Petistas anunciam que vão ao STF contra a permissão para empresários furarem a fila da vacina

Parlamentares da Bancada do PT na Câmara já anunciaram em plenário, nesta quarta-feira (7), que o partido irá ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a permissão para que empresários possam comprar diretamente vacinas contra a Covid-19. “Nós nos opusemos à votação desse projeto (PL 948/21) ontem à noite e continuaremos a nos opor. Iremos aos tribunais, ao Supremo Tribunal Federal para evitar o fura-fila vergonhoso. Milhões de brasileiros com comorbidade e com grande risco de morrer estarão nas filas, enquanto jovens, empresários ricos, aqueles que detêm poder econômico, compram uma nova porta de entrada para fazer suas vacinas”, afirmou o deputado Henrique Fontana (PT-RS).

E o deputado Enio Verri (PT-PR) disse que espera que o Senado não dê continuidade a esse “crime”, que foi a aprovação desse projeto ontem (6). “Enquanto Partido dos Trabalhadores, tomaremos todas as iniciativas cabíveis no Supremo Tribunal Federal para que não avance, se aprovado, essa proposta, que dá condições para os ricos terem vacinas e os pobres aguardarem em uma fila o dia da vacina ou da morte”, afirmou.

Deputado Enio Verri (PT-PR). Foto: Gustavo Bezerra

Plano da elite brasileira

O deputado Henrique Fontana chegou a mostrar, em plenário, a charge da cartunista iraniana Mahnaz Yazdani, que mostra como se comporta a “elite do atraso brasileiro”. A ilustração retrata os ricos pisando em tapete vermelho – em cima de uma multidão – para receber a vacina. E explicou que diante do caos sanitário que o governo constituído pela elite do atraso brasileiro — o governo Bolsonaro — criou no País, em que deixou de comprar vacinas quando elas eram disponíveis, e diante da constatação de que a pandemia saiu de controle, com cerca de 4 mil brasileiros morrendo por dia, a elite do atraso resolveu colocar um plano em marcha: “na falta de vacinas, eu quero primeiro vacinar a mim, a minha família, dizem eles, e os meus funcionários e seus familiares”.

Na realidade, segundo Fontana, o projeto votado ontem por esta Casa é um escândalo mundial e significa a destruição do Plano Nacional de Imunizações. “Significa o abandono dos critérios técnicos, epidemiológicos, científicos e humanitários de vacinar primeiro os mais vulneráveis, aqueles que têm maior risco de morrer, se contraírem a Covid. É assim que se combate uma pandemia com uma visão solidária, digna e decente”, ensinou.

Fontana desafiou ainda os empresários a mostrar onde tem vacina disponíveis. “Se eles sabem onde há vacinas disponíveis, por que não contam para este governo incompetente de Bolsonaro, para que compre as vacinas para todos os brasileiros?”, indagou e acrescentou: “Eles querem o privilégio, eles querem o escárnio, eles querem o salve-se quem puder, eles querem o povo abandonado à própria sorte de um governo incompetente que eles elegeram, enquanto eles buscam canais privilegiados”, desabafou.

Papel do SUS

O deputado Enio Verri destacou o papel revolucionário do Sistema Único de Saúde (SUS), em especial em momentos como este de pandemia da Covid-19, nesta grande crise que o nosso Brasil atravessa, uma crise que ontem levou quase 4.200 vidas de brasileiros e brasileiras, uma crise que já ultrapassa 330 mil mortes. “Uma crise que é aprofundada pela insensibilidade e incompetência de Jair Bolsonaro e seus ministros”, criticou o deputado, acrescentando que o País vive uma contradição, porque, ao mesmo tempo que hoje, dia 7 de abril, se homenageia os trabalhadores do SUS e reconhece o papel do Sistema Único de Saúde, “vivemos um momento de mercantilização da saúde com a vacina”.

Para Enio Verri, a aprovação do projeto “fura-fila”, que permite que a iniciativa privada possa comprar vacinas, doar parte para o SUS e a outra parte ficar para vacinar a sua própria equipe “é um desrespeito à vida humana”. Como exemplo ele citou que a lei abre a possibilidade para que um executivo de 40 e poucos anos, que joga tênis quatro vezes por semana, ser vacinado, enquanto um idoso de 60 anos a 70 anos, com comorbidade, não receber essa vacina. “O dinheiro vai se impor sobre a vida. Esse é o tipo de saúde que foi aprovado ontem na Câmara dos Deputados”, lamentou.

