denunciou que o “gabinete do ódio” está “disparando fake news para poder reforçar e dar razão ao presidente que quer que a sua verdade, a verdade do mercado, completamente fora de qualquer lógica, ou seja, dentro da lógica da morte”.
O líder da Minoria no Congresso Nacional, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), reagiu com ironia à movimentação de Bolsonaro para barrar a prorrogação da CPMI.
“Dizem que Bolsonaro ficou irritadinho com a prorrogação da CPMI das Fake News, mas acho que ele está é bastante preocupado. A verdade é que as investigações da CPMI se aproximam do clã de Bolsonaro e começa a desvendar o esquema de fake news usado na eleição”.
Benildes Rodrigues