O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), protocolou hoje (21), no Conselho Nacional do Ministério Público, reclamação disciplinar contra o procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Operação Lava Jato, por ter usado o site direitista O Antagonista para influenciar na escolha do novo presidente do Banco do Brasil no governo de extrema direita Jair Bolsonaro.
O parlamentar solicitou ao corregedor nacional do Ministério Público, Rinaldo Reis Lima, a investigação administrativa (improbidade) e criminal das ações de Dallagnol e, liminarmente, seu afastamento da equipe da Lava Jato, para que não possa praticar quaisquer atos relacionados aos procedidos jurídicos, administrativos e judiciais relacionados à operação baseada em Curitiba.
Relações promíscuas
A peça apresentada por Pimenta baseia-se em reportagem divulgada ontem (20) pelo site The Intercept Brasil, a qual mostra a interferência indevida de Dallagnol para “forjar fatos de desqualificação de um indicado para ocupar a presidência do Banco do Brasil”, numa ação articulada com o site que é tido como uma espécie de porta-voz da Lava Jato.
O candidato, no caso, era Ivan Monteiro, ex-presidente da Petrobras. Para Pimenta, houve uma ”relação promíscua” ente Dallagnol e o site direitista para atingir um objetivo político, com o procurador usando a “prerrogativa do cargo e o desempenho da função para agir em interferência no governo federal”.
Conluio
Conforme a denúncia de Paulo Pimenta, a reportagem do The Intercept comprova que desde o final de 2018 Dallagnol atuou em conluio com o site para publicizar notícias repassadas por ele mesmo ou por colegas a fim de interferir na tomada de decisões no âmbito do Poder Executivo. No final de 2018, a força-tarefa atuou em conjunto com repórteres do portal para evitar que Ivan Monteiro assumisse a chefia do banco.
Monteiro era o nome mais forte entre os cotados para assumir o Banco do Brasil, uma escolha do próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, mas não teve o apoio do então deputado e futuro ministro da Casa Civil Onyz Lorenzoni (DEM-RS). Influenciado pelo descontentamento de Lorenzoni, Dallagnol ordenou a assessores a busca por documentos contra o ex-presidente da Petrobras e enviou quatro arquivos a Claudio Dantas, do Antagonista, que já fazia campanha para que Monteiro não entrasse no governo Bolsonaro. Guedes acabou escolhendo Rubens Novaes para comandar o Banco do Brasil.
Procurador e editor
Em conversas no Telegram, obtidas pelo Intercept, fica evidente a parceria entre a Lava Jato e o jornalista, assim como Diogo Mainardi e Mario Sabino, também do Antagonista, para prejudicar a imagem de Monteiro. Além de receberem documentos e informações em primeira mão, os repórteres também deixavam que procuradores ditassem a direção editorial do site.
A reportagem do Intercept também cita que Mainardi, dono e editor do site, acatou o pedido de Dallagnol e parou de publicar notícias sobre um escândalo de corrupção que envolvia o escritório de advocacia Mossack Fonseca, suspeito de abrir empresas offshore no Panamá. Mainardi também auxiliou Dallagnol em uma de suas investigações, que seguiu as dicas do comentarista e em seguida informou-o que o caso estava “fora da alçada” da operação.
Em outro caso, a Lava Jato seguiu um boato repassado por Claudio Dantas para pedir, sem autorização da justiça, a quebra do sigilo fiscal de Marlene Araújo Lula da Silva, nora do ex-presidente Lula, em 2016. No entanto, nada foi encontrado contra ela, que nunca foi indiciada ou acusada de crimes.
Leia a íntegra da representação:
PT na Câmara com Revista Fórum