Rachadinha e a fabulosa loja de “lavar” dinheiro

Extratos bancários da quebra de sigilo da loja de chocolate do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) divulgada pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, nesta quinta-feira (20), revela que o filho do presidente da República recebeu 1.512 depósitos em dinheiro, com valores repetidos entre março de 2015 e dezembro de 2018 na conta de sua franquia de uma rede de chocolates, localizada na zona oeste do Rio de Janeiro.

Ao comentar o fato, os deputados da Bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara, Alencar Santana (PT-SP) e Paulo Pimenta (PT-RS) foram taxativos em afirmar que Flávio Bolsonaro usou a franquia para lavagem de dinheiro. Os parlamentares vão na mesma linha do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que suspeita que o negócio é usado para esse fim.

“A fabulosa fábrica de chocolate do senador Flávio Bolsonaro, na verdade, era uma extraordinária fábrica de dinheiro ilegal, advindo da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a famosa rachadinha organizada pelo senador e pelo seu ex-assessor Fabrício Queiroz. O que acontecia na Alerj, na verdade, era uma grande trama, um grande esquema e a loja de chocolate simplesmente usada para a lavagem de dinheiro”, acusou Alencar Santana.

Foto: Gabriel Paiva

Para Alencar, esse fato precisa ser apurado com urgência e os envolvidos sejam punidos.  “Um absurdo que precisa, urgentemente, ter um desfecho e a devida punição. Não pode o senador e a sua família pousarem com os ares da moralidade, o que, na verdade, são pessoas que usurpavam do dinheiro da Assembleia Legislativa, do dinheiro público e de maneira totalmente irregular”, cobrou.

Para o deputado Paulo Pimenta as informações divulgadas pelo JN “é mais uma prova cristalina de um esquema sofisticado de lavagem de dinheiro”. Pimenta acredita que o dinheiro é originário das relações, não só na Assembleia Legislativa, “mas de crime organizado que abasteceram a família Bolsonaro durante muitas décadas”.

Loja de fachada

Segundo o deputado gaúcho, todas as evidências revelam que essa loja era uma loja de fachada. “Os dados contábeis são totalmente incompatíveis e em qualquer outra circunstância já tinha sido determinado mandado de busca e apreensão, e até mesmo de prisão dos envolvidos. Isso só não aconteceu até agora por se tratar de familiares do presidente da República”, lamentou Pimenta.

Paulo Pimenta

Foto: Gustavo Bezerra

Transações suspeitas

As transações suspeitas foram feitas de formas sucessivas, em dinheiro vivo e com os mesmos valores, de acordo com a Rede Globo. Foram feitos, por exemplo, 63 depósitos de R$ 1,5 mil em dinheiro, outros 63 de R$ 2 mil e mais 74 transações em espécie no valor de R$ 3 mil, valor máximo permitidos para os depósitos.

Os dados bancários mostram ainda que em 12 datas diferentes há dezenas de depósitos de R$ 3 mil. Em 28 de novembro de 2016, por exemplo, foram sete, um total de R$ 21 mil. Já em 18 de dezembro de 2017, 10 depósitos de R$ 3 mil, somando R$ 30 mil.  Em 25 de outubro de 2018, 11 depósitos de R$ 3 mil, totalizando R$ 33 mil.

Na época, conforme a reportagem, qualquer depósito em espécie acima de R$ 10 mil deveria ser reportado às autoridades para repelir a lavagem de dinheiro. Depósitos fracionados, no entanto, driblam a fiscalização e despertam a suspeita de ocultação da origem da quantia em espécie.

A defesa de Flávio Bolsonaro nega qualquer irregularidade nas contas do senador e afirmou à Rede Globo que todas as informações sobre o caso foram prestadas ao Ministério Público.

Investigação

Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), os depósitos são desproporcionais ao faturamento da loja e coincidem com o período em que Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador, arrecadava parte dos salários dos servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no esquema conhecido como “rachadinha”.

Os promotores responsáveis pela investigação afirmam que a franquia da rede Kopenhagen teria sido usada “como conta de passagem” para que as verbas desviadas voltassem a Flávio Bolsonaro como lucros fictícios. O valor “lavado” na loja pode chegar a R$ 1,6 milhão.

Entre junho e julho de 2017, a conta pessoal do então deputado estadual Flávio Bolsonaro recebeu 48 depósitos em dinheiro vivo. As transações tinham sempre o mesmo valor, R$ 2 mil, e foram feitas no autoatendimento da agência bancária da Alerj.

Embora haja todos esses indícios, as investigações contra Flávio seguem a passos lentos, em razão de uma série de manobras da defesa.

A principal foi o pedido para que ele tenha foro especial. Com isso, foi criada uma disputa sobre quem investiga o senador – se a primeira instância, na Justiça criminal do Rio, ou um tribunal especial. A decisão, ainda não proferida, cabe ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Organização criminosa

Caso seja denunciado, o filho do presidente deve responder pelos crimes de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Se condenado, ele pode perder o mandato.

Após a prisão de Fabrício Queiroz, há dois meses, vários pagamentos suspeitos à família do presidente vieram à tona. O policial aposentado Queiroz recebeu mais de R$ 2 milhões de servidores do gabinete entre 2007 e 2018 e era responsável pela arrecadação dos repasses.

 

Benildes Rodrigues com informações do site Brasil de Fato

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