No marco do cinquentenário do Golpe – promovido por militares, mas com apoio da grande imprensa, da elite econômica e do governo dos Estados Unidos – que lançou o Brasil numa ditadura de quase 21 anos, a Câmara realiza, nesta terça-feira (1º), uma série de atividades para “descomemorar” o episódio mais tenebroso da nossa história.
Se a passagem da data do Golpe é lembrada todos os anos por aqueles que sofreram na própria carne – e também por aqueles que comandaram o regime que impôs – as violações de direitos, os eventos deste ano ocorrem num contexto diferenciado. Para além do simbolismo dos 50 anos, outros elementos compõem o cenário atual: as revelações feitas pelo trabalho da Comissão Nacional da Verdade; o recente mea culpa envergonhado da Rede Globo e da Folha de São Paulo, empresas que apoiaram o governo de exceção desde o seu início; as frustradas reedições da infame “Marcha da família com Deus pela liberdade”; a anulação da sessão do Congresso Nacional de 2 de abril de 1964, que declarou vago o cargo de Presidente da República; a homenagem póstuma ao ex-presidente João Goulart, feita em dezembro de 2013 por determinação da presidenta Dilma Rousseff, entre outros fatos, como declarações de militares da reserva pedindo nova intervenção das Forças Armadas e a derrubada do governo.
Durante cerimônia no Palácio do Planalto, nesta segunda-feira (31), a presidenta Dilma Rousseff afirmou que a data “exige que lembremos e contemos o que aconteceu” e que isso é uma dívida com “todos os que morreram e desapareceram” nos porões do regime. “Cinquenta anos atrás o Brasil deixou de ser um país de instituições ativas, independentes e democráticas. Por 21 anos, mais de duas décadas, nossas instituições, nossa liberdade, nossos sonhos foram calados”, disse Dilma.
Já em sua página no Facebook (https://www.facebook.com/SiteDilmaRousseff), também nesta segunda, foram reproduzidos trechos de um depoimento prestado por Dilma ao Conselho dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG). O relato expressa a dor de quem foi vítima do terrorismo de Estado vigente naqueles tempos. “ Fiquei presa três anos. O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente o resto da vida”, registra o texto publicado na rede social.
O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), considera que a atual chefe de Estado do Brasil “é o maior símbolo da luta contra a ditadura” e que este 1º de abril será um dia para “se comemorar a volta da democracia, do direito de voto, da liberdade de expressão e de outros direitos”.
Rogério Tomaz Jr.