Vergonha

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) também manifestou sua indignação com o projeto aprovado. “Tive muita vergonha ao ver essa votação de ontem do fura-fila, porque estamos assistindo no Dia Mundial da Saúde, quando deveríamos comemorar grandes pesquisas feitas, grandes diagnósticos de proteção à saúde do nosso povo, mais de 4 mil óbitos no País. Estamos assistindo cerca de 4 mil pessoas morrendo por dia, estamos assistindo um presidente da República ignorando todos os médicos, enfermeiros e aqueles que estão dando as suas próprias vidas para cuidar da dos outros”, desabafou.

“Fiquei muito triste, e vou continuar. Não é apenas uma indignação, é uma desumanidade o que este Governo está fazendo. Temos famílias dizimadas, famílias desamparadas, uma política social asfixiada e as pessoas morrendo de Covid e de fome. É preciso entender isso”, reforçou a deputada, ao frisar que não se pode permitir que a iniciativa privada decida sobre a vida dos outros. “Vai fazer isso de graça? Não. Vai morrer mais pobres. Se querem ajudar este País, se querem fazer com que a economia cresça, ajudem, mas parem de matar as pessoas com essas ações políticas, pecaminosas, porque, na verdade, é um grande jogo político”, denunciou.

Reprodução Instagram

Coragem para furar fila

O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) lamentou a aprovação do projeto. “Autorizar empresas a comprarem vacinas num momento onde vacina faz falta no mundo todo é, rigorosamente, um projeto de lei para furar a fila. Nós temos que proteger, primeiro, os mais vulneráveis”, defendeu. Ele citou ainda que o Brasil perdeu várias oportunidades de adquirir a vacina para imunizar todos os brasileiros. “O governo se recusou a comprar mais do que 10% do consórcio da OMS do Covax, por isso, comprou só 40 milhões de vacinas, agora quer comprar mais 40 milhões e a OMS não tem.

Chinaglia explicou ainda que o Brasil tem a capacidade de vacinar 40 milhões de pessoas por mês. Portanto, seria possível em 4, 5, 6 meses vacinar toda a população brasileira. “Por que não faz? Porque, além de faltar vacina em todo o planeta, o governo brasileiro falhou em todos os momentos e não se esforçou para comprar o imunizante de várias empresas, não. Apostou numa única – a AstraZeneca – e comprou pouco”, criticou.

O deputado ironizou ainda dizendo que a elite econômica, que tem a coragem de praticar o fura-fila, não irá doar 50% do imunizante para o SUS como se pensa. “O raciocínio é o inverso, a metade que eles estão usando está sendo tomada do SUS”, enfatizou.

Líder da Minoria no Congresso, Arlindo Chinaglia. Foto: Gustavo Bezerra/Arquivo

“Salvo conduto”

Ao se manifestar também contra o projeto do “fura-fila” da vacina, o deputado Nilto Tatto (PT-SP) disse que a Câmara ontem deu um passo na contramão do mundo. “Enquanto globalmente os governos de todos os perfis ideológicos centralizam a luta contra o Covid nos sistemas públicos de saúde para garantir o acesso universal à vacina, aqui foi dado o salvo-conduto para o ‘cada um por si’, com a iniciativa privada disputando a compra de vacinas e concorrendo com o Estado numa lógica individual que vai favorecer quem tem dinheiro e condenar à morte milhares de pessoas, especialmente os mais pobres, os autônomos, a massa de desempregados e os pertencentes aos grupos de risco que ainda não se vacinaram”, denunciou.

Deputado Nilto Tatto – Foto: Agência Câmara

E o deputado Paulo Guedes (PT-MG) destacou que o governo Bolsonaro sempre trabalhou na contramão de combater a pandemia. “Primeiro, não incentivou o uso de máscaras. Segundo, não comprou as vacinas. Não tomou nenhuma medida necessária”, criticou. Para o deputado, ao aprovar o projeto que garante os empresários comprarem vacina, mais uma vez os ricos foram priorizados. “Nós da bancada do PT votamos contra esse projeto. Esperamos que ele não avance e que não seja sancionado. Isso é um absurdo, ainda mais num momento como este em que os governos deveriam agir rapidamente, tomar as medidas de isolamento, tomar as medidas necessárias, acompanhar o que fala a Organização Mundial da Saúde, aprender com o que está acontecendo no mundo, nos outros países”, enfatizou.

Do acervo do dep. Paulo Guedes

Vânia Rodrigues

 

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