Candidato do PT à Presidência da República, detentor de 47 milhões de votos, o ex-ministro da educação de Lula, Fernando Haddad, concedeu entrevista ao jornal Nexo quando falou sobre eleições, neoliberalismo, aumento da desigualdade no Brasil e, claro, educação.
Para ele, o legado de Lula foi essencial pra levar o PT ao segundo turno. “Eu acredito que o legado do Lula, sem sombra de dúvida, foi ele que nos colocou no segundo turno, que nos deu condições de competitividade. Se o Lula estivesse disputando a eleição, por todas as pesquisas qualitativas cujos relatórios enxergaram, eu diria que dificilmente o Lula perderia”, declarou.
Haddad explicou que o ex-presidente é um líder importante na história do País e por isso grande parte da população tem muita gratidão por tudo que ele fez para melhorar a vida de milhões de brasileiros e brasileiras. Porém todos os programas sociais, leis, e possibilidades que Lula criou durante seus governos, sozinhos, não são o suficiente para manter o Brasil em um patamar de igualdade social, o País precisa sempre se renovar com novos investimentos para os direitos e bem-estar do povo.
“A história é continuamente escrita e reescrita em função do que acontece depois. Vai depender muito do que vai acontecer com o Brasil nos próximos anos. Não depende só do que o Lula já fez”, declarou Haddad em entrevista ao Nexo.
O ex-ministro falou também sobre os perigos e ameaças de retrocesso do governo de Jair Bolsonaro, que tomará posse nesta terça-feira (1º). Haddad alertou sobre as decisões e atitudes do presidente eleito que são um risco à democracia e aos direitos do povo brasileiro.
“Se você começa a limitar essas conquistas históricas e colocar em risco essas conquistas, isso para mim é uma ameaça à democracia. Ameaça à democracia não é fechar Congresso só. Todo e qualquer movimento no sentido de aumentar a intolerância numa sociedade é antidemocrático. E as instituições podem estar funcionando plenamente, mas não vai deixar de ser antidemocrático”.
Um exemplo é a criminalização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) por Bolsonaro e sua base.
“Tem mais do que criminalização, tem eliminação física de lideranças que lutam pela terra, por demarcação de terra indígena etc. Aí você tem direitos sociais, o teto de gastos limita a expansão dos direitos sociais. A população cresce e envelhece. Se tiver teto de gastos por 20 anos, os direitos sociais estarão ameaçados. E agora a quarta geração é direitos ambientais, que é você ter direito a um meio ambiente saudável. Você tem aí, o Brasil vai deixar de hospedar a COP-25, você tem a provável saída do Brasil do Acordo de Paris”.
Haddad comentou também sobre o caso da “rachadinha” (esquema de nomeações fraudulentas de funcionários comissionados no qual parte dos salários deles é desviada para deputados estaduais e assessores) do clã Bolsonaro, em que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, e amigo da família há mais de 20 anos, Fabrício Queiroz, foi apontado em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como tendo realizado “movimentações atípicas” de R$ 1,2 milhão em sua conta, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, quando atuava como motorista e assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
“Pelo o que me chega da imprensa, só de patrimônio imobiliário o clã atingiu a cifra de R$ 15 milhões. Olha, eu estou na vida pública há 18 anos e, vou te falar, não sobra [dinheiro] no fim do ano, a não ser um pouco de dívida. É o que sobra no final do ano na vida de um político. Sobrar a ponto de você conseguir comprar R$ 15 milhões de patrimônio imobiliário? Não vi isso acontecer no PT da forma como tentam vender, que é uma prática do partido”.
O caso veio a público em 6 de dezembro, e desde então Queiroz já recebeu quatro convocações do Ministério Público para prestar depoimento, mas ainda não compareceu para esclarecer os fatos.
Da Agência PT de Notícias