Não importa se cabo, general ou capitão, a loucura faz mártires reais e deve ser parada antes que destrua a democracia.
Quando Lula afirmou que seríamos governados por um bando de loucos, Luís Fernando Veríssimo retrucou, com evidente ironia, que era um exagero. Isto não era um governo, mas um ajuntamento e não um bando; e que estariam mais para espertos do que propriamente loucos.
Pois nos últimos dias, Bolsonaro tem dado razão a Lula. No curto espaço de uma semana, o presidente, como que em transe, disse que a fome no Brasil é uma “grande mentira”, logo quando estamos de volta ao mapa da fome da ONU; atacou o nordeste e os nordestinos; defendeu censura ao cinema brasileiro, sob ameaça de fechamento da Ancine; decidiu indicar o filhote 02 para embaixador nos EUA, cargo já ocupado por gente da estirpe de Joaquim Nabuco e Osvaldo Aranha; afirmou que o Inpe e os dados de satélite mentem sobre o aumento no desmatamento da Amazônia; ofendeu a repórter Talita Fernandes que questionou o porquê de ele ter levado parentes ao casamento do filho em um helicóptero da FAB; ameaçou prisão ao jornalista Glenn Greenwald; menosprezou o respeito ao meio ambiente, dizendo que isto só interessava a veganos.
A lista é interminável e poderia continuar, mas Bolsonaro deu um passo a mais na direção da loucura e da incivilidade ao caçoar da morte do pai do presidente da OAB, durante a ditadura. A psicopatia de zombar da dor de um homem que perdeu seu pai aos dois anos de idade se junta ao crime de não revelar o que diz saber sobre o assassinato.
É um engano, no entanto, considerar que o rótulo “loucura” sobre que está acontecendo no Brasil simplifique ou resolva o enfrentamento a Bolsonaro. Os efeitos de sua política são reais e atingem todos os brasileiros. Os cortes na educação e na saúde pública já inviabilizam o funcionamento de unidades em todo o país.
A venda, na surdina, da BR distribuidora e, às claras, da Embraer, mostra o caminho da destruição da indústria nacional. A reforma previdenciária precariza o presente e ameaça o futuro dos trabalhadores. Índios são assassinados, a floresta é devastada, nossa comida é envenenada, a economia estagna, o desemprego continua.
A Nação sofre. Nada disso é ilusório. Tudo é real.
Quando os camisas negras marcharam sobre Roma sob o comando do ex-cabo Benito Mussolini, muitos acharam graça. Quando os camisas pardas espancavam opositores nas ruas da Alemanha, sob as ordens do também ex-cabo Adolf Hitler, muitos atribuíram a uma loucura sem futuro.
Quando falanges gritavam “viva la muerte” sob as ordens do General Franco, ninguém poderia imaginar que governaria a Espanha até sua morte.
Não importa se cabo, general ou capitão, a loucura faz mártires reais e deve ser parada antes que destrua a democracia, sempre sua primeira vítima.
Para que outros e mais graves danos não sejam irreversíveis.
Bohn Gass (PT-RS) é deputado federal