Número de casos de Covid-19 no Brasil pode ser 15 vezes maior, apontam estudos

O quadro da pandemia do coronavírus no Brasil é muito mais grave do que se imagina. De acordo com um estudo realizado por uma equipe de cientistas independentes de várias instituições brasileiras de pesquisa, entre elas a Universidade de Brasília (UNB) e a Universidade de São Paulo (USP), o Brasil pode ter até 15 vezes mais casos da Covid-19 do que os 23 mil oficialmente confirmados pelo Ministério da Saúde.

A estimativa divulgada pelo portal “Covid-19 Brasil” é de que até o dia 11 de abril poderia haver, no Brasil, 313.288 mil casos de infecção, o que colocaria o País atrás apenas dos Estados Unidos no ranking mundial de contaminação. O relatório soma os casos já divulgados com as estimativas de subnotificações. São Paulo é o estado que estaria com o maior número de casos, estima-se que 125.974 mil pessoas estariam infectadas; o Amazonas ficaria em segundo lugar com 39.329 mil infectados; seguido do Rio de Janeiro que teria 37.216 mil casos.

Subnotificações enormes

O deputado Henrique Fontana (PT-RS), que também é médico, afirmou que Bolsonaro, na crença de que o coronavírus é uma ‘gripezinha’, não se movimenta para distribuir mais testes, disponibilizar mais leitos de UTI com respiradores ou encontrar saídas solidárias para a economia.

“A falta de testagem, que é um dos mecanismos mais eficientes para definir políticas públicas para controlar a situação de pandemia, está gerando uma subnotificação enorme de casos no Brasil. Conforme especialistas, nós já teríamos cerca de 313 mil casos de infectados pelo novo coronavírus, 15 vezes mais do que o notificado pelas secretarias estaduais e pelo Ministério da Saúde. O presidente escolheu ignorar os alertas mundiais e apostar na política do confronto. E o seu negacionismo está cobrando um preço muito alto”, denunciou Fontana, ex-secretário de Saúde de Porto Alegre.

Para o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) o governo federal não preparou o Brasil para um volume adequado de testes. “Somos o País que menos testa proporcionalmente a nossa população”, explicou.

O Brasil é um dos países que menos testam no mundo, observa o ex-ministro da Saúde. Para Padilha, o País vive um cenário de incertezas diante da pandemia que assola o planeta. A proporção de testes por um milhão de habitantes no Brasil, em relação a outros, é altamente desproporcional. Nos Estados Unidos, por exemplo, foram realizados 8.559 mil testes por 1 milhão de habitantes, enquanto no Brasil os dados apontam apenas 296 testes por 1 milhão de habitantes. Se compararmos com países da América do Sul, o Brasil só está à frente da Guiana e da Bolívia.

Alexandre Padilha cobra do governo de Bolsonaro mais responsabilidade e menos briga. “Ao invés de ficar brigando entre si, tinha que se dedicar a convocar todas as universidades, institutos, fábricas, laboratórios privados que têm laboratórios de biologia molecular e mobilizá-los a apoiar a testagem, sobretudo nas populações vulneráveis, comunidades, nas grandes favelas, bairros e abrigos de idosos, unidades que cuidam de população de rua, áreas indígenas e sistema penitenciário”, recomenda Padilha.

Urgência: O que fazer?

Em entrevista ao jornal El País, a médica Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), defende um distanciamento social mais severo nas próximas semanas como medida fundamental para que o Sistema Único de Saúde (SUS), que atende a maior parte da população, consiga ampliar seus leitos de UTI.

Alexandre Padilha lembra que é urgente convocar médicos do programa Mais Médicos, inclusive brasileiros formados no exterior e médicos cubanos, para garantir atendimento na atenção primária evitando que a pessoa precise ir ao hospital. Também é preciso mobilizar a rede de testagem e montar as unidades sentinelas, além de dar crédito e antecipação de compra para reconversão da indústria para que produza máscaras, aventais e peças para respiradores mecânicos.

Para o parlamentar é extremamente importante proteger profissionais de saúde e serviços essenciais. “Caso contrário perderemos os melhores guerreiros nas primeiras batalhas. Em saúde é melhor pecar pelo excesso na precaução do que chorar filas de caixões como nos outros países”. Precisamos manter o isolamento social, até porque não atingimos a oferta de médicos, testes, leitos de UTI e máscaras”, adverte Padilha.

Na mesma linha, o deputado Fontana cobra um plano do governo para o combate ao vírus. “Onde está o projeto de reconversão industrial do País para produzir máscaras, EPIs, respiradores e testes? Onde está o projeto de expansão dos leitos de UTIs, para quais cidades e regiões do país? O governo deveria ir à televisão para apresentar esse plano”, recomenda.

Para o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) , o governo federal deveria chamar a indústria brasileira, os segmentos da indústria automobilística, por exemplo, colocar dinheiro para que possam contratar e fazer, se preciso, um parque industrial para produzir os equipamentos e treinamentos que são necessários.

Cenário de emergência

Segundo a Agência Reuters, o Brasil já tem 12 das 27 capitais em um cenário de emergência no combate ao coronavírus, quando se compara a incidência de casos da doença em relação à sua população, segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde divulgados nessa segunda-feira (13).

O país conta com uma média de incidência de 111 pessoas por 1 milhão de habitantes. O ministério considera a situação de emergência quando uma determinada capital registra uma incidência 50% acima do índice nacional.

Estão nessa situação Fortaleza, com 573 casos; São Paulo, com 518; Manaus, com 482; Macapá, com 391; Florianópolis, com 345; Recife, com 339; São Luiz, com 302; Rio de Janeiro, com 297; Vitória, com 279; Porto Alegre, com 210; Brasília, com 204; e Boa Vista, com 175.

“O Brasil não faz testes na prática e nós não nos preparamos para sobrecarga do serviço de saúde. O Brasil não conseguiu sequer comprar máscaras. Nós estamos num momento extremamente perigoso para alguns estados que estão entrando na chamada velocidade descontrolada como São Paulo, Ceará, Amazonas e Rio de Janeiro. Eu sou, obviamente, favorável à quarentena, ao isolamento, mas temos que pressionar o governo para fazer testes”, afirmou o médico e deputado Arlindo Chinaglia.

Lorena Vale, com agências

 

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