A desmoralização da política levou nosso povo, em contraditória aliança com os mais ricos e com o capital financeiro, a eleger o mais inconsequente e perigoso presidente de sua história, Jair Bolsonaro, o Nero brasileiro, em paralelo ao imperador implacável com seus opositores e que teria incendiado Roma e, de quebra, culpado os cristãos pelo incêndio.
De modo aparentemente descoordenado, ele ataca todos os interesses de nossa nação. Mas a descoordenação é apenas aparente, pois no fundo o rumo seguido é o mesmo: colocar o Brasil a serviço das estratégias dos Estados Unidos e do capital financeiro. Sem meias palavras, os donos do dinheiro assumiram o comando do País. E para isso, usam um presidente que não tem vergonha de fazer o serviço sujo.
Ele mesmo disse em sua visita aos Estados Unidos que não veio para construir, veio para desconstruir. E começou sua desconstrução justamente pelos mais pobres, quando decidiu desvalorizar o salário mínimo. Em janeiro deste ano, cortou oito reais do valor que já havia sido anunciado pelo governo Temer em dezembro passado. Depois acabou com a política petista de reajustar o salário mínimo pelo somatório da inflação com o crescimento do PIB nos dois anos anteriores. Isso mesmo, com Bolsonaro, o mínimo é reajustado só pela inflação.
Depois vieram a entrega de negócios da Petrobras às grandes petroleiras internacionais; o fim dos investimentos no refino de petróleo, condenando o Brasil a marchar para a mera condição de produtor de óleo bruto e de importador de produtos refinados oriundos do petróleo; o pesado ataque às universidades públicas, o que reduz a capacidade de pesquisa e desenvolvimento tecnológico em nosso país, etc. Tem mais, mas não há espaço aqui.
Por último, o meio ambiente ocupa lugar de destaque na estratégia bolsonarista de desconstrução de qualquer possibilidade de desenvolvimento de nosso País. Tendo recebido forte apoio do chamado segmento ruralista (que é complexo e abrange desde empresários modernos do agronegócio até grileiros e pistoleiros), Bolsonaro paga sua dívida eleitoral liberando as armas de fogo e desconstruindo todo o sistema de proteção de nossa biodiversidade ambiental.
Desde 1992, quando sediou a conferência da ONU sobre o clima no planeta, a Rio 92, o Brasil conquistou, por meio da ação de sucessivos governos, posição de vanguarda nas políticas de defesa da biodiversidade. Hoje, em apenas oito meses, o atual governo fez o País retroceder à posição de pária ambiental.
O Ibama e o ICMBio, além de esvaziados em termos orçamentário, estão sob intervenção e direção de pessoas que não têm compromisso com a questão ambiental. Dentro dessa estratégia do vale tudo, o ministro do Meio Ambiente não poderia ter sido melhor escolhido. Em termos de preservação da biodiversidade, Ricardo Sales é a raposa cuidando do galinheiro.
Agora, enquanto a Amazônia arde em chamas, os homens do agronegócio começam a ver o tamanho da encrenca que ajudaram a criar no Brasil. E o medo de ver suas empresas, que desempenham importantes funções em nossa economia, associadas a desmatadores ilegais, grileiros, pistoleiros e incendiários é real. E esse medo tem fundamento, pois as consequências poderão ser amplas e duradouras.
A Europa tem fortes interesses ambientais, econômicos e políticos a defender e já está em ação por meio de países de peso com a França, Alemanha, Inglaterra, etc. Bolsonaro – que já atacou a China, Países Árabes, Venezuela e Argentina – agora compra briga com a Europa. Ou seja, à exceção dos Estados Unidos, a política externa do governo brasileiro de hoje atacou todos os demais grandes parceiros econômicos do Brasil. Quem ganha com isso?
Merlong Solano Nogueira – Professor da UFPI, 1º suplente de Dep. Federal PT-PI
Foto – Gabriel Paiva