Presidente da CDHM manda para a ONU relato sobre crescimento do neonazismo no Brasil

O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM), deputado Helder Salomão (PT-ES), enviou para Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michele Bachelet, um relato sobre o crescimento do neonazismo na sociedade brasileira. O documento, que foi enviado na última sexta-feira (26) também para a Relatora Especial sobre Formas Contemporâneas de Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância da entidade, E. Tendayi Achiume, reportou ainda manifestações de caráter neofascista e racista por parte de autoridades.

A presidência da CDHM informa que, segundo mapeamento realizado pela antropóloga Adriana Magalhães Dias, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), existem 334 células nazistas no Brasil, com cerca de 5 mil membros ativos e 200 mil simpatizantes. A pesquisadora destaca que, se houvesse uma conspiração neonazista hoje no Brasil, seriam pelo menos 600 pessoas dispostas a cometer crimes graves. Os grupos brasileiros professam ideias ultranacionalistas, racistas, xenófobas e discriminatórias com apologia, em maior ou menor grau, ao uso da violência. Eles concentram-se no Sul e Sudeste, mas já se expandem para o Centro-Oeste, e usam a internet para divulgar os ideais do sistema.

Um exemplo desse crescimento foi o grande aumento das denúncias de crimes cibernéticos com manifestações neonazistas durante a eleição de 2018. De acordo com o levantamento da ONG SaferNet, multiplicaram-se cinco vezes em outubro daquele ano, entre o primeiro e o segundo turno. No último ano a expansão do número de alertas desse tipo foi 253% maior, passando de 87 denúncias e 46 páginas da internet em abril de 2019, para 307 denúncias e 109 páginas em abril de 2020.

O documento enviado a ONU reporta ainda uma série de situações. Dentre as quais a ocorrida no dia 30 de maio, quando o grupo “300 do Brasil” marchou com tochas, roupas pretas e máscaras para frente do Supremo Tribunal Federal (STF), “copiando uma estética da Ku Kux Klan”.

O relato descreve ainda que, em 10 de junho, uma reunião virtual que discutia estratégias de combate ao racismo com mais de 70 convidados do Instituto Comunitário Grande Florianópolis, a maioria mulheres, foi interrompida por imagens de cabeças sendo cortadas, um homem se masturbando, pedidos de morte a mulheres e a figura de uma suástica. A imprensa descreve mais seis ataques similares em diferentes estados.

Jair Bolsonaro

Helder Salomão informa ainda ao Alto Comissariado da ONU que o presidente da República, Jair Bolsonaro, coleciona uma série de declarações racistas. Como exemplo, ele citou declaração do presidente em relação ao deputado Hélio Lopes, que é negro: “o Hélio deu uma “queimadinha”, ao dizer que o parlamentar nasceu após “dez meses” de gestação. Sobre os indígenas, o deputado lembrou a frase em que Bolsonaro disse que “o índio é um ser humano igual a nós, não é para ficar isolado em uma reserva como se fosse um zoológico”. Sobre os governadores do Nordeste, o presidente da CDHM relatou que o presidente disse que eles eram “governadores da Paraíba”.

Foto: Banco de Imagens – Câmara dos Deputados

Outras frases ditas no passado por Bolsonaro também foram relembradas. Em uma delas, Bolsonaro expôs todo seu preconceito contra os afrodescendentes. “Fui num quilombo em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”, disse o atual presidente na ocasião.

Antes disso, em 2011, Bolsonaro foi questionado: “Se o seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?”. Em resposta, Bolsonaro respondeu: “Ô Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados, e não viveram em ambientes como, lamentavelmente, é o teu”.

O presidente da CDHM encerra o relato a ONU ao lamentar que tais afirmações sejam proferidas por altas autoridades da República brasileira. “Na sociedade brasileira existe um aumento de adesão a formas contemporâneas de fascismo e nazismo, tanto para extermínio da esquerda, quanto ao racismo e supremacia racial. Além dos discursos por parte de altas autoridades, que também manifestam expressões racistas”, pondera Salomão.

 

Assessoria da CDHM

 

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