Embora não tenha sido aprovado ainda nenhum requerimento especifico para convocar o diretor da sucursal da revista Veja em Brasília, Policarpo Junior, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações do contraventor Carlos Cachoeira com empresas privadas e membros da administração pública vai continuar apurando as relações entre a publicação e a rede criminosa do bicheiro.
A CPMI decidiu convocar 51 pessoas, mas o Policarpo Junior, por enquanto, ficou de fora.
Conforme o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o requerimento apresentado para convocar o jornalista, de autoria do senador Fernando Collor (PTB-AL), foi prejudicado porque pedia os dados das conversas de Policarpo com Cachoeira. “Mas esses dados a gente já tem. Nós agora vamos analisar as informações da Polícia Federal, as conversas, e então faremos as próximas convocações”, adiantou o parlamentar, em entrevista ao site Rede Brasil Atual.
Paulo Teixeira reafirmou sua estranheza com o tipo de ligação entre Policarpo e a rede criminosa que espalhou tentáculos por diferentes níveis do Estado e forneceu com regularidade gravações ilegais para fomentar “reportagens” da revista da editora Abril. “Só o que tenho a dizer é que o tempo de convivência de Policarpo com o Cachoeira não é o tempo do bom jornalista. O tempo, a intensidade e a profundidade da relação me levam a entender que o Policarpo foi usado pela organização criminosa”, disse Paulo Teixeira. Calcula-se que o jornalista tenham mantido contatos regulares com o contraventor por pelo menos dez anos.
Interceptações – Teixeira vê como legítima a relação entre parlamentares e jornalistas e não a coloca em xeque, já que é “pautada pelo interesse público”. Entretanto, no caso da Veja com a rede criminosa, “parece ter havido extrapolação”.
Na sessão de quinta-feira (17) da CPMI, além das 51 pessoas convocadas para depor, foram aprovados 36 requerimentos de quebra de sigilo bancário, telefônico e fiscal de empresas e pessoas ligadas a Cachoeira. Por enquanto, o editor da revista “Veja” em Brasília, Policarpo Junior, não será chamado.
As investigações da Polícia Federal que desvendaram os meandros e o modo de operar da organização criminosa de Cachoeira mostram claramente seus vínculos com a revista. O deputado Fernando Ferro (PT-PE) acha que a direção da revista tem que ser chamada à CPMI porque “feriu não a ética, mas o Código Penal, ao se associar com bandidos, com delinquentes, como foi identificado na Operação Monte Carlo, da Policia Federal”.
Relações – As interceptações telefônicas feitas ao longo das operações da PF mostram que Policarpo era interlocutor assíduo de Cachoeira e outros integrantes de seu esquema criminoso. O jornalista já depôs, em 2005, no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, em defesa de Cachoeira. “Na época, quando defendeu o contraventor, não houve nenhuma acusação de que a liberdade de imprensa estava sob risco. Agora que deve explicar suas relações com o criminoso, há vozes na mídia que dizem que haveria ameaça à liberdade de imprensa”, lembrou Ferro.
Na opinião de Paulo Teixeira, as investigações estão avançando bem. “A partir desta semana, conseguimos todas as convocações, todas as quebras de sigilo e os depoimentos. Teremos aqui o Carlos Cachoeira, na terça-feira (22), depois os tesoureiros da quadrilha, os principais operadores e o senador Demóstenes Torres. Todos já estão com data definida. Depois, todas as quebras de sigilo chegarão a partir da semana que vem. Em terceiro lugar, teremos os dados da Polícia Federal. Então, eu diria que as investigações começaram de fato agora”, afirmou.
Equipe PT na Câmara