Nesta quinta-feira (9), Jornal PT Brasil entrevistou o secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Rivaldo Venâncio da Cunha;
A primeira vacina em dose única contra a dengue deve entrar no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2025, com previsão de produção em larga escala a partir de 2026. “O Instituto Butantan provavelmente se transformará no maior fornecedor mundial da vacina contra a dengue”, informou o secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Rivaldo Venâncio da Cunha.
Em entrevista nesta quinta-feira (9) ao Jornal PT Brasil da TvPT, ele também falou da campanha “10 minutos contra a dengue”, que o Ministério da Saúde lançará para orientar a população a, diariamente, empenhar 10 minutos da rotina para limpar qualquer acúmulo de água parada nas casas e quintais, além de cobrar das prefeituras a limpeza das áreas públicas.
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“O Ministério da Saúde está em estreito contato com o Instituto Butantan para que a vacina seja aprovada pela Anvisa, cumprindo evidentemente todos os requisitos que acreditamos que serão cumpridos. Eu tive a oportunidade de acompanhar as pesquisas dessa vacina lá no Mato Grosso do Sul e os resultados foram fantásticos”, relatou Rivaldo, ao falar da parceria do Butantan com institutos nacionais de saúde dos Estados Unidos.
Solicitação de registro
Em dezembro, o Instituto Butantan fez o pedido de registro à Anvisa. “É uma grande conquista, uma grande contribuição para a ciência. Vai ser a primeira vacina contra a dengue em dose única”, ressaltou, ao falar do desafio, após o registro, da produção em larga escala. Juntos, o Instituto Butantan e o Ministério da Saúde têm buscado todas as alternativas para a fabricação de grande quantidade da vacina, segundo Rivaldo.
Enquanto a vacina do Butantan não chega, o governo federal segue adquirindo toda a produção do laboratório Takeda, que fabrica a vacina Qdenga. Para 2025 serão 9,5 milhões de doses da vacina. Como são duas doses por pessoa, serão 4,25 milhões de pessoas vacinadas, “o que ainda é muito pouco para se esperar o impacto decorrente da prevenção por meio dessa vacina”, observou Rivaldo, ao alertar as famílias cujas crianças ou adolescentes que ainda não tomaram a segunda para que procurem imediatamente a unidade de saúde para completar a imunização.
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Em 2024, ao disponibilizar a vacina Qdenga para crianças de 10 a 14 anos, o Brasil ganhou o reconhecimento de primeiro país do mundo a disponibilizá-la no sistema público de saúde.
“Uma das grandes conquistas da ciência no mundo nos últimos 100 anos foi essa vacina contra a dengue”, apontou Rivaldo, ao detalhar que no final da década de 1940 a primeira equipe de cientistas que pesquisou a vacina contra a dengue e trabalhou durante quase 10 anos, mas não conseguiu.
O coordenador dessa pesquisa decidiu estudar uma outra vacina, contra a poliomielite. “O mesmo doutor Albert Sabin que identificou e nos presenteou uma vacina contra a poliomielite é o mesmo Sabin que trabalhou nos primeiros anos em busca de uma vacina contra a dengue. Felizmente agora mais recentemente, quase 70 anos depois, temos acesso a essa vacina. Infelizmente o processo de produção dessa vacina tão esperada pela ciência mundial é muito lento e, por isso o laboratório tem limitações na sua fabricação”, detalhou Rivaldo.
10 minutos contra a dengue
Rinaldo fez questão de enfatizar que a dengue, uma doença cujo transmissor se cria essencialmente no ambiente doméstico, precisa ser combatida com rigor pelos cidadãos dentro de casa.
“É preciso cuidar do seu quintal e não deixar objetos que possam acumular água, Essa ação é fundamental e por isso estamos lançando, junto com as secretarias municipais e estaduais de saúde, a campanha ‘10 minutos contra a dengue’, ou seja, se cada cidadão e cada cidadã dedicar 10 minutos para cuidar dos pontos potenciais de criação do mosquito Aedes Aegypti, certamente vamos superar esse momento difícil em relação a doença”, assinalou.
A lista de itens a serem observados inclui verificar se tem água parada atrás da geladeira, nos potes de água dos cães que precisam ser sempre limpos, verificar se no quintal tem um pneu com água armazenada, latas ou quaisquer objetos que possam acumular água, olhar as calhas das casas para ver se não estão entupidas e as folhagens que também podem acumular água parada.
“É preciso cobrar também do poder público para que faça a sua parte limpando as praças públicas, os pátios das escolas, das unidades de saúde e se está fornecendo água para o uso doméstico de forma irregular”, salientou Rinaldo, explicando que este é um dos problemas mais graves associados à proliferação do Aedes. Segundo ele, o fornecimento intermitente faz com que as pessoas armazenem água, e esses locais podem se transformar em potenciais focos de proliferação do Aedes.
“É importante que o cidadão também cobre do poder público, além do fornecimento regular da água e da coleta do lixo urbano, manter a cidade limpa. Essas ações cotidianas são fundamentais para reduzir o número de casos de dengue”, apontou.
Superação exitosa do triste passado recente
Após alguns anos de negacionismo, com Bolsonaro zombando de quem usava máscara contra a Covid 19 e menosprezando o conhecimento científico, Rivaldo exaltou o reconhecimento internacional de que o Brasil resgatou o respeito à ciência.
“A produção científica voltou para o país como um todo e o Brasil passa a apresentar indicadores que são altamente animadores da recuperação do desserviço que foi feito pelo governo anterior, como a recuperação das altas coberturas vacinais. Indiscutivelmente são indicadores e conquistas a serem comemoradas”, afirmou ao relembrar que em menos de dois anos de governo Lula o país registrou altos níveis de vacinação para 15 das 16 principais vacinas, incluindo a recertificação de país livre do sarampo e da rubéola, e da rubéola congênita.
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Os avanços são fruto de uma grande articulação entre o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais de saúde e as secretarias municipais de saúde, representadas pelos seus conselhos nacionais “e por uma gama gigantesca de organizações públicas e privadas, que são organizações da sociedade civil que aceitaram o desafio e se posicionaram contra o negacionismo.
“Cabe destacar que essa mobilização é de cada trabalhadora e cada trabalhador lá da ponta do Sistema Único de Saúde, que é quem está percorrendo o país de barco, de lancha, a pé para retomar essas elevadas coberturas vacinais. Esse conjunto de trabalhadores e trabalhadores do SUS merece o nosso respeito, o nosso carinho e a nossa admiração, assim como todas as demais organizações públicas e privadas que têm participado dessa tarefa gigantesca que é proteger vidas, que é proteger a nossa e as futuras gerações”, finalizou.
Da Redação da Agência PT