O Brasil possui relações amistosas com o Irã de longa data. Atualmente, o fluxo de comércio entre os dois países é de US$ 2,1 bilhões
- O mundo precisa de paz para que a economia global se recupere. O único setor econômico que tem interesse num conflito de grandes proporções é a indústria bélica.
- Um dos principais motivos – senão o principal motivo – para a escalada beligerante de Donald Trump é fortalecer a sua campanha para evitar o impeachment e, na sequência, conseguir a reeleição. Ou seja, assim como vários de seus antecessores, o magnata das fake news quer se reeleger à custa de milhares de vidas, inclusive de seus compatriotas.
- Um eventual conflito entre Estados Unidos e Irã tem grande possibilidade de envolver todos os países da Ásia – inclusive China e Rússia – e se transformar numa guerra de escala mundial. Ao contrário da 1ª e da 2ª Guerras, entretanto, as potências militares hoje possuem capacidade para exterminar a vida humana no planeta.
- Há muitas alternativas à guerra que passam pelo diálogo e por outras medidas, como sanções econômicas. Aliás, as sanções econômicas impostas pela comunidade internacional – por pressão dos Estados Unidos – ao Irã só encontram precedentes na história quando comparadas ao embargo econômico contra Cuba. A guerra é um recurso extremo cujas consequências são impossíveis de estimar.
- Além das sanções comerciais, o Irã sofre há mais de duas décadas com a ação sistemática de agências de espionagem que perseguem e “eliminam” cientistas iranianos de várias áreas, não apenas daqueles suspostamente relacionados ao programa nuclear do país.
- Do ponto de vista do Brasil, a guerra pretendida por Donald Trump, definitivamente, não favorece qualquer interesse do país. Muito ao contrário.
- A postura do governo Bolsonaro de apoiar a operação militar que resultou no assassinato do general Qasem Soleimani foi precipitada e irresponsável, fruto da submissão incondicional aos Estados Unidos que nos envergonha perante o mundo. Nenhum país emitiu uma nota de apoio ao governo Trump tão vassala quanto a do Brasil.
- Em 2010, através do governo Lula e do governo da Turquia, foi feito um acordo com o Irã para que este país se comprometesse com o uso do urânio para finalidades pacíficas. Outro acordo foi firmado em 2015, desta vez com os Estados Unidos, então presidido por Barack Obama. Em 2018, Trump abandonou o acordo unilateralmente e impôs sanções ao Irã.
- O sentimento do povo brasileiro é amplamente favorável à promoção da paz e isso é expresso nas tradições da nossa diplomacia, que é historicamente reconhecida no mundo inteiro por privilegiar a construção de consensos multilaterais e não por instigar o conflito, como o atual governo vem fazendo agora, ao jogar gasolina na fogueira acesa por Donald Trump. Ao adotar como sua a posição beligerante dos Estados Unidos, Jair Bolsonaro está traindo o povo brasileiro.
- O Brasil possui relações amistosas com o Irã de longa data. Atualmente, o fluxo de comércio entre os dois países é de US$ 2,1 bilhões, com a balança favorável ao Brasil em US$ 2 milhões. Em 2018 o Irã foi o maior mercado para o milho brasileiro e o quinto maior destino da carne bovina e da soja exportadas pelo Brasil.
- A cooperação entre Brasil e Irã se dá em várias áreas e setores da economia: ciência e tecnologia, agricultura, engenharia, energia (hidroeletricidade e energias renováveis), capacitação industrial, entre outras.
Por estas e outras razões, digo com todas as letras: não à guerra de Trump e não à submissão irresponsável de Bolsonaro.
Paulo Pimenta (PT-RS) é Deputado Federal e líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados
Artigo publicado originalmente por Carta Capital