Menos de 24 horas depois de autorizar a abertura de inquérito contra o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), para apurar a suspeita de que o tucano recebeu propina de Furnas, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu a investigação. Aécio Neves é acusado de ser beneficiário de um suposto esquema de corrupção na Companhia Energética de Minas Gerais (Furnas) para abastecer as eleições de 2002 do PSDB. Segundo a lista do lobista Nilton Monteiro, autenticada pela Polícia Federal, Aécio Neves recebeu R$ 5,5 milhões.
A blindagem de Aécio foi considerada uma vergonha pelos deputados da Bancada do PT na Câmara. “Infelizmente esse era jogo de cartas marcadas por causa do relator. Não é novidade para nenhum brasileiro que o Gilmar Mendes está no STF a serviço do PSDB”, afirmou o deputado Padre João (PT-MG).
Padre João observou que a suspensão das investigações e coletas de provas contra o senador tucano derrotado nas últimas eleições presidenciais, solicitadas pela Procuradoria-Geral da República, aconteceu no dia seguinte da tomada do governo federal pelos golpistas. “Os frutos do golpe começaram. A corrupção já está indo para debaixo do tapete. E não ouço barulho de panelas. Agora será um jogo de empurra, empurra e desmoralização da justiça”, criticou.
Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) o ministro Gilmar Mendes é um “tucano de toga” que há muito tempo deveria ter assumido a sua posição de militante do PSDB. E essa atitude de suspender a investigação, proibindo a coleta de provas em relação ao Aécio Neves, suspendendo até depoimento, é algo que pode ser classificado como um tapa na cara do povo brasileiro. “É um escárnio, um deboche o que o Gilmar Mendes esta fazendo e nós temos que denunciar. Ele tem que ser responsabilizado por essa impunidade, por essa seletividade”, afirmou.
A super blindagem de Aécio Neves também foi considerada pelo deputado Luiz Couto (PT-PB) um deboche com o povo brasileiro. “Colocar um ministro que não esconde a sua relação estreita com o PSDB para relatar o caso é uma vergonha, um deboche”, criticou. Luiz Couto disse que está na hora do Conselho Nacional de Justiça se manifestar, tomar uma providência. “Não pode ser natural um ministro agir com tanta parcialidade, com tanta seletividade”, protestou.
Para a deputada Margarida Salamão (PT-MG), a população brasileira foi iludida a pensar que o Supremo iria investigar, sem seletividade, todos os políticos envolvidos em corrupção. “É um acinte à inteligência do povo brasileiro. A abertura de inquérito contra o tucano Aécio Neves durou menos de 24 horas”, lamentou.
Na avaliação da deputada Margarida, a luta contra a corrupção deveria ser uma obrigação e não apenas uma hipócrita bandeira eleitoral. “O discurso moralista quase sempre é seletivo e descompromissado com a verdade. E a cada dia que passa é mais perceptível o golpe que deram contra a presidenta eleita Dilma Rousseff”. A deputada do PT mineiro lembrou ainda que vários ministros do presidente golpista interino, Michel Temer, estão envolvidos em casos de corrupção. “O próprio Temer é considerado ficha suja e está inelegível”, enfatizou.
“É uma decisão absurda”, reagiu o deputado Givaldo Vieira (PT-ES), que observou que, além de ser uma justiça seletiva, ela vem agindo com foco endereçado a prejudicar o PT. “É uma justiça que tem sido rápida para punir o PT e tem demorado muito em outras situações, foi assim no caso do afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), demorou a ter uma providência contra Aécio, que só aconteceu agora, depois de oito delatores confirmarem que ele recebeu propina no esquema de Furnas. E vem o Gilmar Mendes e o protege com essa medida que nós temos que repudiar”, afirmou.
O deputado Bohn Gass (PT-RS) também se manifestou contra a suspensão da investigação. “Nós não podemos aceitar essa parcialidade da Suprema Corte”, defendeu, lembrando as inúmeras vezes que Aécio foi citado nas delações premiadas da Lava-Jato. “Tem que aprofundar, ir fundo nas investigações”, acrescentou.
Pedido do Janot – O envolvimento de Aécio Neves no esquema de Furnas havia sido mencionado pelo doleiro Alberto Youssef em delação premiada. Mas, à época, a menção ao tucano foi arquivada a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que considerou que as informações do delator eram insuficientes. Agora, a delação do ex-senador Delcídio do Amaral (sem-partido) trouxe elementos novos e corroboraram fatos narrados por Youssef, o que justificaria a abertura do inquérito, argumento Jonot, no pedido de abertura de inquérito contra o tucano.
Delcídio Amaral disse que “sem dúvida” o tucano recebeu propina em um esquema de corrupção em Furnas que, segundo ele, era semelhante ao da Petrobras, envolvendo inclusive as mesmas empreiteiras.
Devolução – Na decisão que barra o avanço do inquérito, o ministro Gilmar Mendes manda o pedido de apuração de volta para o procurador-geral da República para sua reavaliação.
Vânia Rodrigues
Charge: Pataxó