CUT denuncia na OIT consequências do golpe de 2016

As consequências da automação do trabalho para a classe trabalhadora, em especial para os trabalhadores do serviço público, e a perda de direitos do povo brasileiro após o golpe de 2016 foram denunciadas pela secretária da Mulher Trabalhadora da CUT e presidenta do Comitê Mundial de Mulheres da Internacional de Serviços Públicos (ISP), Juneia Batista, durante a 19º Conferência Regional da OIT, realizada no Panamá.

“Afirmo que no meu país desde o golpe de Estado em 31 de agosto de 2016 todos os programas sociais desapareceram ou foram reduzidos drasticamente, inclusive com mudanças na Constituição, que estabelece que até o ano de 2036 serão feitos cortes em Saúde, Educação e Assistência Social. Assim, as pessoas mais pobres retornaram ao mapa da fome das Nações Unidas”, disse.

Veja a fala da secretária da Mulher Trabalhadora da CUT no o 19º Encontro Regional Americano da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Boa tarde a todos e todas. Meu nome é Juneia Batista, sou brasileira, trabalhadora da assistência social na cidade de São Paulo. Sou Secretária de Mulheres da CUT Brasil e também Presidenta do Comitê Mundial de Mulheres da ISP – Internacional de Serviços Públicos.

Antes de começar meus comentários sobre o Relatório do Diretor Geral, quero, enquanto dirigente da CUT e representante da ISP, deixar o nosso apoio registrado ao povo e aos trabalhadores da Costa Rica que se encontra em seu vigésimo terceiro dia de greve contra o pacote fiscal do governo.

Quero dirigir-me a todas as delegadas e delegados presentes a esta décima nona Conferência Regional da OIT e dizer que li com grande dificuldade o Relatório do Diretor Geral, companheiro Guy Ryder, pois  para minha surpresa nas 22 páginas não detectei a expressão serviços públicos no futuro de trabalho ou trabalho do futuro, pelo menos na versão espanhola.

Isso é uma crítica? Não, de maneira nenhuma. Apenas uma constatação de que trabalhadores e trabalhadores desse setor são invisíveis. Quero dizer, há um valor agregado aos serviços públicos em tempos de automação? Desapareceremos? É um alerta sobre a importância que este setor cumpre desde a segunda metade do século XX no mundo. Também para acordar que no próximo ano, quando a OIT fará seus cem anos de existência é importante deixar para as gerações futuras questões de interseccionalidade de classe, raça e gênero não refletidas no documento final, pois estamos falando do mundo do trabalho onde estas questões são relevantes, pelo menos para a classe trabalhadora.

Eu gostaria de deixar aqui algumas provocações para governos e empregadores sobre de que futuro do trabalho estamos falando, já que quase tudo será robotizado e máquinas não precisam mais do que manutenção, pois não se alimentam, não compram, não usam transporte público ou privado, não vão a hotéis de férias, não precisam economizar, não precisam de moradia, artes, música, dinheiro, ou seja, nada. Somente produzirão. Mas quem vai comprar a produção? Si não compram de onde virá a manutenção do Estado? Si não pagam impostos, logo não necessitam de proteção social, pois eles também não morrem. Consequentemente só serão substituídos por outros… afinal, como ficará as riquezas dos seus “donos”? Como essas riquezas crescerão?

Eu queria saber de que diálogo global estamos falando até agora, se o capital se move como quer, quando quer e onde quer, ao contrário dos trabalhadores e trabalhadoras que muitas vezes são deslocados por causa da mudança climática, conflitos e pobreza extrema.

Finalmente, para dizer que o meu país, Brasil, é mencionado no Relatório do Diretor Geral como um país onde existem mecanismos de redistribuição de renda! Afirmo que no meu país desde o golpe de Estado em 31 de agosto de 2016, todos os programas sociais desapareceram ou foram reduzidos drasticamente, inclusive com mudanças na Constituição, que estabelece que até o ano de 2036, cortes em Saúde, Educação e Assistência Social. Assim, as pessoas mais pobres retornaram ao mapa da fome das Nações Unidas. Acabo de ouvir uma “nova” expressão do governo ao falar aqui de “flexibilização inclusiva”, gostaria de saber o que isso significa, que conceito é esse.

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