Apesar de todas as sabotagens ao isolamento social e à vacinação durante a pandemia, Jair Bolsonaro é o grande derrotado na batalha contra a Covid-19. Um ano após a aplicação da primeira dose da vacina CoronaVac na enfermeira Mônica Calazans, em 17 de janeiro de 2020, o Programa Nacional de Imunização (PNI) provou que vacinas salvam vidas. Mesmo com os atrasos do Ministério da Saúde, responsável por colocar o país em 54º lugar no ranking mundial de vacinação, a média móvel de mortes não subiu na mesma velocidade das contaminações, graças às aplicações dos imunizantes contra a doença. A atuação de parlamentares da CPI da Covid e o apoio da população foram fundamentais para o êxito parcial da campanha, fazendo frente a Bolsonaro.
“O Brasil mostrou o porquê é referência em vacinação, não só pela organização, mas pela nossa população, que é sempre a favor de vacina“, declarou a vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai, ao Poder 360. “O 1º ano começou lento, mas quando realmente as doses chegaram o Brasil mostrou a sua experiência em campanhas de vacinação bem-sucedidas“, avaliou Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP (Universidade de São Paulo), também em depoimento ao 360.
O país tem hoje 78,3% da população com pelo menos uma dose aplicada e 68,6% com o primeiro ciclo finalizado. Infelizmente, a demora para engrenar o início do processo fez com que o povo brasileiro pagasse um preço alto demais, perdendo mais de 621 mil pessoas por causa da doença. Naquele 17 de janeiro, pelo menos 49 países já tinham começado a vacinar suas populações, muitos no mês anterior. Enquanto isso, o país enfrentava um violento colapso hospitalar em capitais como Manaus (AM), reflexo da segunda onda de contaminações e mortes por Covid-19 que varreu o país depois das festas de fim de ano.
“Demorou muito para que tivesse oferta de vacinas. E isso fez com que muitas pessoas morressem desnecessariamente”, lamentou doutora em saúde coletiva e epidemiologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Ethel Maciel.
CPI, trincheira de combate ao negacionismo bolsonarista
O jogo começou a mudar a partir da instalação da CPI da Covid, em maio. Por causa da atuação dos senadores naquela que se transformou na principal trincheira de combate ao negacionismo bolsonarista, o governo foi obrigado a acelerar o início da campanha.
Até abril, o país não tinha nem 10% da população com alguma dose da vacina. De acordo com a plataforma Our World in Data, em março de 2021, Israel já tinha vacinado metade da população com uma dose de vacina. O Brasil chegou ao mesmo resultado apenas em novembro.
Ao mesmo tempo, os parlamentares provaram que o governo Bolsonaro ignorou dezenas de ofertas de vacinas mas trabalhou para montar um balcão de negócios a fim de favorecer um esquema de corrupção na compra de imunizantes que não existiam. Além disso, investiu na compra de remédios ineficazes contra a doença e perigosos para os brasileiros, como a cloroquina, que chegou a ser inalada por pacientes em estado grave, incentivados por médicos apoiadores de Bolsonaro.
“A CPI proporcionou antecipar o cronograma de vacinas, pressionou para que tivesse vacinas para todos os brasileiros, impedimos que tivesse esquemas de corrupção bilionários montados no Palácio do Planalto”, lembrou o senador Rogério Carvalho (PT-SE), membro da CPI.
“Essa CPI trouxe luzes sobre os fatos acontecidos em toda a pandemia e conseguiu provar uma tese central: a estratégia escolhida pelo governo Bolsonaro para a superação da pandemia foi a busca da imunidade coletiva pela transmissão da doença”, apontou o senador Humberto Costa (PT-PE). “E nós conseguimos provar isso. O que representa um crime com dolo eventual. Espero que a justiça seja feita e eles possam pagar por esses crimes”.
Ômicron, nova ameaça
Apesar do relativo sucesso da campanha de vacinação, a variante ômicron representa uma grave ameaça para o controle da pandemia e pode colocar os sistemas de saúde de joelhos novamente. No fim de semana, o Brasil registrou quase 50 mil novos casos em um único dia. A média de infecções disparou, subindo 792% em duas semanas, aponta o consórcio de veículos de imprensa. O total de contaminados passa de 22,9 milhões. A média móvel de casos segue pelo terceiro dia consecutivo acima de 60 mil, batendo 68 mil diagnósticos positivos.
Na semana passada, o Observatório Covid-19 Fiocruz alertou para uma alta na ocupação de leitos de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país. Boletim do 10 dia de janeiro informava que um terço das Unidades Federativas e dez capitais estão nas “zonas de alerta intermediário e crítico”.
O quadro relatado nos estados preocupa especialistas. Pernambuco (82%) está na zona de alerta crítico. Já Pará (71%), Tocantins (61%), Piauí (66%), Ceará (68%), Bahia (63%), Espírito Santo (71%), Goiás (67%) e o Distrito Federal (74%) encontram-se na zona de alerta intermediário. Para as capitais, Fortaleza (88%), Recife (80%), Belo Horizonte (84%) e Goiânia (94%) entraram em alerta crítico. Porto Velho (76%), Macapá (60%), Maceió (68%), Salvador (68%), Vitória (77%) e Brasília (74%) mantiveram-se na zona de alerta intermediário.
Já a última edição do Boletim InfoGripe, divulgada no sábado (15), confirma que houve um aumento de 135% casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) entre as últimas três semanas de novembro e as do período entre fim de dezembro e a primeira quinzena de janeiro. O salto foi de 5,6 mil casos para 13 mil. “A velocidade com que com que a SRAG se espalha entre a população cresceu, semanalmente, de 4% para 30%”, declarou o pesquisador Marcelo Gomes, responsável pelo InfoGripe, ao site de notícias da instituição.
Da Redação da Agência PT, com Poder 360 e Fiocruz